quarta-feira, 3 de março de 2021

1º DIA DE ROMARIA – VISÃO DO IRMÃO MESTRE – TERCEIRO TERÇO

 


A segunda meditação do dia completa a primeira. Alguns irmãos, que habitualmente trazem um pequeno caderno, vão tomando as suas notas. Notas para tirar duvidas posteriormente ou notas para aprofundar finda a romaria. Outros vão ouvindo e interiorizando as palavras e frases que vão saindo da boca do irmão Padre.

Ainda que ouça e vá seguindo o raciocínio do que é dito, mais umas chamadas tenho que fazer. Afasto-me um pouco e faço-as.

O irmão Padre pergunta-me se ainda tem tempo para dizer mais algumas palavras. Respondo que sim, que quando estiver no tempo, faço sinal. Claro que há alturas em que ainda há tempo e outras em que o tempo está no fim, mas, se a partilha está a ser algo que nos aquece e enche a alma, mesmo que já possa ter passado algum tempo, deixo seguir. Mais há frente, se for necessário, corto na paragem ou peço aos guias que andem um pouco mais, caso veja que nenhum irmão está mal no seu andamento. Para isso também conto com o irmão contra mestre.

Finda a segunda meditação do dia, seguimos até à igreja de São Bartolomeu.

Seguimos por um caminho pedonal fronteiro ao mar. Novamente aquele cheiro a maresia.

O caminho até há próxima igreja é longo, com subidas e caminhos planos. Depois de passarmos o Negrito, lanço novamente a salva para voltarmos a rezar alguns pedidos que, entretanto, foram pedindo, somados aos que ficaram por rezar. No final destes, continuamos em silêncio a romaria.

Falta algum fresco e vento de outras romarias, mas, todos os anos o tempo nunca é igual.

A meio da última subida até há igreja, lanço a salva e recomeçamos a cantar o Avé Maria.

Na igreja, para além do pároco, também estão alguns idosos há nossa espera. Começamos pela oração ao padroeiro e depois o cântico de entrada. Ao contrário do dia a dia em que se entra pelas laterais, hoje estão abertas as portas do meio, como se se tratasse de uma cerimónia especial marcada no calendário litúrgico.

Já não é primeiro local nem será o último.

Tendo alguma confiança com o pároco, pergunto-lhe do porquê, já que somos Pecadores convictos disso, ainda que almejemos a santidade e a Vida Eterna. Responde-me:

“– Vocês estão numa missão em nome de Jesus Cristo e como tal vêm em Seu nome e não em vosso nome, como tal, para nós é um momento especial receber aqueles que vêm em Seu nome.”

Terminados os cânticos, orações e pedidos, saímos fazendo o sinal da cruz e passando os dedos pela água benta, fazemos um segundo sinal da cruz.

Agradeço ao pároco a sua amabilidade e despeço-me com um “- Até para o ano se Deus quiser!”

Dali até à freguesia da Cinco Ribeiras, à igreja de Nossa Senhora do Pilar, são mais alguns minutos, certa de 25 minutos mais ou menos, dependendo do andamento do rancho e dos fatores meteorológicos.

Em silêncio e oração continuamos a caminhada. Já falta pouco para o descanso merecido, para descansar os ossos por algum tempo até ao início do segundo dia.

Chegados ao início da freguesia da Cinco Ribeiras, e uma sobra de estrada ali existente fazemos mais uma paragem para o que for necessário.

Tal como em outras alturas do dia, pergunto, não só ao menino da Cruz, como às demais crianças se está a correr bem, se estão bem. O menino da Cruz sei que está bem, porque os irmãos-guia também se preocupam com ele. Já houve anos em que durante algum tempo, os irmãos-guia davam as mãos ao irmão menino da Cruz para o ajudar e resultou.

Os mais atrás também vão bem, tem irmãos de ala mais velhos que os vão ajudando, quer com gestos, quer com palavras de conforto. Também por ali vai o irmão contra mestre, que bem sei se preocupar, não só pelo cargo ou ser apenas romeiro, mas também por ser avô. Mas é meu dever saber como estão todos os irmãos, especialmente os mais novos.

Dali à igreja das Cinco Ribeiras foi rápida a caminhada. Não que o rancho fosse mais depressa, mas sim que a igreja estava perto.

Ali há porta e dentro fizemos as nossas orações.

Saindo e começando em direção à última igreja deste dia, na altura devida, o irmão Lembrador das Almas lançou a salva e todos nós respondemos. Depois fez os pedidos de oração por todos os que estavam sepultados naquele cemitério, tal como em todos os outros cemitérios por onde passamos. Findado os pedidos pelos defuntos, continuamos o cântico do Avé Maria e intervalamos com os pedidos do irmão Lembrador das Almas.

À entrada de Santa Bárbara, uma paragem prevista e necessária. Para o começo da missa naquela freguesia ainda faltava algum tempo, mas, depois da paragem retomamos a caminhada até ela.

Quando chegamos já tinha algumas pessoas, pessoas que aguardavam a hora para a recitação do terço por parte do pároco dali.

Entramos e fizemos as nossas orações, cânticos e agradecimentos, juntamente com essas pessoas. Nas orações ouviam-se as suas vozes, já nos cânticos nem tanto, mas é compreensível, ninguém sabe todos os cânticos. Por vezes até nós nos enganamos.

Ao sairmos, uma pessoa agradeceu os pedidos que foram feitos pelos presentes. Sorri apenas.

Este dia estava quase terminado. As igrejas deste dia já foram todas visitadas, agora é romar até há freguesia das Doze Ribeiras para pernoitarmos no edifício sede do respetivo grupo folclórico.

A meio caminho peço ao irmão que habitualmente reza o terço da pernoita, para o fazer. Entretanto peço à Santa Maria para se juntar á Avé Maria, criando assim 4 alas, para que todos os irmãos assim mais juntos possam ouvir melhor.

Há entrada da freguesia o terço está terminado e voltam a 2 alas.

Uma pequena subida nos separa de uma sopa quente acompanhada com pão caseiro feito em forno de lenha, um banho e de uma noite de descanso numa sala onde todos dormirão juntos nos seus sacos cama em cima dos colchões que os irmãos sem bordão já lá deixaram há algumas horas.

Chegámos. Algumas pessoas da direção estão ali para nos receber com um sorriso rasgado e olhar meigo, principalmente para as crianças.

Vou à frente e tiro a Cruz ao irmão que a trouxe. Dou um beijo nela, seguindo-se os demais irmãos, conforme vão entrando.

 

Boa noite irmãos. Até amanhã se Deus quiser!

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