quarta-feira, 31 de março de 2021

43. Quarta-feira santa: Três ensinamentos místicos no Lava-Pés


 Quarta-feira santa


"Depois lançou água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a

limpar-lhos com a toalha com que estava cingido" (Jo 13, 5)


Nesta passagem podemos tirar três ensinamentos místicos:

1. A água que lançou numa bacia significa a efusão de seu sangue na

terra. Com efeito, o sangue de Jesus pode ser chamado água, pois tem poder

para lavar.

E foi por isso que, na cruz, saiu de seu lado traspassado sangue e água,

para dar a compreender que seu sangue tem poder para lavar os pecados.

Também podemos compreender, pela água, a Paixão de Cristo. "lançou água

numa bacia", i. é, imprimiu a memória da sua Paixão nas almas dos fiéis pela

fé e pela devoção. "Lembra-te da minha pobreza e tribulação - absinto e fel

que me fazem beber" (Lm 3, 19).

2. Ao dizer "começou a lavar os pés dos discípulos", faz alusão à

imperfeição humana; pois os Apóstolos, depois de Cristo, eram os mais

perfeitos e, no entanto, precisavam ser purificados, pois tinham algumas

impurezas. Isso nos mostra que o homem, por melhor que seja, tem

necessidade de se aperfeiçoar; e que contrai algumas manchas, conforme

aquilo dos Provérbios (20, 9): "Quem pode dizer: O meu coração está puro,

estou limpo do pecado?". Contudo, estão sujos apenas nos pés.

Outros, ao contrário, não estão sujos apenas nos pés, estão totalmente

sujos. Ora, os que jazem no chão sujam-se totalmente com as imundices da

terra. Do mesmo modo, sujam-se totalmente os que se apegam totalmente

às coisas da terra, já pelo sentimento, já pelos sentidos.

Mas os que estão de pé, ou seja, os que buscam as coisas céu com o

espírito e o coração, estão sujos apenas nos pés. Ora, assim como o homem

de pé precisa ao menos tocar a terra com os pés para sustentar-se, nós,

enquanto vivermos nessa vida mortal, que precisa das coisas terrestres para

o sustento do corpo, contraímos algumas manchas, ao menos pelos sentidos.

Por isso o Senhor recomenda aos discípulos sacudir o pó dos seus pés (Lc 9,

5).

Diz o Evangelho: "começou a lavar", pois a ablução dos afetos terrenos

começa aqui embaixo, e é consumada no futuro.

Assim, a efusão de seu sangue é significada pelo ter vertido a água numa

bacia; e a ablução de nossos pecados, pelo ter começado a lavar os pés dos

discípulos.

3. Finalmente, vê-se a aceitação de nossas penas sobre ele mesmo. Cristo

não apenas limpou nossas manchas, mas tomou sobre si mesmo as penas

incorridas pelas nossas faltas. Nossas penas e nossa penitência seriam

insuficientes, se não tivessem por fundamento o mérito e a eficácia da Paixão

de Cristo. O que é significado pelo ter secado os pés dos discípulos com um

linho, i. é, o linho de seu corpo.


In Joan XIII.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

terça-feira, 30 de março de 2021

42. Terça-feira santa: Preparação de Cristo ao Lava-Pés


 Terça-feira santa


"levantou-se da ceia e depôs o seu manto, e, pegando numa toalha, cingiu-se

com ela." (Jo 13, 4)

I. — Cristo mostra-se servidor, abraçando uma tarefa humilde, conforme

aquilo do Evangelho (Mt 20, 28): "o Filho do homem não veio para ser

servido, mas para servir".

Três coisas fazem o bom servidor:

1. Que seja circunspeto, para enxergar tudo o que seu serviço demanda.

Isso certamente não se daria se o servidor estivesse sentado ou deitado. A

atitude própria do servidor é a de permanecer de pé, por isso Cristo

"levantou-se da ceia". "Qual é o maior, o que está à mesa, ou o que serve?" (Lc

22, 27)

2. Que se desembarace de tudo, afim de poder cumprir apropriadamente o

seu serviço, o que seria muito dificultado pela multidão do vestuário. É por

isso que o Senhor depôs o seu manto. Isso está figurado no livro do Gênesis

(17) quando Abraão escolhe os escravos mais desimpedidos.

3. Que esteja pronto a servir, ou seja, que tenha tudo o que é necessário

para o seu serviço. De Marta lemos no Evangelho (Lc 10, 40),afadigava-se

muito na continua lida da casa. Por isso o Senhor pegando numa toalha,

cingiu-se com ela, para estar pronto, não somente para lavar os pés, mas para

secá-los.

Que nós saibamos calcar os pés sobre nosso orgulho, pois aquele que veio de

Deus e a ele vai, lavou os pés.

II. — "Depois lançou água numa bacia e começou a lavar os pés dos

discípulos".

Eis o serviço do Cristo, no qual de três modos sobressalta a sua humildade:

1. Quanto ao gênero do serviço, que é bastante humilde: é o Deus de

Majestade que se inclina para lavar os pés aos servidores.

2. Quanto à multidão dos serviços, pois ele derrama a água, lava os pés, seca

etc.

3. Quanto à maneira de proceder, pois não o fez por meio de outros, nem

com assistentes, mas sozinho. "Quanto maior és, mais te deves humilhar em

todas as coisas" (Ecl 3, 20).


In Joan., XIII

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

segunda-feira, 29 de março de 2021

41. Segunda-feira santa: Necessidade de uma perfeita purificação


 segunda-feira santa


I. — "Se eu não os lavar, não terás parte comigo". Ninguém pode ser coherdeiro

de Cristo e participar da herança eterna sem se purificar

espiritualmente, como está dito nas Escrituras: (Ap 21, 27), "não entrará nela

coisa alguma contaminada" e "quem estará no seu lugar santo? O inocente de

mãos e limpo de coração" (Sl 23, 3-4). É como se Nosso Senhor dissesse: Se

eu não os lavar, não estarás puro, e se não estiveres puro, não terás parte

comigo.

II. — "Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também

as mãos e a cabeça".Conturbado, Pedro oferece-se todo para a ablução, cheio

de amor e temor. Como se lê no Itinerário de S. Clemente, Pedro estava a tal

ponto ligado à presença corporal de Cristo, que com tanto fervor amava,

que, após a Ascensão, ao lembrar-se da doçura extrema da sua presença e da

santidade de sua vida, arrebentava em lágrimas, ao ponto de suas pálpebras

parecerem queimadas.

Todo homem possui três coisas: a cabeça, no topo; os pés, embaixo; as mãos,

no meio. Do mesmo modo, o homem interior, ou a alma: a cabeça é a razão

superior, pela qual o homem adere a Deus; as mãos são a razão inferior, com

a qual o homem se dedica à vida ativa; os pés são a sensualidade. O Senhor,

porém, sabia que os discípulos estavam puros quanto à cabeça, pois estavam

unidos a Deus pela fé e caridade; puros também quanto às mãos, pois suas

obras eram santas. Quanto aos pés, tinham alguns apegos terrestres, por

sensualidade.

Pedro, porém, temendo a ameaça de Cristo, consente, não apenas na ablução

dos pés, mas ainda das mãos e da cabeça: "Senhor, não somente os meus pés,

mas também as mãos e a cabeça". É como se dissesse: ignoro se estão sujas

minhas mãos e cabeça; de nada me sinto culpado, mas nem por isso me dou

por justificado (1 Cor 4, 4). Por isso, estou pronto para purificar não somente

os meus pés, i. é, dos apegos inferiores, mas também as mãos, i. é, as obras e a

cabeça, i. é, a razão superior.

III. — Jesus lhe diz: Aquele que se lavou não tem necessidade de lavar senão

os pés, pois todo ele está limpo. Diz Orígenes que eles estavam limpos, mas

que ainda precisavam de uma purificação maior, pois a razão deve sempre

aspirar aos dons mais perfeitos, subir ao cume das virtudes e resplender com

o alvor da justiça. "aquele que é santo, santifique-se mais" (Ap 22, 11).


In Joan., XIII

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

domingo, 28 de março de 2021

40. Domingo de Ramos: Utilidade da Paixão de Cristo como exemplo


 Domingo de Ramos


Como disse S. Agostinho: "A Paixão de Cristo é suficiente para ser modelo de

toda a nossa vida". Quem quer que queira ser perfeito na vida, nada mais é

necessário fazer senão desprezar o que Cristo desprezou na cruz, e desejar o

que nela Ele desejou. Nenhum exemplo de virtude deixa de estar presente na

cruz.

Se nelas buscas um exemplo de caridade, "ninguém tem maior caridade do

que aquele que dá sua vida pelos amigos" (Jo 15, 13). Ora, foi o que Cristo fez

na cruz. Por isso, já que Cristo entregou a sua vida por nós, não nos deve ser

pesado suportar toda espécie de males por amor a Ele. "O que retribuirei ao

Senhor, por todas as coisas que Ele me deu?" (Ps. 115, 12).

Se procuras na cruz um exemplo de paciência, nela encontrarás uma imensa

paciência. A paciência manifesta-se extraordinária de dois modos: ou

quando alguém suporta grandes males pacientemente, ou quando suporta

aquilo que poderia ser evitado e não quis evitar. Cristo na cruz suportou

grandes sofrimentos: "Ó vós todos que passais pelo caminho parai e vede se há

dor igual à minha!" (Lm 1, 17), e os suportou pacientemente, "como a ovelha

levada para o matadouro e como o cordeiro silencioso na tosquia" (1 Pd 2, 23).

Cristo na cruz suportou também os males que poderia ter evitado, mas não

os evitou: "Julgais que não posso rogar a meu Pai e que Ele logo não me envie

mais que doze legiões de Anjos?" (Mt 26, 53). Realmente, a paciência de

Cristo na cruz foi imensa! "Corramos com paciência para o combate que nos

espera, com os olhos fitos em Jesus, o autor da nossa fé, que a levará ao termo:

Ele que, lhe tendo sido oferecida a alegria, suportou a cruz sem levar em

consideração a sua humilhação" (Heb 36, 17).

Se desejares ver na cruz um exemplo de humildade, basta-te olhar para o

crucifixo. Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer: "A vossa causa,

Senhor, foi julgada como a de um ímpio" (Jo 36, 17). Sim, de um ímpio,

porque disseram: "Condenemo-lo a uma morte muito vergonhosa" (Sb 2, 20).

O Senhor quis morrer pelo seu servo, e Aquele que dá a vida aos Anjos, pelo

homem: "Fez-se obediente até à morte" (Fl 2, 8)

Se queres na cruz um exemplo de obediência, segue Àquele que se fez

obediente ao pai, até à morte: "Assim como pela desobediência de um só

homem, muitos se tornaram pecadores; também pela obediência de um só

homem, muitos se tornaram justos" (Rm 5, 19).

Se na cruz estás procurando um exemplo de desprezo das coisas terrenas,

segue Àquele que é o Rei e o Senhor dos Senhores no qual estão os tesouros

da sabedoria, mas que na cruz aparece nu, ridicularizado, escarrado,

flagelado, coroado de espinhos, na sede saciado com fel e vinagre e morto.

Não deves te apegar às vestes e às riquezas, "porque dividiram entre si as

minhas vestes" (Sl 29, 19); nem às honras, porque "Eu suportei as zombarias e

os açoites"; nem às dignidades, porque "puseram em minha cabeça uma coroa

de espinhos que trançaram"; nem às delícias, porque "na minha sede deramme

vinagre para beber" (Sl 68, 22)


In Symb.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

sábado, 27 de março de 2021

39. Sábado depois do I domingo da Paixão: De que modo devemos lavar os pés uns dos outros?


 sábado da I semana da Paixão


"Se eu, pois, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés

uns aos outros" (Jo 13, 14)


Nosso Senhor quer que seu exemplo seja imitado pelos discípulos. Ele diz:

"Se eu", que sou maior que vós, pois sou Senhor e Mestre, "vos lavei os pés,

também vós", por muito maior razão, pois sois discípulos e servos, "deveis

lavar os pés uns aos outros". Noutra parte, lemos (Mt 20, 26): "todo o que

quiser ser entre vós o maior, seja vosso servo... assim como o Filho do homem

não veio para ser servido, mas para servir".

Segundo Agostinho, todo homem deve lavar os pés aos outros já

corporalmente, já espiritualmente. É muito melhor e sem dúvida mais

verdadeiro lavar os pés realmente; que os cristãos não desdenhem fazer o

que o próprio Cristo fez: quando o corpo se inclina para os pés de um irmão,

o sentimento de benevolência se ascende em seu coração. E se já se possuía

este sentimento, ele é confirmado. Porém, se não lavamos realmente os pés

uns aos outros, façamo-lo ao menos no coração. Ora, pelo lava-pés devemos

entender a limpeza das faltas. Assim, portanto, lavemos espiritualmente os

pés de nossos irmãos e, de todo coração, lavemos suas manchas.

Ora, isto se faz de três modos:

1. Perdoando suas ofensas, segundo aquilo do Apóstolo (Cl 3, 13): "se

algum tem razão de queixa contra o outros: assim como o Senhor vos perdoou

a vós, assim também vós deveis perdoar aos outros."

2. Rezando pelos seus pecados: "orai uns pelos outros, para serdes salvos"

(Tg 5, 16).

3. O terceiro modo diz respeito aos prelados, que devem lavar os pés

perdoando os pecados com a autoridade das chaves, conforme o Evangelho

(Jo 20, 22): "Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados,

ser-lhes-ão perdoados."

Podemos ainda dizer que, pelo lava-pés, o Senhor nos mostra todas as

obras de misericórdia. Pois, quem dá o pão a quem tem fome, lava-lhe os

pés; do mesmo modo, quem acolhe os viajantes, veste os nus e assim por

diante, "tomando parte nas necessidades dos santos" (Rm 12, 13).


In Joan., XIII..

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

sexta-feira, 26 de março de 2021

38. Sexta-feira depois do I domingo da Paixão: A compaixão de Nossa Senhora


 sexta-feira da I semana da Paixão


"E uma espada trespassará a tua alma" (Lc 2, 35)

Estas palavras assinalam a grande compaixão de Nossa Senhora pelo Cristo.

Quatro coisas tornaram a Paixão de Cristo sobretudo amargas à mãe de

Cristo:

1. A bondade de seu Filho: "ele não cometeu pecado, nem se encontrou

engano na sua boca" (1 Pd 2, 22);

2. A crueldade dos verdugos, que se evidencia ao terem se recusado a darlhe

água na sua agonia e impedido que lho desse sua mãe, que

diligentemente daria.

3. A ignomínia do suplício. "Condenemo-lo a uma morte infame", diz o

livro da Sabedoria (2, 20).

4. A atrocidade dos tormentos: "Ó vós todos que passais pelo caminho,

atendei e vede se há dor semelhante à dor que me atormenta"(Lm 1, 12).

Serm.

Quanto às palavras do velho Simeão: "uma espada trespassará a tua alma",

Orígines e outros doutores as aplicam à dor sofrida por Cristo na Paixão.

Quanto a Ambrósio, pela espada entende significar a prudência de Maria,

não ignorante do mistério celeste. Pois, vivo é o verbo de Deus, válido e mais

agudo que toda espada de dois gumes.

Outros, porém, entendem por isso a espada da dúvida, não devendo, porém,

entender-se por esta uma dúvida culpável contra a fé, mas a da admiração e

da discussão. Assim diz Basílio: a Santa Virgem, aos pés da cruz e

presenciando tudo o que se passou, depois mesmo do testemunho de Gabriel,

depois do inefável conhecimento da divina concepção, depois da ingente

realização dos milagres, flutuava na sua alma, vendo, de um lado, as

humilhações que sofria seu Filho e, de outro, as maravilhas que realizava.

IIIa q. XXVII, a. IV, 2um

Mesmo sabendo pela fé que Deus queria que Cristo sofresse, e ainda que

conformasse sua vontade à vontade divina quanto à coisa desejada, como

fazem os perfeitos, a Virgem Maria se entristecia pela morte de Cristo,

enquanto sua vontade inferior repugnava esta coisa particularmente

desejada; e isto não é contrário à perfeição.


1 Dist. 48, q. única, a. III

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

quinta-feira, 25 de março de 2021

37. Quinta-feira depois do I domingo da Paixão: O Sinal maior do amor de Cristo


 quinta-feira da I semana da Paixão


Aparentemente, a maior prova do amor de Cristo por nós foi o ter dado seu

corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós, pois a caridade da Pátria é

mais perfeita que a caridade da Via. Ora, este benefício com que Deus nos

agraciou, ao nos dar seu corpo como alimento, é mais similar à caridade da

Pátria, onde gozaremos plenamente de Deus, enquanto a Paixão a que Cristo

se submeteu mais se assemelha à caridade da Via, onde nos expomos a

morrer por Cristo. Assim, pois, a maior prova de amor de Cristo seria o ter

nos dado seu corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós.

Contudo, lemos no Evangelho (Jo 15, 13): "Não há maior amor do que dar a

própria vida pelos seus amigos".

Solução: No que diz respeito ao amor humano, nada ultrapassa o amor com

que nos amamos a nós mesmos, por isso este amor é a medida de todo amor

que sentimos pelos demais. Ora, o característico do amor com que nos

amamos a nós mesmos, é o querer o bem a nós mesmos. Portanto, o amor

ao próximo será tanto mais evidente quanto mais preterirmos em seu

proveito o bem que desejamos para nós, como aquilo das Escrituras (Pr 12,

26): "Aquele que por amor do seu amigo não repara em sofrer alguma perda, é

justo".

Ora, o homem quer para si mesmo um triplo bem particular: sua alma, seu

corpo, os bens exteriores.

Suportar algum prejuízo nos bens exteriores por causa de outrem é sinal

de amor.

Sofrer corporalmente por outrem, em trabalhos ou agressões, é sinal

ainda maior de amor.

Contudo, abandonar sua alma e morrer pelo amigo, eis o sinal máximo

de amor.

Assim, ao sofrer e morrer por nós, Cristo nos deu a maior prova de seu

amor. Ao nos dar seu próprio corpo como alimento, o fez sem nenhum

detrimento próprio.

A Paixão é a maior prova do amor de Deus. Por isso a Eucaristia é memorial

e figura da Paixão de Cristo. Ora, a verdade se superpõe à figura e a

realidade, ao memorial.

A produção do corpo de Cristo no Santo Sacramento é figura do amor com

que Deus nos ama na Pátria; mas a Paixão de Cristo pertence ao amor

mesmo de Deus, que nos tirou da perdição para nos levar a si. O amor de

Deus não é maior no céu que no presente.


Quodl. V, q. III, a. II.

quarta-feira, 24 de março de 2021

36. Quarta-feira depois do I domingo da Paixão: O Sepulcro Espiritual *


 quarta-feira da I semana da Paixão


A contemplação das coisas celestes é representada pelo sepulcro. Por isso,

sobre a passagem das Escrituras (Jó 3, 22): "e ficam transportados de alegria,

quando encontram o sepulcro?", comenta são Gregório: na contemplação das

coisas divinas, a alma, morta para o mundo, esconde-se como um corpo na

sepultura e, longe de toda inquietação do século, repousa por três dias como

que por uma tripla imersão. Os atribulados e vexados pelos insultos dos

homens, ao entrar em espírito na presença de Deus, não mais se sentem

atribulados, conforme aquilo do salmista (Sl 30, 21): "Sob a proteção do teu

rosto os defendes das conjuras dos homens".

Três coisas são necessárias para este sepulcro espiritual em Deus: que a

alma pratique as virtudes, torne-se toda pura e branca e morra

radicalmente para o mundo. Todas estas condições se encontram

misticamente presentes na sepultura de Cristo.

1. A primeira encontramos em são Marcos (14, 8), no lugar em que se diz

que Maria Madalena embalsamou com antecipação a sepultura de Jesus:

o balsamo precioso de nardo significa as virtudes que possuem grande

preço. Nada nesta vida é mais precioso que as virtudes. Por isso, a alma

santa que quer ser embalsamada na divina contemplação, deve antes de mais

nada receber o balsamo pelo exercício das virtudes. Assim dizia Jó (5,

26): "Entrarás, na maturidade, no sepulcro..." —a que acrescenta a Glosa: da

divina contemplação — "...como um feixe de trigo colhido a seu

tempo." — novamente a Glosa: porque o tempo da ação tem por recompensa a

eterna contemplação; e é preciso que o perfeito exercite antes sua alma nas

virtudes para guardá-la em seguida no celeiro do repouso.

2. A segunda encontramos também em são Marcos (15, 40), no lugar em

que se diz que José comprou um sudário, pois o sudário é uma peça de

linho, e o linho só se embranquece com muito trabalho. Daí vêm o

simbolizar a candura da alma, à qual só conquistamos com muito trabalho.

Lê-se no Apocalipse (22, 11), "aquele que é justo justifique-se mais; aquele

que é santo, santifique-se mais". São Paulo dizia aos romanos (6, 4): "Nós

fomos, pois, sepultados com ele, a fim de morrer pelo batismo, para que, assim

como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim nós vivamos uma

vida nova", progredindo do bem ao melhor, pela justiça da fé, na esperança

da glória. Assim, devem os homens guardarem-se no sepulcro da divina

contemplação pelo candor da pureza interior. Por isso, sobre aquilo da

Escritura (Mt 5, 8): "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a

Deus", disse são Jerônimo: o Senhor, que é puro, é visto pelo coração puro.

3. A terceira encontramos em são João (19, 39), quando diz "Nicodemos,

o que tinha ido primeiramente de noite ter com Jesus, foi também, levando

uma composição de quase cem libras de mirra e de aloés". As cem libras de

mirra e de aloés, pelas quais o corpo morto conserva-se sem se

corromper, significam a mortificação perfeita dos sentidos exteriores,

pela qual a alma, morta para o mundo, conserva-se sem se corromper

pelos vícios; segundo esta palavra de são Paulo (2 Cor 4, 16): "embora se

destrua em nós o homem exterior, todavia o homem interior vai-se renovando

de dia para dia", ou seja, torna-se cada vez mais puro de vícios pelo fogo da

tribulação.

Por isso, a alma do homem deve, antes de mais nada, morrer para este

mundo com Cristo e, sem seguido, ser sepultada com ele, no segredo da

contemplação. São Paulo o dizia aos Colossenses (3, 3): "estais mortos para

as coisas terrenas e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus".


De Humanitate Christi, cap. XLII

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

terça-feira, 23 de março de 2021

35. Terça-feira depois do I domingo da Paixão: O Sepulcro de Cristo


 terça-feira da I semana da Paixão


«Porque molestais esta mulher? Ela fez-me verdadeiramente uma boa obra...

derramando ela este bálsamo sobre o meu corpo, fê-lo como para me sepultar»

(Mt 26, 10-12)


Era conveniente que Cristo fosse sepultado.

1. Primeiro, para comprovar a verdade da sua morte; pois, ninguém é

posto num sepulcro senão quando consta que está verdadeiramente morto.

Por isso no Evangelho (Mc 15, 44-45), se lê que Pilatos, antes de permitir

que Cristo fosse sepultado, procurou saber por uma inquisição diligente, se

estava morto.

2. Segundo, porque tendo ressurgido do sepulcro, deu a esperança de

ressurgir, por meio dele, aos que estão sepultos, segundo aquilo do

Evangelho (Jo 5, 28): "Todos os que se acham nos sepulcros ouvirão a voz do

Filho de Deus".

3. Terceiro, para exemplo dos que, pela morte de Cristo, morreram

espiritualmente aos pecados, conforme aquilo da Escritura (Sl 30,

21): "Estão escondidos contra a turbação dos homens". Por isso diz o Apóstolo

(Cl 3, 3): "Já estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em

Deus". E assim também os batizados, que pela morte de Cristo morreram

aos pecados, são como consepultos com Cristo, pela imersão, segundo o

Apóstolo (Rm 6, 4): "Nós fomos sepultados com Cristo para morrer pelo

batismo".

*

Assim como a morte de Cristo obrou eficientemente a nossa salvação,

também a sua sepultura. Por isso diz Jerônimo: Ressurgimos pela sepultura

de Cristo. E aquilo da Escritura (Is 53, 9): "E dará os ímpios pela sepultura",

diz a Glosa: i. é, as gentes, que não tinham a piedade, da-los-á a Deus Padre,

porque os ganhou pela sua morte.

*

De Cristo diz a Escritura (Sl 87, 6): "Chegou a ser homem como sem socorro,

livre entre os mortos". Ora, Nosso Senhor mostrou que mesmo sepulto entre

os mortos era livre, pelo fato da inclusão do sepulcro não ter podido impedilo

de sair dele pela ressurreição.


IIIa q. LI a. 1

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

segunda-feira, 22 de março de 2021

34. Segunda-feira depois do I domingo da Paixão: A Paixão de Cristo é remédio contra todos os pecados


 segunda-feira da I semana da Paixão


A todos os males que contraímos pelo pecado, encontramos remédio na

Paixão de Cristo. Contraímos pelo pecado cinco males:

O primeiro, é a própria mancha do pecado. Quando um homem peca,

conspurca a sua alma, porque, como a virtude embeleza, o pecado a enfeia.

Lê-se em Barruch: "Por que estás, ó Israel, na terra dos inimigos, e te

contaminaste com os mortos?" (Br 3, 10).

Mas a Paixão de Cristo lavou esta mancha. Cristo, na sua Paixão, fez do

seu sangue um banho para nele lavar os pecadores: "Lava-os do pecado no

sangue" (Ap 1, 5). No Batismo a alma é lavada no Sangue de Cristo, por que

este recebe do Sangue de Cristo a força regeneradora. Por isso, quando

alguém batizado se macula pelo pecado, faz uma injúria a Cristo e o seu

pecado é maior que o cometido antes do batismo. Lê-se na Carta aos

Hebreus: "O que desprezou a lei de Moisés, após ouvido o testemunho de dois

ou três, deve morrer" (Heb 10, 28-29). Como não deve merecer maiores

suplícios, aquele que pisou no Sangue do Filho de Deus e considerou impuro

o Sangue da Aliança?

O segundo mal que contraímos pelo pecado é nos tornarmos objeto da

aversão de Deus. Assim como quem é carnal ama a beleza da carne, do

mesmo modo Deus ama a beleza espiritual, que é a beleza da alma. Quando,

por conseguinte, a alma se deixa contaminar pelo mal do pecado, Deus

fica ofendido e odeia o pecador. Lê-se no Livro da Sabedoria: "Deus odeia o

ímpio e a sua impiedade" (Sb 14, 9). Mas a Paixão de Cristo remove essas

coisas, por que ela satisfez ao Pai ofendido pelo pecado, cuja satisfação

não poderia vir do homem. A caridade e a obediência de Cristo foram

maiores que o pecado e a desobediência do primeiro homem.

O terceiro mal é a fraqueza. O homem, pecando pela primeira vez, pensa

que depois pode abster-se do pecado. Acontece, porém, o contrário:

debilita-se pelo primeiro pecado e fica inclinado a pecar mais. O pecado

vai dominando cada vez mais o homem, e este, por si mesmo, coloca-se em

tal estado que não pode mais se levantar. É como alguém que se lançou num

poço. Só pode sair dele pela força divina. Depois que o homem pecou, a

nossa natureza ficou debilitada, corrompida, e, por isso mesmo, ficou ele

mais inclinado para o pecado.

Mas Cristo diminuiu essa fraqueza e debilidade, bem que não as tenha

totalmente apagado.

O homem foi fortalecido pela Paixão de Cristo e o pecado, enfraquecido, de

sorte que este não mais o dominará. Pode, por esse motivo, auxiliado pela

graça divina, que é conferida pelos sacramentos cuja eficácia recebem da

Paixão de Cristo, esforçar-se para sair do pecado. Lê-se em S. Paulo: "O

nosso velho homem foi crucificado juntamente com Ele, para que fosse

destruído o corpo do pecado" (Rm 6, 6).Antes da Paixão de Cristo, poucos

havia sem pecado mortal. Mas, depois dela, muitos viveram e vivem sem

pecado mortal.

O quarto mal é a obrigação que temos de cumprir a pena do pecado. A

justiça de Deus exige que o pecado seja punido, e a pena é medida pela

culpa. Como a culpa do pecado é infinita, porque ela vai contra o bem

infinito, Deus, cujo mandamento o pecador desprezou, também a pena

devida ao pecado mortal é infinita.

Mas Cristo pela sua Paixão livrou-nos dessa pena, assumindo-a Ele

próprio. Confirma-o S. Pedro: "Os nossos pecados (i. é., a pena do

pecado) Ele carregou no seu corpo" (1 Pd 2, 24).

Foi de tal modo exuberante a virtude da Paixão de Cristo, que ela só foi

suficiente para expirar todos os pecados de todos os homens, mesmo que

fossem em número de milhões. Eis o motivo pelo qual aquele que foi

batizado, foi também purificado de todos os pecados. É também por este

motivo que os sacerdotes perdoam os pecados. Do mesmo modo, aquele

cujo sofrimento mais se assemelha ao da Paixão de Cristo, consegue um

maior perdão e merece maiores graças.

O quinto mal contraído pelo pecado foi nos termos tornados exilados do

reino do céu. É natural que aqueles que ofendem o rei sejam obrigados a

sair da pátria. O homem foi afastado do paraíso por causa do pecado: Adão

imediatamente após o pecado foi expulso do paraíso, e sua porta lhe foi

trancada. Mas Cristo, pela sua Paixão, abriu aquela porta e novamente

chamou os exilados para o reino. Quando foi aberto o lado de Cristo, foi

também a porta do paraíso aberta; quando o seu Sangue foi derramado, a

mancha foi apagada, Deus foi aplacado, a fraqueza foi afastada, a pena foi

expiada, e os exilados foram convocados para o reino. Por isso é que foi

logo dito ao ladrão: "Estarás hoje comigo no Paraíso" (Lc. 23, 43). Observe-se

que nesse momento não foi dito — outrora; que também não foi dito a

outrem — nem a Adão, nem a Abraão, nem a David; foi dito, hoje, isto é,

logo que a porta foi aberta, e o ladrão pediu e recebeu perdão. Lê-se na carta

aos Hebreus: "Confiantes na entrada no santuário pelo Sangue de Cristo"

(Heb. 10, 19). Fica assim esclarecido como a Paixão de Cristo foi útil,

enquanto remédio contra o pecado.


In Symb.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

domingo, 21 de março de 2021

33. Primeiro domingo da Paixão: A Paixão de Cristo


 Primeiro domingo da Paixão


«E como Moisés levantou no deserto a serpente, assim também importa que

seja levantado o Filho do homem, a fim de que todo o que crê nele tenha a

vida eterna.» (Jo 3, 14-15)

Aqui há três coisas que devemos considerar:

1. A figura da Paixão: "E como Moisés levantou no deserto a serpente". Ao

povo judeu, que dizia: "a nossa alma está enfastiada deste alimento

levíssimo" (Nm 21, 5), Deus, para lhes castigar, enviou serpentes. Em

seguida, ordenou que fizessem uma serpente de bronze como remédio

contra as serpentes e em figura da Paixão. É próprio da serpente possuir

veneno, mas a serpente de bronze não era venenosa. Do mesmo modo,

Cristo não tinha pecado, que é um veneno, mas assemelhou-se ao

pecador, conforme esta palavra de são Paulo: "enviou Deus seu Filho em

carne semelhante à do pecado" (Rm 8, 3). Por isso, Cristo produziu o efeito

da serpente de bronze contra o ímpeto das concupiscências abrasadas.

2. O modo da Paixão: "importa que seja levantado o Filho do homem", o que

se compreende do levantamento da cruz. Cristo quis morrer levantado:

a) Para purificar o céu. Pela santidade da sua vida, purificara já a terra,

restava purificar o ar.

b) Para triunfar sobre o demônio, que prepara a guerra nos ares.

c) Para atrair nossos corações a si: "Eu, quando for levantado da terra,

atrairei todos a mim" (Jo 12, 32).

Ao morrer na Cruz, foi exaltado, pois triunfou de seus inimigos, a ponto de

sua morte ser chamada exaltação. Diz o Salmo: "Beberá da torrente no

caminho, por isso levantará a sua cabeça" (Sl 109).

E foi a cruz a causa de sua exaltação, como diz são Paulo: "Humilhou-se a si

mesmo, feito obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o

exaltou" (Fl 2, 8)

3. O fruto da Paixão. O fruto é a vida eterna. Por isso diz: a fim de que todo

o que crê nele, e faça boas boas, não pereça, mas tenha a vida eterna". Este

fruto corresponde ao fruto figurado da serpente de bronze. Com efeito,

quem se voltasse para ela, curava-se do veneno e salvava sua vida. Volta-se

para o Filho do Homem exaltado na cruz quem crê em Cristo crucificado

e, assim, curando-se do veneno e do pecado, conserva-se para a vida

eterna.


In Joan, III

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

sábado, 20 de março de 2021

32. Sábado depois do IV domingo da Quaresma: O modo mais conveniente para a liberação do gênero humano


 Sábado depois do IV domingo da Quaresma


Tanto um meio é mais conveniente para conseguir um fim, quanto mais ele

faz concorrerem elementos conducentes ao fim. Ora, o ser o homem

liberado pela paixão de Cristo foi causa de concorrerem muitos elementos

conducentes à salvação do mesmo, além da liberação do pecado.


1. Assim, primeiro, desse modo o homem conhece quanto Deus o ama; o

que o excita a amá-lo mais, e nisso consiste a perfeição da salvação humana.

Donde o dizer o Apóstolo: "Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque

ainda quando éramos pecadores, morreu Cristo por nós" (Rm 5, 8).

2. Segundo, porque por esse meio nos deu o exemplo da obediência, da

humildade, da constância, da justiça e das demais virtudes, reveladas na

paixão de Cristo e que são necessárias à salvação humana. Por isso diz a

Escritura (1 Pd 2, 21): "Cristo padeceu por nós, deixando-vos exemplo para

que sigais as suas pisadas".

3. Terceiro, porque Cristo, com sua paixão, não somente liberou o homem

do pecado, mas ainda lhe mereceu a graça justificante e a glória da beatitude.

4. Quarto, porque, assim, uma necessidade maior impôs ao homem

conservar-se imune do pecado, segundo aquilo do Apóstolo (1 Cor 6,

20): "Porque vós fostes comprado por um grande preço; glorificai, pois, e trazei

a Deus no vosso corpo".

5. Quinto, porque contribuiu para maior dignidade do homem, de modo

que assim como fora vencido e enganado pelo diabo, assim também fosse ele

mesmo quem vencesse o diabo; e assim como o homem mereceu a morte,

assim também, morrendo, a vencesse a ela, conforme o dizer do Apóstolo (1

Cor 15, 57): "Graças a Deus, que nos deu a vitória, por Jesus Cristo".

Por isso foi mais conveniente que, pela paixão de Cristo fossemos liberados,

do que pela só vontade de Deus.


IIIa q. XLVI, a. 3

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

sexta-feira, 19 de março de 2021

31. Sexta-feira depois do IV domingo da Quaresma: O Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor


 Sexta-feira da IV semana da Quaresma

I. — Pelo sangue de Cristo, foi selado o Novo Testamento. "Este cálice é o

novo testamento no meu sangue" (1 Cor 11, 25).


Testamento compreende-se de dois modos:

- A palavra "testamento" é comumente utilizada para significar algum

pacto. Assim, Deus fez por duas vezes pactos com o gênero humano. Na

primeira vez, prometendo bens temporais e livrando-nos dos males

temporais; e este pacto é chamado Antigo Testamento. Na segunda vez,

prometendo bens espirituais e livrando-nos dos males contrários; e este

pacto é chamado Novo Testamento. Tudo isso conforme as Escrituras:

"Estão a chegar os dias, diz o Senhor, em que farei nova aliança com a casa de

Israel e com a casa de Judá, diferente da aliança que fiz com seus pais do

Egito (...) Eis a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz

o Senhor: Imprimirei a minha lei no seu íntimo, escrevê-la-ei nos seus

corações; serei o seu Deus e eles serão o meu povo" (Jr 31, 33).

Os antigos costumavam fundir o sangue de uma vítima para selar um pacto,

Moisés tomou sangue e o aspergiu sobre o povo, dizendo: Este é o sangue da

aliança que o Senhor firmou convosco. Assim, portanto, o antigo testamento

ou pacto foi selado no sangue de touros; o Novo Testamento ou pacto, no

sangue de Cristo, vertido em sua Paixão.

- A palavra "testamento" também é utilizada, de modo mais estrito, para

significar a disposição de uma herança. Ora, o testamento, nesta acepção,

não é recebido senão pela morte; pois, como diz são Paulo: "o testamento só

produz seu efeito em caso de morte, não tendo força enquanto vive o testador"

(Heb 9, 17). Deus inicialmente dispusera para uma herança eterna, mas, sob

a figura dos bens temporais; o que constitui o Antigo Testamento. Mas, em

seguida, fez um Novo Testamento, pelo qual prometeu expressamente a

herança eterna; e este Testamento foi selado pelo sangue da morte de Cristo.

E é por isso que disse o Senhor: "Este cálice é o Novo Testamento em meu

sangue, que será derramado por vós" (Lc 22, 20); como para dizer: pelo

conteúdo deste cálice, celebra-se o Novo Testamento, confirmado pelo

sangue de Cristo.

In I Cor, XI

II. — Existem outras utilidades do sangue de Cristo.

1. Purifica-nos de nossos pecados e imundices: "nos amou e nos lavou dos

nossos pecados no seu sangue" (Ap 1, 5).

2. Garante nossa redenção. "nos resgataste para Deus com o teu sangue" (Ap

5, 9).

3. Pacifica-nos com Deus e os anjos. "pacificando, pelo sangue da sua cruz,

tanto as coisas da terra como as coisas do céu" (Cl 1, 20).

4. Refrigera e inebria os que o tomam. "Bebei dele todos" (Mt 26, 28). E,

noutra parte,"Levou-o às alturas da terra... e ele bebeu o mais puro sangue da

uva" (Dt 32, 14).

5. Abriu as portas do céu. "Portanto, Irmãos, tendo nós confiança de entrar

no Santo dos Santos pelo sangue de Cristo" (Heb 10, 19), i. é, a oração

contínua dirigida a Deus em nosso proveito; pois o sangue clama a cada dia

por nós, como diz são Paulo: "Vós porém aproximaste-vos do monte de Sião e

da cidade de Deus vivo... e da aspersão daquele sangue que fala melhor que o

de Abel" (Heb 12, 24). O sangue de Abel clamou por vingança, o de de

Cristo, por perdão.

6. Libertou os santos do inferno, conforme aquilo das Escrituras: "Quanto

a ti, também, por causa do sangue da tua aliança, farei sair os teus cativos da

fossa em que não há água". (Zc 9, 11).


Serm. in Dom. de Passione

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

quinta-feira, 18 de março de 2021

30. Quinta-feira depois do IV domingo da Quaresma: A morte de Lázaro


 Quinta-feira da IV semana da Quaresma

«Nosso amigo Lázaro dorme» (Jo 11, 11)


I. Chamamos alguém de "Nosso amigo", por causa dos numerosos benefícios

e serviços que nos prestou; é por isso que não devemos faltar-lhe na

necessidade.

"...Lázaro dorme": essa a razão de precisarmos socorrê-lo. "Aquele que é

amigo... torna-se um irmão no tempo da desventura" (Pr 17, 17). No dizer de

santo Agostinho, ele dorme para o Senhor; para os homens, que não o

podem ressuscitar, está morto.

A palavra sono pode ser utilizada para significar muitas coisas: o próprio

sono natural, as negligências, o sono da culpa, o repouso da contemplação

ou da glória futura e, por vezes, a morte, como diz são Paulo, "não queremos,

irmãos, que estais na ignorância acerca dos que dormem, para que não vos

entristeçais como os outros, que não têm esperança" (1 Ts 4, 13).

A morte é chamada de sono por causa da esperança da ressurreição. Por

isso costuma-se chamá-la de "repouso" desde o tempo em que Nosso

Senhor morreu e ressuscitou: "Deitei-me e adormeci" (Sl 3, 6).

II. "mas vou despertá-lo." Com isso, Jesus dá a entender que lhe é tão fácil

ressuscitar Lázaro do túmulo quanto despertar alguém da cama. Nada

que possa surpreender, pois é Ele quem suscita os mortos e os vivifica. Por

isso disse: "Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se

encontram nos sepulcros escutarão a voz do Filho de Deus" (Jo 5, 28).

III. "vamos ter com ele". Brilha aqui a clemência de Deus, enquanto os

homens, em estado de pecado e como mortos, não podem por si mesmos

ir até Ele, é Ele quem os atrai, precedendo-lhes misericordiosamente,

como aquilo das Escrituras: "Eu amei-te com amor eterno; por isso, mantive o

meu favor para contigo" (Jr 31, 3).

IV. "Chegou, pois, Jesus, e encontrou-o já há quatro dias no

sepulcro." Segundo santo Agostinho, Lázaro, morto há quatro dias,

significa o pecador retido pela morte de um pecado quádruplo: o pecado

original, o pecado contra a lei natural, o pecado atual contra a lei

positiva, o pecado atual contra a lei do Evangelho e da graça.

Ou então, pode-se dizer que o primeiro dia é o pecado do coração, cf. "tirai

de diante dos meus olhos a malícia dos vossos pensamentos" (Is 1, 16); o

segundo, o pecado da língua,"Nenhuma palavra má saia da vossa boca" (Ef

4, 19); o terceiro, o pecado das obras, sobre o qual diz Isaías, "cessai de fazer

o mal" (Is 1, 16); o quarto dia é o pecado dos hábitos maus.

De qualquer modo que se exponha o texto, o Senhor cura por vezes os

mortos de quatro dias, isto é, os que transgridem a lei do Evangelho e estão

presos no hábito do pecado.


In Joan, XI

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

quarta-feira, 17 de março de 2021

29. Quarta-feira depois do IV domingo da Quaresma: O amigo divino


 Quarta-feira depois do IV domingo da Quaresma

«Mandaram, pois, suas irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo

aquele que tu amas» (Jo 11, 3 )


Aqui há três coisas que se deve considerar:

a) A primeira é que os amigos de Deus por vezes padecem no

corpo. Assim, não é sinal de falta de amizade com Deus o padecermos no

corpo. Elifaz errava ao dizer a Jó, Lembra-te: que inocente pereceu jamais? ou

quando foram os justos destruídos? (Jó 4, 7), como provam as irmãs de

Lázaro: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. Lemos no livros dos

Provérbios (3, 12): O Senhor castiga aquele a quem ama, como um pai a seu

filho querido.

b) A segunda é que elas não dizem: Senhor, vinde, curai-o, mas apenas

expõem o seu estado: eis que está enfermo. O que significa que basta

exprimir a um amigo as nossas necessidades, sem acrescenta pedido algum;

pois um amigo, assim como procura seu próprio bem e combate seus males

pessoais, combaterá os males de seu amigo. E isto é sobretudo verdadeiro de

quem verdadeiramente ama. Diz o salmo (144, 20): O Senhor guarda todos os

que o amam.

c) A terceira é que as duas irmãs, desejando a cura de seu irmão doente,

não vêm pessoalmente ao Cristo, como o fizeram o paralítico e o

centurião; e isso por causa de sua confiança em Jesus Cristo, em virtude

do amor especial e da familiaridade que lhes testemunhará. E talvez

estivessem detidas pela dor, como disse são João Cristóstomo, em

conformidade com aquilo do Eclesiástico (6, 11): Se o teu amigo perseverar

firme, será para ti como um igual, tratará à vontade com os da tua casa.


In Joan, XI

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

terça-feira, 16 de março de 2021

28. Terça-feira depois do IV domingo da Quaresma: O exemplo de Cristo crucificado


 terça-feira depois do IV domingo da Quaresma


Nosso Senhor assumiu a natureza humana para reparar a queda do

homem. Por isso, foi necessário que Cristo padecesse e vivesse conforme

a natureza humana, como remédio à queda do pecado.

Ora, o pecado do homem consistiu em ter o homem se apegado aos bens

corporais e se desinteressado dos espirituais. Convinha, pois, ao Filho de

Deus, por tudo que fez e sofreu na natureza humana que assumira, mostrarse

de modo tal, que fizesse os homens terem por nada os bens e os reveses

do século, abandonarem o apego desordenado e se devotarem aos bens

espirituais.

Foi por isso que Cristo quis nascer de pais pobres, mas perfeitos em

virtude, para nos ensinar a não nos gloriarmos da nobreza da carne, ou

da riqueza dos pais.

Ele viveu uma vida pobre, para ensinar o desprezo das riquezas.

Viveu sem honrarias, para arrancar os homens da cobiça desordenada

delas.

Suportou os trabalhos, a sede, a fome, os tormentos corporais, para que os

homens, desejosos de prazeres e delícias, não se deixassem desviar do bem

da virtude pelas misérias desta vida.

Por fim, era conveniente que o Filho de Deus humanado morresse, a fim

de que, por temor da morte, não abandonássemos a via da virtude. E,

para que não temêssemos a morte ignominiosa, escolheu a pior das mortes,

a morte na Cruz.

Também foi conveniente que o Filho de Deus humanado sofresse a

morte, a fim de que, por seu exemplo, fossemos estimulados à virtude, e

para que fossem verdadeiras as palavras de são Pedro: Cristo também sofreu

por nós, deixando-vos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. (1 Pd 2, 21)

Contra Armen. Sarac., VII

Mas, Cristo também sofreu por nós, deixando-vos o exemplo da tribulação,

dos ultrajes, da flagelação, da cruz, da morte, para que marchássemos sobre

suas pegadas. Se suportarmos por Cristo tribulações e sofrimentos, também

reinaremos com ele na eterna beatitude. Diz são Bernardo: "Como são

poucos, ó Senhor, os que vos querem seguir, apesar de todos quererem estar

convosco e saberem que as beatitudes estarão ao vosso lado até o fim. Ora,

todos querem fruir de vós, mas não vos querem imitar; querem reinar, mas

não padecer convosco; não vos procuram, mas vos querem encontrar;

desejam conseguir, mas não seguir".


De humanitate Christi, cap. 47

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

segunda-feira, 15 de março de 2021

27. Segunda-feira depois do IV domingo da Quaresma: Cristo mereceu, pela sua paixão, ser exaltado


 segunda-feira depois do IV domingo da Quaresma


«Ele tornou-se obediente até a morte, e morte de cruz; para o qual Deus

também o exaltou.» (Fl 2, 8)


O mérito comporta certa igualdade com a justiça. Por isso, diz o Apóstolo

que "para aquele que realiza obras, o salário é considerado um débito" (Rm

4,4). Quando alguém, por sua injusta vontade, atribui a si mais do que se lhe

deve, é justo que se diminua também o que se lhe devia, como diz o livro do

Êxodo (22): "Quando um homem roubar uma ovelha, devolva". E dizemos

que ele o mereceu, porquanto desse modo se pune sua vontade injusta.

Assim também, quando alguém, por uma justa vontade, se priva do que

tinha direito de possuir, merece que se lhe dê mais, como salário de sua

vontade justa. Por isso, como diz o Evangelho de Lucas, "quem se humilha

será exaltado" (Lc 14, 11).

I. Ora, Cristo, em sua paixão, de quatro modos se humilhou abaixo de sua

dignidade:

a) Primeiro, em relação à sua paixão e morte, de que não era devedor.

b) Segundo, em relação ao local, pois seu corpo foi posto num sepulcro, e

sua alma, na mansão dos mortos.

c) Terceiro, em relação à confusão e opróbrios que suportou.

d) Quarto, em relação ao fato de ter sido entregue ao poder dos homens,

conforme ele mesmo disse a Pilatos: "Não terias poder algum sobre mim se

não te houvesse sido dado do alto" (Jo 19, 11).

II. Por sua paixão, mereceu a exaltação de quatro maneiras:

a) Primeiro, em relação à ressurreição gloriosa. Por isso, diz o salmo (138, 1):

"Conheces o meu deitar", ou seja, a humilhação de minha paixão, "e o meu

levantar".

b) Segundo, em relação à ascensão ao céu. Por isso, diz a Carta aos Efésios:

"Desceu primeiro até as partes inferiores da terra. Aquele que desceu é

também o que subiu mais alto que todos os céus" (Ef 4, 9-10).

c) Terceiro, em relação ao assento que teve à direita do Pai e à manifestação

de sua divindade, conforme diz Isaías: "Ele será exaltado, elevado, e posto

muito alto, da mesma forma que as multidões ficaram horrorizadas a seu

respeito assim será sem glória o seu aspecto entre os homens" (52, 13-14). E

diz a Carta aos Filipenses (2, 8-10): "Ele se fez obediente até a morte e morte

numa cruz. Foi por isso que Deus lhe conferiu o Nome que está acima de

todo nome", ou seja, para que por todos seja considerado como Deus e todos

lhe mostrem reverência como a um Deus. E é o que se acrescenta: "A fim de

que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da

terra".

d) Quarto, em relação ao poder judiciário, pois diz o livro de Jó: "Tua causa

foi julgada como a de um ímpio. Receberás o juízo e a causa" (Jó 36, 17).


III, q. XLIX, a. 6

domingo, 14 de março de 2021

26. Quarto domingo da Quaresma: Cristo com sua paixão abriu a porta do céu


 IV Domingo da Quaresma


«Portanto, irmãos, tenham confiança de entrar no Santuário pelo sangue de

Cristo.» (Hb 10, 19)


O fechamento de uma porta é um obstáculo que impede a entrada das

pessoas. Ora, os homens estavam impedidos de entrar no reino dos céus por

causa do pecado, pois, como diz Isaías (25, 8): "Caminho sagrado chamá-loão.

O impuro não passará por ele".

E há dois pecados que impedem a entrada do reino dos céus. Um é o pecado

de nosso primeiro pai, pecado comum a toda a natureza humana e que

fechava ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, se lê no livro do

Gênesis, que, depois do pecado do primeiro homem, "Deus postou os

querubins com uma espada de fogo e versátil, para guardar o caminho da

árvore da vida". O outro é o pecado especial de cada pessoa, cometido pelo

ato pessoal de cada homem.

Pela paixão de Cristo somos libertados não só do pecado comum a toda a

natureza humana, em relação à culpa e em relação à dívida da pena, uma vez

que ele pagou por nós o preço, mas também dos pecados próprios de cada

um dos que participam da paixão dele pela fé, pelo amor, e pelos

sacramentos da fé. Consequentemente, pela paixão de Cristo foi-nos aberta a

porta do reino celeste. E é precisamente isso que nos diz a Carta aos Hebreus

(9, 11): "Cristo, sumo sacerdote dos bens vindouros, por seu próprio sangue,

entrou uma vez para sempre no santuário e obteve uma libertação definitiva".

É o que dá a entender o livro dos Números quando diz que o homicida "ali

permanecerá", ou seja, na cidade de refúgio, "até a morte do sumo sacerdote

consagrado com o óleo santo" (Nm 35, 25); depois da morte deste, voltará

para sua casa.

Deve-se dizer que os Patriarcas, ao realizarem obras de justiça, mereceram

entrar no reino celeste pela fé na paixão de Cristo, segundo o que diz a Carta

aos Hebreus (Hb 11, 33): "Graças à fé, conquistaram reinos, praticaram a

justiça"; por ela, cada um deles ficava limpo do pecado, quanto condiz com a

purificação da própria pessoa. Contudo a fé ou a justiça de nenhum deles era

suficiente para remover o impedimento proveniente da dívida de todas as

criaturas humanas. Impedimento que foi removido pelo preço do sangue de

Cristo. Por isso, antes da paixão de Cristo, ninguém pudera entrar no reino

celeste, ou seja, conseguir a eterna bem-aventurança, que consiste no pleno

gozo de Deus.

Cristo, com sua paixão, mereceu-nos a abertura do reino celeste e removeu o

impedimento; mas pela ascensão como que nos introduziu na posse do reino

celeste. Por isso, se diz que "já subiu, diante deles, aquele que abre o caminho"

(Mq 2, 13).


III, q. XLIX, a. 5

sábado, 13 de março de 2021

25. Sábado depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos reconciliados com Deus


 Sábado da terceira semana da Quaresma


«Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho.» (Rm 5, 10)

Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:


I. — A Paixão de Cristo é a causa de nossa reconciliação com Deus, de dois

modos.

Primeiro porque remove o pecado pelo qual os homens são constituídos

inimigos de Deus, segundo aquilo da Escritura (Sb 14, 9): Deus igualmente

aborreceu ao ímpio e a sua impiedade. E noutro lugar (Sl 5, 7): Aborreces a

todos os que obram a iniqüidade.

De outro modo, como sacrifício muito aceito de Deus; assim como

perdoamos uma ofensa cometida contra nós quando recebemos um serviço

que nos é prestado. Donde o dizer a Escritura (1 Rs 26, 19): Se o Senhor te

incita contra mim, receba ele o cheiro do sacrifício. Semelhantemente, o ter

Cristo sofrido voluntariamente foi um bem tão grande, que em razão desse

bem descoberto em a natureza humana, Deus se aplacou no tocante a

qualquer ofensa do gênero humano, contanto que o homem se una com a

Paixão de Cristo, segundo a fé e a caridade.

Não se diz que a Paixão de Cristo nos reconciliou com Deus porque de novo

nos começasse a amar, pois está na Escritura (Jr 31, 3): Com amor eterno te

amei. Mas porque a Paixão de Cristo eliminou a causa do ódio, quer por ter

delido o pecado, quer pela compensação de um bem mais aceitável.

IIIa q. XLIX a. 4

II. — Se pensarmos naqueles que O lançaram à morte, a Paixão de Cristo

foi verdadeiramente uma causa de indignação. Mas, a caridade de Cristo

padecendo foi maior que a iniqüidade dos homens. Por isso a Paixão de

Cristo é mais eficaz para reconciliar com Deus todo o gênero humano

que para provocar sua cólera.

O amor de Deus por nós se revela nos seus efeitos. Dizemos que Deus faz

participar de sua bondade aqueles que ama. Ora, a maior e mais completa

participação na sua bondade consiste na visão da sua essência, pela qual

privamos com Ele como amigos, pois a beatitude consiste nesta serenidade.

Assim, pode-se dizer simplesmente que Deus ama a quem admite a esta

visão, quer pelo dom real, quer pelo dom da causa — como ocorre com

aqueles a quem Deus deu o Espírito Santo como penhor desta visão. Pelo

pecado, porém, ao homem foi retirada esta participação na bondade divina,

ou seja, a visão de sua essência; e sob este aspecto, diz-se que o homem

estava privado do amor de Deus. Ora, após Cristo ter satisfeito por nós pela

sua Paixão, e conseguido que fossemos readmitidos à visão de Deus, diz-se

que nos reconciliou com Deus.


2 Dist. 19, q. I, a. 5

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

sexta-feira, 12 de março de 2021

24. Sexta-feira depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos liberados da pena do pecado.


 Sexta-feira da terceira semana da Quaresma


«Ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as

nossas dores» (Is 53, 4)

Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:


1. Primeiro diretamente; i. é, porque a Paixão de Cristo foi uma satisfação

suficiente e superabundante pelos pecados de todo o gênero humano; ora,

dada a satisfação suficiente, eliminado fica o reato da pena.

2. De outro modo, indiretamente; i. é, enquanto a Paixão de Cristo é a causa

da remissão do pecado, no qual se funda o reato da pena.

Os condenados, contudo, não estão liberados da pena, pois a Paixão de

Cristo somente produz o seu efeito naqueles a quem se aplica pela fé, pela

caridade e pelos sacramentos da fé. Ora, os condenados ao inferno, que

não estão unidos à Paixão de Cristo ao modo que acabamos de referir, não

lhe podem colher o efeito.

E apesar de termos sido liberados da pena do pecado, é preciso, no

entanto, impor aos penitentes uma pena satisfatória; pois, para se

beneficiar do efeito da Paixão de Cristo, é preciso estarmos configurados

ao Cristo.

Ora, configuramo-nos sacramentalmente a Ele no batismo, segundo aquilo

do Apóstolo (Rm 6, 4): Fomos sepultados com ele para morrer ao pecado pelo

batismo. Por isso aos batizados não se lhes impõe nenhuma pena satisfatória,

por estarem totalmente liberados pela satisfação de Cristo. Mas

porque Cristo uma só vez morreu pelos nossos pecados, no dizer da Escritura

(1 Pd 3, 18), não pode o homem uma segunda vez se configurar à morte de

Cristo pelo sacramento do batismo. E por isso, os que depois do batismo

pecam hão de assemelhar-se com Cristo, padecente por alguma penalidade

ou sofrimento, que suportem na sua pessoa. Mas essa penalidade basta,

apesar de muito menor que a merecida pelo pecado, por causa da

cooperação da satisfação de Cristo.

Mas, se a morte, que é pena do pecado, ainda subsiste, é porque a satisfação

do Cristo só tem efeito em nós enquanto fomos incorporados ao Cristo,

como os membros à cabeça. Pois é preciso que os membros estejam em

conformidade com a cabeça. Por onde, assim como Cristo teve primeiro a

graça na alma com a passibilidade do corpo, e chegou pela Paixão à glória da

imortalidade, assim também nós, que somos os seus membros, somos pela

sua Paixão liberados do reato de qualquer pena. Mas, para isso, devemos

primeiro receber na alma o Espírito de adoção de filhos, pelo qual adimos a

herança da glória da imortalidade, enquanto ainda temos um corpo passível

e mortal. Mas depois assemelhados aos sofrimentos e à morte de Cristo,

chegaremos à glória imortal segundo aquilo do Apóstolo (Rm 8, 17): Se

somos filhos somos também herdeiros; herdeiros verdadeiramente de Deus e

co-herdeiros de Cristo, se é que todavia nós padecemos com ele para que

sejamos também com ele glorificados.


IIIa q. XLIX a. 3

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

quinta-feira, 11 de março de 2021

23. Quinta-feira depois da III semana da Quaresma: A pregação da samaritana


 Quinta-feira da III Semana da Quaresma


«A mulher, pois, deixou o seu cântaro, e foi à cidade» (Jo 4, 28)

Após ter sido instruída por Cristo, a samaritana fez trabalho de apóstolo.

Três coisas podemos sublinhar de suas palavras e atos.


I

A devoção que sentia e manifestou dos dois modos seguintes:

a) Movida por intensa devoção, a samaritana como que se esqueceu da razão

pela qual viera à fonte e abandonou água e cântaro. É o que diz o texto: "a

mulher deixou o seu cântaro, e foi à cidade", para anunciar a grandeza de

Cristo, sem cuidar das necessidades do corpo. Nisso seguiu o exemplo dos

Apóstolos que, após terem tudo deixado para trás, seguiram o Senhor. Ora, o

cântaro significa a concupiscência das coisas do século, com o qual do fundo

das trevas significado pelo poço, i.é, do trato com as coisas terrenas, os

homens extraem os prazeres. Portanto, os que abandonam as

concupiscências do século por Deus, abandonam o cântaro.

b) A intensidade de sua devoção manifesta-se ainda pela multidão daqueles

a quem anuncia o Cristo, pois não foi a um, nem a dois ou três, mas a toda a

cidade. Diz o texto: "...e foi à cidade".


II

A qualidade de sua pregação: "e disse àquela gente: vinde ver um homem...".

a) Ela convida todos a ver o Cristo: "Vinde ver um homem". Ela não diz

imediatamente para que viessem ao Cristo, para não dar ocasião a blasfêmia;

ao contrário, começa dizendo coisas que eram críveis e patentes, a saber, que

era um homem. Ela não diz: crede, e sim: vinde ver, pois sabiam que, se

bebessem daquela fonte, vendo-o, experimentariam o mesmo que ela

experimentou. Por fim, a samaritana segue o exemplo do verdadeiro

pregador, e não chama os homens para si, mas para o Cristo.

b) Oferece uma prova da divindade do Cristo, ao dizer: "que me disse tudo o

que eu tenho feito", ou seja, quantos homens tivera a samaritana. Ela não se

envergonha de contar aquilo que lhe é motivo de confusão, pois a alma

abrasada com o fogo divino não se importa mais com nada terreno, nem

com a glória, nem com a vergonha, mas apenas com essa chama que nela

queima.

c) Conclui confessando a majestade de Cristo, ao dizer: "será este porventura

o Cristo?" Ela não ousou afirmar que era o Cristo, para que não aparentasse

ensinar os outros: temia que, irritados, eles se recusassem a ir ao Cristo.

Tampouco o silenciou totalmente, mas o propôs sob a forma de pergunta,

como se submetesse o seu julgamento ao deles. De fato, este era o meio mais

fácil de persuadi-los.


III

O fruto de sua pregação.

"Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele". Por onde se vê que, se

quisermos ir ao Cristo, devemos também deixar a cidade, i. é, abandonar o

amor da concupiscência carnal. "Saiamos, pois, a ele fora dos arraiais", diz

são Paulo (Heb 13, 13)


In Joan., IV.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

quarta-feira, 10 de março de 2021

22. Quarta-feira depois do III domingo da Quaresma: O Preço da Nossa Redenção


 Quarta-feira da III Semana da Quaresma


«fostes comprados por um grande preço» (1 Cor 6, 20)


A injúria ou sofrimento mede-se pela dignidade do lesado: sofre maior

injúria o rei, se esbofeteado, do que sofreria alguma pessoa privada. Ora, a

dignidade da pessoa de Cristo é infinita, pois é uma pessoa divina.

Portanto, qualquer sofrimento seu, por menor que seja, é infinito. Por

conseqüência, qualquer sofrimento seu seria suficiente para a redenção de

todo o gênero humano, mesmo sem sua morte.

Diz S. Bernardo que a menor gota de sangue de Cristo bastaria para a

redenção do gênero humano. Ora, Cristo poderia ter derramado uma única

gota de seu sangue sem morrer, logo, era possível que, mesmo sem morrer,

redimisse todo o gênero humano com algum sofrimento seu.

Para se efetuar uma compra, duas coisas fazem-se necessárias: o

montante do preço e sua destinação para a compra. Se alguém dá um valor

inferior ao da coisa que se quer adquirir, não se diz que houve compra, mas

que houve compra em parte e doação em parte: por exemplo, se alguém

comprar um livro que vale vinte libras com apenas dez, em parte comprou o

livro e em parte, o livro lhe foi dado. Do mesmo modo, se desse um valor

mais alto mas não o destinasse à compra do livro, não se poderia dizer que

houve compra.

Se, portanto, tratamos da redenção do gênero humano quanto ao preço,

qualquer sofrimento de Cristo, mesmo sem morte, seria suficiente, pela

infinita dignidade da sua pessoa.

Se, porém, falamos quanto a destinação do preço, então é preciso dizer

que os demais sofrimentos do Cristo não foram destinados por Deus Pai

e pelo Cristo para a redenção do gênero humano sem sua morte.

E isto por tríplice razão:

1. Para que o preço da redenção do gênero humano não fosse apenas de

valor infinito, mas também do mesmo gênero; isto é, para que fossemos

redimidos da morte, pela morte.

2. Para que a morte de Cristo não fosse apenas preço da redenção, mas

também exemplo de virtude, para que os homens não temessem morrer

pela verdade. E estas duas causas são assinaladas pelo Apóstolo: «a fim de

destruir pela sua morte aquele que tinha o império da morte» (Heb 2,

14), quanto ao primeiro ponto e «para livrar aqueles que, pelo temor da

morte, estavam em escravidão toda a vida» (Heb 2, 15), quanto ao segundo

3. Para que a morte de Cristo fosse também sacramento de salvação; pois,

em virtude da morte de Cristo, morremos para o pecado, para as

concupiscências da carne e para o amor próprio. E esta causa está

assinalada nas Escrituras: «também Cristo morreu uma vez pelos nossos

pecados, ele, justo pelos injustos, para nos oferecer a Deus, sendo efetivamente

morto segundo a carne, mas vivificado pelo Espírito» (1 Pd 3, 18).

E, por isso, o gênero humano não foi redimido sem a morte de Cristo.

Mas, permanece verdade que Cristo, que não apenas deu sua vida, mas ainda

sofreu tanto quanto se pode sofrer, teria pago um preço suficiente pela

redenção do gênero humano, ainda que a menor parcela de sofrimento

tivesse sido divinamente destinada a este fim; e isto, por causa da infinita

dignidade da pessoa do Cristo.


Quodl. II, q. I, a. II

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

terça-feira, 9 de março de 2021

21. Terça-feira depois do III domingo da Quaresma: Cristo, o verdadeiro Redentor


 Terça-feira da III Semana da Quaresma


«fostes regatados pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro

imaculado

e sem contaminação» (1 Pd 1, 19)


Pelo pecado dos nossos primeiros pais, o gênero humano apartou-se de

Deus, como explica são Paulo na epístola aos Efésios (cap 2); o homem não

se excluiu do poder de Deus, mas da visão da Sua face, a qual são admitidos

aos Seus filhos e familiares. Ademais, caíramos sob o poder usurpado do

diabo, ao qual, por seu consentimento, o homem se submeteu. O homem

entregou-lhe tudo quanto nele era, embora não pudesse dar-se, pois não era

mestre de si mesmo e a outro pertencia.

A Paixão de Cristo, portanto, teve dois efeitos:

- Livrou-nos do poder do inimigo, venceu-o com meios contrários aos que

utilizara o inimigo na sua vitória sobre o homem: a humildade, a obediência

e a austeridade da pena, que se opõe ao deleite do fruto proibido.

- Ademais, satisfazendo pela falta dos homens, ela os uniu a Deus e fez deles

filhos e familiares de Deus.

Esta liberação tem, pois, um duplo caráter de redenção. Enquanto nos livrou

do poder do diabo, Cristo nos redimiu ao modo de um rei que resgata pelo

combate um reino ocupado pelo adversário. Enquanto aplacou a Deus em

nosso favor, redimiu-nos como se, satisfazendo rigorosamente por nós,

pagasse um preço para que fossemos libertados da pena e do pecado.

Ora, o preço do sangue, não foi oferecido ao diabo, mas a Deus, afim de

satisfazer por nós. E ele nos arrancou do diabo pela vitória de sua Paixão.

Se o diabo nos dominou por uma injusta usurpação, termos caído sob seu

poder, após termos sido vencidos por ele, foi justo. Por isso era preciso que

fosse ele vencido pelos meios contrários àqueles pelos quais o inimigo nos

venceu, pois não venceu pela força, mas nos induzindo fraudulentamente ao

pecado.

3 dist. 19 q. 1, a. IV

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)


segunda-feira, 8 de março de 2021

20. Segunda-feira depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos libertados do poder do diabo


 Segunda-feira da III Semana da Quaresma


O Senhor disse, na iminência da Paixão: «Agora será lançado fora o

príncipe deste mundo, e eu, quando for levantado da terra, todas as coisas

atrairei a mim mesmo» (Jo 12, 31). Ora, o Senhor foi levantado da terra

pela Paixão da cruz. Logo, por ela o diabo foi privado do seu poder sobre os

homens.

Sobre o poder que o diabo exercia sobre os homens, antes da Paixão de

Cristo, devemos fazer tríplice consideração:

1. A primeira, relativa ao homem, que pelo seu pecado mereceu ser

entregue ao poder do diabo, por cuja tentação fora vencido;

2. A outra, relativa a Deus, a quem o homem ofendera pecando, e que na

sua justiça abandonou o homem ao poder do diabo.

3. A terceira é relativa ao diabo, que com sua vontade perversíssima

impedia o homem de alcançar a sua salvação.

Assim, pois, no tocante à primeira consideração, o homem foi libertado

do poder do diabo pela Paixão de Cristo, porque a Paixão de Cristo é a

causa da remissão dos pecados.

Quanto à segunda, a Paixão de Cristo nos livrou do poder do diabo, por

nos ter reconciliado com Deus.

No tocante à terceira, a Paixão de Cristo nos liberou do diabo, porque

nela o diabo ultrapassou a medida do poder que Deus lhe conferira,

maquinando a morte de Cristo, que não merecera morte por não ter

nenhum pecado. Donde o dizer Agostinho: «Pela justiça de Cristo foi

vencido o diabo, porque apesar de nada ter encontrado nele digno de

morte, contudo o matou. E portanto era justo que os devedores que detinha

em seu poder fossem mandados livres, crentes em Cristo, que o diabo

matou, apesar de não ter nenhum débito.»

É verdade que o diabo pode, ainda agora, com a permissão de Deus,

tentar os homens na alma e vexar-lhes o corpo; contudo, foi-lhe preparado

ao homem o remédio da Paixão de Cristo, com o qual pode defender-se

contra os ataques do inimigo, a fim de não ser arrastado à perdição da morte

eterna. E todo os que, antes da Paixão, resistiam ao diabo, assim o

puderam fazer pela fé na Paixão de Cristo. Embora, não estando essa

Paixão ainda consumada, de certo modo ninguém pudesse escapar às mãos

do diabo, livrando-se assim de descer ao inferno; ao passo que depois da

Paixão de Cristo todos podemos nos defender contra o poder diabólico.

Deus permite ao diabo enganar certas pessoas, em certos tempos e

lugares, por uma razão oculta dos seus juízos. Mas sempre, pela Paixão

de Cristo está preparado aos homens o remédio para se defenderem das

perversidades dos demônios, mesmo no tempo do Anticristo. E o fato de

certos descuidarem de servir-se desse remédio em nada faz diminuir a

eficácia da Paixão de Cristo.

III, q. XLIX, a. II

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

domingo, 7 de março de 2021

Leituras para a Celebração Eucarisitica

 

Livro do Êxodo 20,1-17.


Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras:

«Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa da escravidão.

Não terás outros deuses diante de Mim.

Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra.

Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem;

mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos.

Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão.

Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares.

Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as tuas tarefas.

Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade.

Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado.

Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar.

Não matarás.

Não cometerás adultério.

Não furtarás.

Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo.

Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença».


Livro dos Salmos 19(18),8.9.10.11.


A lei do Senhor é perfeita,

ela reconforta a alma.

As ordens do Senhor são firmes

e dão sabedoria aos simples.


Os preceitos do Senhor são retos

e alegram o coração.

Os mandamentos do Senhor são claros

e iluminam os olhos.


O temor do Senhor é puro

e permanece eternamente.

Os juízos do Senhor são verdadeiros,

todos eles são retos.


São mais preciosos que o ouro,

o ouro mais fino;

são mais doces que o mel,

o puro mel dos favos.


1.ª Carta aos Coríntios 1,22-25.


Irmãos: Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria.

Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.

Mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus.

A loucura de Deus é mais sábia do que o homem e a fraqueza de Deus é mais forte do que o homem.

Evangelho segundo São João 2,13-25.

Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.

Encontrou no Templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos.

Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do Templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas;

e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio».

Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa».

Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?».

Jesus respondeu-lhes: «Destruí este Templo e em três dias o levantarei».

Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para construir este Templo e Tu vais levantá-lo em três dias?».

Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo.

Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome.

Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos

e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.