terça-feira, 2 de março de 2021

14. Terça-feira depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo causou a nossa salvação a modo de mérito


 Terça-feira da II Semana da Quaresma


I. A Cristo foi dada a graça, não só como a uma pessoa singular, mas

enquanto cabeça da Igreja, de modo que dele redundasse para os membros

dela. Por isso as obras de Cristo estão para o mesmo e para as suas obras,

assim como estão as obras de um homem constituído em graça para com ele

próprio. Ora, é manifesto que quem, constituído em graça, sofre pela

justiça, por isso mesmo merece para si a salvação, segundo a

Escritura: «Bem aventurados os que padecem perseguição por amor da

justiça». Por onde, Cristo, pela sua paixão, mereceu a salvação não

somente para si mas também para todos os seus membros.

Em verdade, Cristo, desde o princípio da sua concepção, mereceu-nos a

salvação eterna. Mas, de nosso lado, certos impedimentos constituíam

um obstáculo a conseguirmos o efeito dos méritos precedentes. Por isso, a

fim de remover esses impedimentos é que Cristo teve de sofrer.

E ainda que a caridade de Cristo não tenha aumentado mais na Paixão

que antes, a Paixão de Cristo teve certo efeito que não tiveram os méritos

precedentes; não por causa de uma caridade maior, mas pelo gênero da

obra, que era concordante com esse efeito.

III, q. XLVIII, a. I

Os membros e a cabeça pertencem à mesma pessoa. Assim, uma vez que

Cristo foi nossa cabeça pela divindade e plenitude de graça, que redunda

para os outros, e que nós somos os seus membros, seu mérito não nos é

estranho, mas redunda em nós pela unidade do corpo místico.

III Dist. 18, a. VI.

II. Deve-se saber que, apesar de Cristo ter, por sua morte, merecido

suficientemente por todo o gênero humano, cada um deve procurar o

remédio para sua própria salvação. A morte do Cristo é como uma causa

universal de salvação, como o pecado do primeiro homem foi como uma

causa universal de danação. Ora, é preciso que a causa universal seja

aplicada a cada um especialmente, para que participe do efeito da causa

universal.

Ora, o efeito do pecado dos nossos primeiros pais chega a cada indivíduo

pela geração carnal; efeito da morte de Cristo, porém, pela regeneração

espiritual, em virtude da qual o homem é, de algum modo, unido e

incorporado em Cristo. E, por isso, convém que cada um seja regenerado

por Cristo, e que receba tudo por que opera a virtude da morte do Cristo.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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