A segunda
meditação do dia completa a primeira. Alguns irmãos, que habitualmente trazem
um pequeno caderno, vão tomando as suas notas. Notas para tirar duvidas
posteriormente ou notas para aprofundar finda a romaria. Outros vão ouvindo e
interiorizando as palavras e frases que vão saindo da boca do irmão Padre.
Ainda que ouça e
vá seguindo o raciocínio do que é dito, mais umas chamadas tenho que fazer.
Afasto-me um pouco e faço-as.
O irmão Padre
pergunta-me se ainda tem tempo para dizer mais algumas palavras. Respondo que
sim, que quando estiver no tempo, faço sinal. Claro que há alturas em que ainda
há tempo e outras em que o tempo está no fim, mas, se a partilha está a ser
algo que nos aquece e enche a alma, mesmo que já possa ter passado algum tempo,
deixo seguir. Mais há frente, se for necessário, corto na paragem ou peço aos
guias que andem um pouco mais, caso veja que nenhum irmão está mal no seu
andamento. Para isso também conto com o irmão contra mestre.
Finda a segunda
meditação do dia, seguimos até à igreja de São Bartolomeu.
Seguimos por um
caminho pedonal fronteiro ao mar. Novamente aquele cheiro a maresia.
O caminho até há
próxima igreja é longo, com subidas e caminhos planos. Depois de passarmos o
Negrito, lanço novamente a salva para voltarmos a rezar alguns pedidos que,
entretanto, foram pedindo, somados aos que ficaram por rezar. No final destes,
continuamos em silêncio a romaria.
Falta algum
fresco e vento de outras romarias, mas, todos os anos o tempo nunca é igual.
A meio da última
subida até há igreja, lanço a salva e recomeçamos a cantar o Avé Maria.
Na igreja, para
além do pároco, também estão alguns idosos há nossa espera. Começamos pela
oração ao padroeiro e depois o cântico de entrada. Ao contrário do dia a dia em
que se entra pelas laterais, hoje estão abertas as portas do meio, como se se
tratasse de uma cerimónia especial marcada no calendário litúrgico.
Já não é
primeiro local nem será o último.
Tendo alguma
confiança com o pároco, pergunto-lhe do porquê, já que somos Pecadores
convictos disso, ainda que almejemos a santidade e a Vida Eterna. Responde-me:
“– Vocês estão
numa missão em nome de Jesus Cristo e como tal vêm em Seu nome e não em vosso
nome, como tal, para nós é um momento especial receber aqueles que vêm em Seu
nome.”
Terminados os
cânticos, orações e pedidos, saímos fazendo o sinal da cruz e passando os dedos
pela água benta, fazemos um segundo sinal da cruz.
Agradeço ao
pároco a sua amabilidade e despeço-me com um “- Até para o ano se Deus quiser!”
Dali até à
freguesia da Cinco Ribeiras, à igreja de Nossa Senhora do Pilar, são mais
alguns minutos, certa de 25 minutos mais ou menos, dependendo do andamento do
rancho e dos fatores meteorológicos.
Em silêncio e
oração continuamos a caminhada. Já falta pouco para o descanso merecido, para
descansar os ossos por algum tempo até ao início do segundo dia.
Chegados ao
início da freguesia da Cinco Ribeiras, e uma sobra de estrada ali existente
fazemos mais uma paragem para o que for necessário.
Tal como em
outras alturas do dia, pergunto, não só ao menino da Cruz, como às demais
crianças se está a correr bem, se estão bem. O menino da Cruz sei que está bem,
porque os irmãos-guia também se preocupam com ele. Já houve anos em que durante
algum tempo, os irmãos-guia davam as mãos ao irmão menino da Cruz para o ajudar
e resultou.
Os mais atrás
também vão bem, tem irmãos de ala mais velhos que os vão ajudando, quer com
gestos, quer com palavras de conforto. Também por ali vai o irmão contra
mestre, que bem sei se preocupar, não só pelo cargo ou ser apenas romeiro, mas
também por ser avô. Mas é meu dever saber como estão todos os irmãos,
especialmente os mais novos.
Dali à igreja
das Cinco Ribeiras foi rápida a caminhada. Não que o rancho fosse mais
depressa, mas sim que a igreja estava perto.
Ali há porta e
dentro fizemos as nossas orações.
Saindo e
começando em direção à última igreja deste dia, na altura devida, o irmão
Lembrador das Almas lançou a salva e todos nós respondemos. Depois fez os
pedidos de oração por todos os que estavam sepultados naquele cemitério, tal
como em todos os outros cemitérios por onde passamos. Findado os pedidos pelos
defuntos, continuamos o cântico do Avé Maria e intervalamos com os pedidos do
irmão Lembrador das Almas.
À entrada de
Santa Bárbara, uma paragem prevista e necessária. Para o começo da missa
naquela freguesia ainda faltava algum tempo, mas, depois da paragem retomamos a
caminhada até ela.
Quando chegamos
já tinha algumas pessoas, pessoas que aguardavam a hora para a recitação do
terço por parte do pároco dali.
Entramos e fizemos
as nossas orações, cânticos e agradecimentos, juntamente com essas pessoas. Nas
orações ouviam-se as suas vozes, já nos cânticos nem tanto, mas é
compreensível, ninguém sabe todos os cânticos. Por vezes até nós nos enganamos.
Ao sairmos, uma
pessoa agradeceu os pedidos que foram feitos pelos presentes. Sorri apenas.
Este dia estava
quase terminado. As igrejas deste dia já foram todas visitadas, agora é romar
até há freguesia das Doze Ribeiras para pernoitarmos no edifício sede do
respetivo grupo folclórico.
A meio caminho
peço ao irmão que habitualmente reza o terço da pernoita, para o fazer.
Entretanto peço à Santa Maria para se juntar á Avé Maria, criando assim 4 alas,
para que todos os irmãos assim mais juntos possam ouvir melhor.
Há entrada da
freguesia o terço está terminado e voltam a 2 alas.
Uma pequena
subida nos separa de uma sopa quente acompanhada com pão caseiro feito em forno
de lenha, um banho e de uma noite de descanso numa sala onde todos dormirão
juntos nos seus sacos cama em cima dos colchões que os irmãos sem bordão já lá
deixaram há algumas horas.
Chegámos.
Algumas pessoas da direção estão ali para nos receber com um sorriso rasgado e
olhar meigo, principalmente para as crianças.
Vou à frente e
tiro a Cruz ao irmão que a trouxe. Dou um beijo nela, seguindo-se os demais
irmãos, conforme vão entrando.
Boa noite
irmãos. Até amanhã se Deus quiser!
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