Segunda-feira da II Semana da Quaresma
«Entregá-lo-ão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado» (Mt
20, 19)
1. No modo mesmo da paixão de Cristo lhe estava prefigurado o efeito.
Assim, o primeiro efeito da morte de Cristo aproveitou aos judeus,
muitos dos quais foram batizados na ocasião dessa morte, como se lê na
Escritura. Depois, mediante a pregação dos judeus, o efeito da paixão de
Cristo o sentiram os gentios. Por onde, foi conveniente que Cristo
começasse a sofrer da parte dos judeus e em seguida, entregue por estes, a
sua Paixão se consumasse pelas mãos dos gentios.
2. Cristo, para mostrar a abundância da sua caridade, que o levou a
sofrer, pediu do alto da cruz perdão pelos seus perseguidores. Por isso, a
fim de os frutos dessa petição chegarem aos judeus e aos gentios, quis Cristo
sofrer da parte de uns, como de outros.
3. Os sacrifícios figurados da lei antiga não os ofereciam os gentios, mas
os judeus. Ora, a Paixão de Cristo foi a oblação de um sacrifício, pois
Cristo sofreu a morte movido da caridade, por vontade própria. Mas o
sofrimento que lhe infligiram os perseguidores não foi sacrifício, mas
pecado gravíssimo.
4. Como pondera Agostinho, quando os judeus disseram «A nós não nos é
permitido matar ninguém», entendiam significar que não lhes era lícito
matar ninguém por causa da santidade do dia festivo, que já começavam a
celebrar. Ou isso diziam, como ensina Crisóstomo, porque queriam matar a
Jesus não como transgressor da lei, mas como inimigo público, por se ter
feito rei — do que não lhes competia julgar. Ou porque não lhes era lícito
crucificá-lo, como desejavam, mas sim lapidar — o que fizeram com
Estevão. Ou, melhor é dizer, que pelos Romanos, a quem estavam sujeitos,
era-lhes negado o poder de matar.
III, q. XLVII, a. IV
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
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