sábado, 6 de março de 2021

18. Sábado depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo obrou nossa salvação a modo de Redenção.


 Sábado da II Semana da Quaresma


Diz a Escritura: «Não por ouro nem por prata, que são coisas corruptíveis,

haveis sido resgatados da vossa vã existência, que recebestes de vossos pais;

mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e sem

contaminação alguma.» (1 Pd 1, 18). Noutro lugar: «Cristo nos remiu da

maldição da lei, feito ele mesmo maldição por nós» (Gl 3, 13). E dito do

Apóstolo «feito maldição por nós» significa que sofreu por nós no

madeiro. Logo, pela sua Paixão nos remiu.

Pelo pecado o homem estava escravizado de dois modos:

1. Primeiro, pela servidão do pecado; pois, «todo o que comete pecado é

escravo do pecado» (Jo 8, 344)e «todo o que é vencido é escravo daquele que

venceu» (2 Pd 2, 19). Ora, como o diabo venceu ao homem, induzindo-o

ao pecado, o homem foi feito escravo do diabo.

2. Segundo, quanto ao reato da pena pela qual o homem estava ligado,

segundo a justiça de Deus. E esta também é uma escravidão; pois é próprio

do escravo sofrer o que não quer, ao contrário do homem livre, que pode

dispor de si mesmo como quer.

Por onde, sendo a Paixão de Cristo uma satisfação suficiente e

superabundante pelo pecado e pelo reato do gênero humano, a sua

Paixão foi um como preço, pelo qual fomos livrados de uma e outra

escravidão. Assim, a satisfação pela qual satisfazemos por nós ou por

outrem é considerada um preço pelo qual nos remimos do pecado e da pena,

segundo a Escritura: «Redime os teus pecados com a esmola» (Dn 4, 24).

Ora, Cristo satisfez, não certo dando dinheiro nem por qualquer forma

semelhante, mas dando-se a ele próprio — bem máximo — por nós. Por

isso é que se diz ser a Paixão de Cristo nossa redenção.

***

O homem, pecando, contraiu uma obrigação tanto para com Deus como

para o diabo:

— Pois, pela culpa, ofendeu a Deus e sujeitou-se ao diabo, pelo seu

consentimento. E assim, em razão da culpa, não se tornou servo de Deus;

mas antes, afastando-se do seu serviço, incorreu na escravidão do diabo, por

justa permissão de Deus, por causa da ofensa contra ele cometida.

— Mas, quanto à pena, o homem contraiu principalmente uma

obrigação para com Deus, como supremo juiz; e para com o diabo, como

seu algoz, segundo aquilo do Evangelho (Mt 5, 25): «Para que te não suceda

que o teu adversário te entregue ao juiz e que o juiz te entregue ao seu

ministro», i. é, ao anjo cruel da pena, como interpreta Crisóstomo. Embora,

pois, o diabo retivesse, injustamente e na medida do seu poder, sob o seu

jugo o homem enganado pela sua fraude, tanto quanto à culpa como quanto

à pena, contudo, era justo que isso o homem o sofresse, por permissão de

Deus, quanto à culpa, e pela ordem do mesmo Deus, quanto à pena.

Por onde, relativamente a Deus, a justiça exigia fosse o homem redimido;

não porém relativamente ao diabo.

III q. XLVIII, a. IV.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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