Ainda
a noite é uma criança e o nascer do dia a algumas horas de
distância, é vê-los
sair das suas
igrejas,
e é assim todos os anos pela Quaresma. São os romeiros, homens de
barba rija e crianças valentes, que durante
longos dias,
deixam os seus confortos, as suas casas, os seus bens materiais e
especialmente a sua família, negando-se
a si mesmos, tomando as suas cruzes e seguindo-O1,
entoando orações e cânticos dolentes melodiosamente gregorianos.
Em
duas alas, seguem Aquele
que vai à frente, levando o terço numa mão e o bordão na outra.
Lado a lado, irmão a irmão e entre irmãos, bordão a bordão. Mas
acompanhar pressupõe delicadeza e todo o respeito possível para com
o outro, o que vai há frente, ou que vai ao lado ou o que vai atrás
(pelo menos), isto é, em romaria e enquanto se caminha com o terço
numa mão e o bordão na outra, não devemos criar ruídos
de fundo,
para que o irmão que reza, reze verdadeiramente e possa escuta-Lo em
profundidade, seja no silêncio da oração, nos aromas que pairam no
ar ou na brisa que passa.
É
preciso aprender ou relembramo-nos a “descalçar
sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro”2
e “dar
ao nosso caminhar o ritmo salutar da proximidade, com um olhar
respeitoso e cheio de compaixão, mas que ao mesmo tempo cure,
liberte e anime a amadurecer na vida cristã”3.
É
preciso acompanhar o irmão que nos acompanha com misericórdia não
só nas etapas do seu crescimento como também nas nossas, porque um
pequeno passo no meio das nossas limitações, poderá ser mais
agradável a Deus do que tudo o resto. Um pequeno passo poderá
apenas
ser, saber respeitar o silêncio e a oração do outro que nos
acompanha em romaria. “A
oração deverá ser feita, na medida do possível, numa situação
de serenidade de espírito e, portanto, no silêncio e com a alma
livre de qualquer ansiedade”, como
escreveu Santa Ângela de Foligno.
Termino,
relembrando a todos os irmãos romeiros, começando por mim que “O
cristianismo é uma religião de relação. Há regras, há normas,
há cânones, há tudo isso... Mas se não assentam sobre uma relação
pessoal com Deus, com Jesus Cristo, são como o bronze que ressoa,
para usar um termo evangélico”4.
Paulo
Roldão
(um
irmão romeiro, como os demais)
1 -
Lc 9, 23
2
- Ex 3,5
3
- EG 169
4
- Excerto da introdução do livro “Que fazes aí fechada?” de
Filipe D`Avillez
Sem comentários:
Enviar um comentário