quarta-feira, 3 de março de 2021

15. Quarta-feira depois do II domingo da Quaresma: A Paixão de Cristo causou nossa salvação a modo de satisfação


 Quarta-feira da II Semana da Quaresma

«Ele é propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos, mas

também pelos de todo o mundo» (1 Jo 2, 2)


I. Propriamente falando, satisfaz pela ofensa quem, ao ofendido, oferece

algo que este ame tanto ou mais do que odeia a ofensa. Ora, Cristo,

sofrendo por obediência e caridade, ofereceu a Deus um bem maior do que

o exigido pela recompensa da ofensa total do gênero humano. Assim,

primeiro, pela grandeza da caridade, pela qual sofria. Segundo, pela

dignidade de sua vida, que oferecia em satisfação, que era a vida de Deus e

do homem. Terceiro, por causa da generalidade da Paixão e da grandeza

da dor assumida. Por onde, a Paixão de Cristo foi uma satisfação não só

suficiente, mas superabundante pelos pecados do gênero humano, segundo

aquilo do Evangelho: «Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente

pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo» (Mt 20, 19).

Em verdade, quem peca é que deve dar satisfação; porém, a cabeça e os

membros constituem uma como pessoa mística. Por isso, a satisfação de

Cristo pertence a todos os fiéis, como aos seus membros. Assim, também

quando dois homens estão unidos pela caridade, um pode satisfazer por

outro.

III, q. XLVIII, a. II

II. Ainda que Cristo tenha, com sua morte, satisfeito suficientemente pelo

pecado original, não é inconveniente que as penalidades conseqüentes

deste pecado permaneçam ainda naqueles que participam da redenção de

Cristo. Com efeito, que a pena continue mesmo após a abolição da culpa, é

algo em que se encontra harmonia e utilidade:

1. Para que exista conformidade entre os fiéis e Cristo, como entre os

membros e a cabeça. Ora, assim como Cristo suportou muitos sofrimentos

até chegar a glória da imortalidade, assim convinha que seus fiéis passassem

por sofrimentos até chegarem a imortalidade; trazem em si mesmos as

marcas da Paixão de Cristo, por assim dizer, para obter uma glória

semelhante a sua.

2. Pois, se os homens que vêm ao Cristo recebessem prontamente a

imortalidade e a impassibilidade, muitos homens se aproximariam do

Cristo mais por causa destes benefícios corporais que pelos bens

espirituais, o que vai contra a intenção de Cristo, que veio ao mundo para

levar os homens, do amor das coisas corporais, ao amor das espirituais.

3. Enfim, se os que se aproximam de Cristo se tornassem,

instantaneamente, impassíveis e imortais, isto, de certo modo, os

compeliria a abraçar a fé de Cristo. O que diminuiria o mérito da fé.

Contr. 4, 55.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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