sexta-feira, 12 de março de 2021

24. Sexta-feira depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos liberados da pena do pecado.


 Sexta-feira da terceira semana da Quaresma


«Ele foi o que tomou sobre si as nossas fraquezas e ele mesmo carregou com as

nossas dores» (Is 53, 4)

Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:


1. Primeiro diretamente; i. é, porque a Paixão de Cristo foi uma satisfação

suficiente e superabundante pelos pecados de todo o gênero humano; ora,

dada a satisfação suficiente, eliminado fica o reato da pena.

2. De outro modo, indiretamente; i. é, enquanto a Paixão de Cristo é a causa

da remissão do pecado, no qual se funda o reato da pena.

Os condenados, contudo, não estão liberados da pena, pois a Paixão de

Cristo somente produz o seu efeito naqueles a quem se aplica pela fé, pela

caridade e pelos sacramentos da fé. Ora, os condenados ao inferno, que

não estão unidos à Paixão de Cristo ao modo que acabamos de referir, não

lhe podem colher o efeito.

E apesar de termos sido liberados da pena do pecado, é preciso, no

entanto, impor aos penitentes uma pena satisfatória; pois, para se

beneficiar do efeito da Paixão de Cristo, é preciso estarmos configurados

ao Cristo.

Ora, configuramo-nos sacramentalmente a Ele no batismo, segundo aquilo

do Apóstolo (Rm 6, 4): Fomos sepultados com ele para morrer ao pecado pelo

batismo. Por isso aos batizados não se lhes impõe nenhuma pena satisfatória,

por estarem totalmente liberados pela satisfação de Cristo. Mas

porque Cristo uma só vez morreu pelos nossos pecados, no dizer da Escritura

(1 Pd 3, 18), não pode o homem uma segunda vez se configurar à morte de

Cristo pelo sacramento do batismo. E por isso, os que depois do batismo

pecam hão de assemelhar-se com Cristo, padecente por alguma penalidade

ou sofrimento, que suportem na sua pessoa. Mas essa penalidade basta,

apesar de muito menor que a merecida pelo pecado, por causa da

cooperação da satisfação de Cristo.

Mas, se a morte, que é pena do pecado, ainda subsiste, é porque a satisfação

do Cristo só tem efeito em nós enquanto fomos incorporados ao Cristo,

como os membros à cabeça. Pois é preciso que os membros estejam em

conformidade com a cabeça. Por onde, assim como Cristo teve primeiro a

graça na alma com a passibilidade do corpo, e chegou pela Paixão à glória da

imortalidade, assim também nós, que somos os seus membros, somos pela

sua Paixão liberados do reato de qualquer pena. Mas, para isso, devemos

primeiro receber na alma o Espírito de adoção de filhos, pelo qual adimos a

herança da glória da imortalidade, enquanto ainda temos um corpo passível

e mortal. Mas depois assemelhados aos sofrimentos e à morte de Cristo,

chegaremos à glória imortal segundo aquilo do Apóstolo (Rm 8, 17): Se

somos filhos somos também herdeiros; herdeiros verdadeiramente de Deus e

co-herdeiros de Cristo, se é que todavia nós padecemos com ele para que

sejamos também com ele glorificados.


IIIa q. XLIX a. 3

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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