segunda-feira, 8 de março de 2021

20. Segunda-feira depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos libertados do poder do diabo


 Segunda-feira da III Semana da Quaresma


O Senhor disse, na iminência da Paixão: «Agora será lançado fora o

príncipe deste mundo, e eu, quando for levantado da terra, todas as coisas

atrairei a mim mesmo» (Jo 12, 31). Ora, o Senhor foi levantado da terra

pela Paixão da cruz. Logo, por ela o diabo foi privado do seu poder sobre os

homens.

Sobre o poder que o diabo exercia sobre os homens, antes da Paixão de

Cristo, devemos fazer tríplice consideração:

1. A primeira, relativa ao homem, que pelo seu pecado mereceu ser

entregue ao poder do diabo, por cuja tentação fora vencido;

2. A outra, relativa a Deus, a quem o homem ofendera pecando, e que na

sua justiça abandonou o homem ao poder do diabo.

3. A terceira é relativa ao diabo, que com sua vontade perversíssima

impedia o homem de alcançar a sua salvação.

Assim, pois, no tocante à primeira consideração, o homem foi libertado

do poder do diabo pela Paixão de Cristo, porque a Paixão de Cristo é a

causa da remissão dos pecados.

Quanto à segunda, a Paixão de Cristo nos livrou do poder do diabo, por

nos ter reconciliado com Deus.

No tocante à terceira, a Paixão de Cristo nos liberou do diabo, porque

nela o diabo ultrapassou a medida do poder que Deus lhe conferira,

maquinando a morte de Cristo, que não merecera morte por não ter

nenhum pecado. Donde o dizer Agostinho: «Pela justiça de Cristo foi

vencido o diabo, porque apesar de nada ter encontrado nele digno de

morte, contudo o matou. E portanto era justo que os devedores que detinha

em seu poder fossem mandados livres, crentes em Cristo, que o diabo

matou, apesar de não ter nenhum débito.»

É verdade que o diabo pode, ainda agora, com a permissão de Deus,

tentar os homens na alma e vexar-lhes o corpo; contudo, foi-lhe preparado

ao homem o remédio da Paixão de Cristo, com o qual pode defender-se

contra os ataques do inimigo, a fim de não ser arrastado à perdição da morte

eterna. E todo os que, antes da Paixão, resistiam ao diabo, assim o

puderam fazer pela fé na Paixão de Cristo. Embora, não estando essa

Paixão ainda consumada, de certo modo ninguém pudesse escapar às mãos

do diabo, livrando-se assim de descer ao inferno; ao passo que depois da

Paixão de Cristo todos podemos nos defender contra o poder diabólico.

Deus permite ao diabo enganar certas pessoas, em certos tempos e

lugares, por uma razão oculta dos seus juízos. Mas sempre, pela Paixão

de Cristo está preparado aos homens o remédio para se defenderem das

perversidades dos demônios, mesmo no tempo do Anticristo. E o fato de

certos descuidarem de servir-se desse remédio em nada faz diminuir a

eficácia da Paixão de Cristo.

III, q. XLIX, a. II

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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