domingo, 28 de março de 2021

40. Domingo de Ramos: Utilidade da Paixão de Cristo como exemplo


 Domingo de Ramos


Como disse S. Agostinho: "A Paixão de Cristo é suficiente para ser modelo de

toda a nossa vida". Quem quer que queira ser perfeito na vida, nada mais é

necessário fazer senão desprezar o que Cristo desprezou na cruz, e desejar o

que nela Ele desejou. Nenhum exemplo de virtude deixa de estar presente na

cruz.

Se nelas buscas um exemplo de caridade, "ninguém tem maior caridade do

que aquele que dá sua vida pelos amigos" (Jo 15, 13). Ora, foi o que Cristo fez

na cruz. Por isso, já que Cristo entregou a sua vida por nós, não nos deve ser

pesado suportar toda espécie de males por amor a Ele. "O que retribuirei ao

Senhor, por todas as coisas que Ele me deu?" (Ps. 115, 12).

Se procuras na cruz um exemplo de paciência, nela encontrarás uma imensa

paciência. A paciência manifesta-se extraordinária de dois modos: ou

quando alguém suporta grandes males pacientemente, ou quando suporta

aquilo que poderia ser evitado e não quis evitar. Cristo na cruz suportou

grandes sofrimentos: "Ó vós todos que passais pelo caminho parai e vede se há

dor igual à minha!" (Lm 1, 17), e os suportou pacientemente, "como a ovelha

levada para o matadouro e como o cordeiro silencioso na tosquia" (1 Pd 2, 23).

Cristo na cruz suportou também os males que poderia ter evitado, mas não

os evitou: "Julgais que não posso rogar a meu Pai e que Ele logo não me envie

mais que doze legiões de Anjos?" (Mt 26, 53). Realmente, a paciência de

Cristo na cruz foi imensa! "Corramos com paciência para o combate que nos

espera, com os olhos fitos em Jesus, o autor da nossa fé, que a levará ao termo:

Ele que, lhe tendo sido oferecida a alegria, suportou a cruz sem levar em

consideração a sua humilhação" (Heb 36, 17).

Se desejares ver na cruz um exemplo de humildade, basta-te olhar para o

crucifixo. Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer: "A vossa causa,

Senhor, foi julgada como a de um ímpio" (Jo 36, 17). Sim, de um ímpio,

porque disseram: "Condenemo-lo a uma morte muito vergonhosa" (Sb 2, 20).

O Senhor quis morrer pelo seu servo, e Aquele que dá a vida aos Anjos, pelo

homem: "Fez-se obediente até à morte" (Fl 2, 8)

Se queres na cruz um exemplo de obediência, segue Àquele que se fez

obediente ao pai, até à morte: "Assim como pela desobediência de um só

homem, muitos se tornaram pecadores; também pela obediência de um só

homem, muitos se tornaram justos" (Rm 5, 19).

Se na cruz estás procurando um exemplo de desprezo das coisas terrenas,

segue Àquele que é o Rei e o Senhor dos Senhores no qual estão os tesouros

da sabedoria, mas que na cruz aparece nu, ridicularizado, escarrado,

flagelado, coroado de espinhos, na sede saciado com fel e vinagre e morto.

Não deves te apegar às vestes e às riquezas, "porque dividiram entre si as

minhas vestes" (Sl 29, 19); nem às honras, porque "Eu suportei as zombarias e

os açoites"; nem às dignidades, porque "puseram em minha cabeça uma coroa

de espinhos que trançaram"; nem às delícias, porque "na minha sede deramme

vinagre para beber" (Sl 68, 22)


In Symb.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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