Toco a cabrinha,
para que os irmãos se juntem para a meditação. Cada um tira o seu guião das
meditações, para irem seguindo o raciocínio do irmão Padre e tirarem duvidas
quando as tiverem. A esta partilha da meditação também estão presentes as
senhoras que se dignaram a abrir as portas, assim como a trazer a imagem. Deus
Nosso Senhor as recompense!
Após a
meditação, descemos os 72 degraus, mais fáceis agora e formamos o rancho na
entrada.
Depois desta
partilha, balsamo para a alma, vamos em direção à Casa de São Francisco da
Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, para o
almoço.
Desde a I
romaria que elas, com muito gosto e devoção a Cristo, que nos abrem as suas
portas, não só para orarmos na sua capela como também para o almoço. São poucos
os homens que ali entram e nós temos a graça de Deus de nos receberem. Na
capela algumas irmãs acompanham-nos nas orações e cânticos.
Findado essa
parte saímos, e fora da capela, pousamos a cevadeira e o xaile, ficando apenas
com o lenço e os terços. Alguns irmãos, poe ao pescoço das irmãs que ali estão
um dos terços que trazem. Elas agradecem.
O irmão Padre
profere a oração da partilha da refeição e um a um, vão entrando no refeitório
e servindo-se da sopa, pão e segundo. Nas mesas já têm jarros de água e fruta
em abundância.
Depois de me
servir (sou o último) uma das irmãs diz que quem quiser pode repetir.
Lembro-me do
primeiro ano que fui falar com a irmã responsável e lhe ter pedido que para nós
bastava uma sopa, pão e água, ao que ela me respondeu:
“– Se fosse
Jesus a vir aqui, acha que só lhe íamos dar isso?”
Depois desta
resposta, e dai por diante, nunca mais me atrevi a fazer esse pedido, apenas
lhe digo o número de irmãos atempadamente.
Findada a
refeição, aparelhamo-nos e formamos o rancho na saída da casa. Um ou outro
irmão já não se lembra que ofereceu o seu terço e uma ou outra irmã, traz e
pergunta de quem é. Entre irmãos que já se conhecem há pelos menos um ano, vêm
ao de cima as piadas sem maledicência sobre o esquecimento. Também faz parte da
romaria isso.
Fazemos os
agradecimentos devidos, pedimos pela sua congregação e pelo aumento de
vocações, entre outros pedidos, terminando com o cântico do piedoso irmão Luís
Castro.
As irmãs
agradecem e acenam em sinal de alegria e nós respondemos “– Até para o ano se
Deus quiser!”
Dali seguimos em
direção à igreja de São Carlos. Como o caminho não tem muitas casas, opto por
pedir para rezarem dois terços por intenções.
Já perto da
igreja, lanço a salva para que o rancho recomece a cantar o Avé Maria.
Sabendo que um
dos irmãos reside ali, na hora de almoço pedi-lhe que fosse o orador, ao que
ele agradeceu e disse que sim, que o faria com muito gosto.
Não sei como
serão os outros ranchos, mas se algum dos irmãos reside na paroquia onde vamos
passar e entrar na sua igreja, atempadamente pergunto se não quer ser o orador
nela. Mesmo que a voz, cântico ou oração não saia como ele esperava, não me
preocupo. Nem eu nem o meu contra-mestre, porque sabemos que ele fez o melhor
que podia na sua paroquia e isso, temos a certeza que agrada a Deus.
Naquela igreja,
ao contrário das demais da ilha, se não me engano, o Cristo ali existente é
Ressuscitado e não Crucificado, se bem que com a iluminação ali existente,
vemos os dois em simultâneo. O Cristo Ressuscitado “fisicamente” e o
Crucificado como uma sombra.
Dali seguimos
para a igreja de Nossa Senhora de Belém, na freguesia de Terra-Chã, passando
pela ermida de Jesus Maria e José, particular por sinal.
Mais uma vez
revejo os tempos e mais uma chamada telefónica necessária.
Chegados à
igreja de Nossa Senhora de Belém, entramos, rezamos e cantamos o que o orador
previsto escolheu. Vejo lá ao fundo o pároco daquela freguesia e connosco estão
algumas pessoas. As que nos abriram as portas e mais algumas que no percurso
final nos viram e também quiseram orar connosco. O orador, também ciente disso,
também pede por eles e suas famílias.
Saímos cantando
até pararmos numa zona descampada entre esta freguesia e a freguesia de São
Mateus da Calheta. Ali fazemos mais uma paragem prevista para o que for
preciso. Alguns irmãos aproveitam para se esticarem um pouco em cima da
calçada. Outros fumam um cigarro. Apesar de ainda ser o primeiro dia, aproveito
para falar com os novos sobre a romaria e como estão fisicamente. Aproveito
novamente para trocar algumas palavras com o irmão contra-mestre, já que como
vai na parte do Avé Maria, nem sempre dá para falar fazendo caminho.
Depois desta
pausa merecida a cabrinha toca, para formar rancho. Por vezes acontece neste
momento, um ou outro irmão lembrar-se de ir fazer uma necessidade, quando teve
algum tempo para isso, mas, faz parte.
Formado o rancho
e indo em silêncio rezando os terços que possam estar em atraso, partimos em
direção à Ermida de São Francisco das Almas, no lugar do Cantinho, na freguesia
de São Mateus da Calheta. Também ali, o orador é um residente no local e como
tal é ele que fará as orações, cânticos e pedidos.
A ermida está
aberta, como os demais locais até este momento, graças a Deus. Lá dentro duas
ou três pessoas acompanham-nos. Estando atrás, faço um gesto de agradecimento a
essas pessoas e elas sorriem.
Saindo,
continuamos em direção à igreja paroquial da freguesia. Um caminho ainda longo
e alguns km nos separam.
Tendo já falado
com o irmão Procurador das Almas, sobre os pedidos que fomos recebendo até
então, aproveito este caminho para pedir aos irmãos que, naquele trajeto iremos
rezar alguns dos pedidos que o rancho recebeu. Muitos pedidos por doenças,
outros pelos filhos andarem por caminhos errantes, outros ainda para obterem
trabalho. Mas também há pedidos de agradecimentos. Pela cura de alguém, pelos
estudos terem corrido bem, por terem arranjado emprego, entre outros.
Dali até há
referida igreja, vou rezando e os restantes irmãos acompanhando. Contas atrás
de contas, vamos pagando os pedidos que nos foram feitos, alias, para nós não é
sacrifício, mas sim o nosso dever e a nossa salvação….rezar!
Na igreja
paroquial, mais um irmão que ali reside é o orador. Também ali estão algumas
pessoas aguardando por nós, assim como o pároco.
Calmamente e
pausadamente o irmão executa os cânticos, as orações e os pedidos.
Olho para o
relógio. Sem nos darmos conta já passaram cerca de 10 minutos, 10 belos minutos
com Ele.
Depois de o
dever ali cumprido, seguimos em direção há igreja velha, para mais uma paragem
e a segunda meditação.
Uma igreja
antiga, sem culto e virada para o mar. Já não tem teto, mas as suas paredes
estão carregadas de histórias dos Cristãos que ali iam rezar, ali iam pagar as
suas promessas e ali ocorriam as mesmas cerimónias litúrgicas que ocorrem nas
demais igrejas.
Paramos e
sentamo-nos nos degraus ainda existentes e gastos.
Os irmãos sem
bordão que, entretanto, já foram levar os colchões e sacos cama onde iremos
pernoitar, aparecem ali, trazendo água para os irmãos que queiram. Todos nós
trazemos duas ou três pequenas garrafas de água deste a primeira hora. Já aqui
ou ali foi-nos dito que quem precisasse podia levar água. Há sempre um ou outro
que, entretanto, nas paragens bebeu tudo e não se apercebeu desse facto. Se
estes irmãos não tivessem aparecido, seguramente que algum irmão tinha para
partilhar, como é hábito.
Aproveito para
me encostar à parede, tirar as botas e as meias, para arejar um pouco os pés.
Vejo que outros irmãos já fizeram o mesmo. O tempo está bom e vem um cheiro
agradável a maresia às nossas narinas. Fechando os olhos até parece que estamos
noutro sítio que não aquele. Com os pés já mais secos e frescos, viro as meias
pelo avesso e volto a calça-las assim como as botas.
Levanto-me e,
também eu, vou fazer uma necessidade tal como os demais. Aproveito para falar
com alguns irmãos aleatoriamente, ou seja, sem escolher por isto ou aquilo,
apenas para falar e saber como está a correr a romaria, se tem dores, entre
outras coisas. Falo também novamente com o irmão contra-mestre. Desta feita até
foi ele que veio ter comigo.
Olho para o
livrinho dos tempos e para o relógio. Está na hora da meditação. Vou ter com o
irmão Padre, que, entretanto, estava a confraternizar com alguns dos irmãos que
vieram de fora e mais alguns e peço-lhe para fazer a meditação.
Sem comentários:
Enviar um comentário