domingo, 14 de março de 2021

26. Quarto domingo da Quaresma: Cristo com sua paixão abriu a porta do céu


 IV Domingo da Quaresma


«Portanto, irmãos, tenham confiança de entrar no Santuário pelo sangue de

Cristo.» (Hb 10, 19)


O fechamento de uma porta é um obstáculo que impede a entrada das

pessoas. Ora, os homens estavam impedidos de entrar no reino dos céus por

causa do pecado, pois, como diz Isaías (25, 8): "Caminho sagrado chamá-loão.

O impuro não passará por ele".

E há dois pecados que impedem a entrada do reino dos céus. Um é o pecado

de nosso primeiro pai, pecado comum a toda a natureza humana e que

fechava ao homem a entrada do reino celeste. Por isso, se lê no livro do

Gênesis, que, depois do pecado do primeiro homem, "Deus postou os

querubins com uma espada de fogo e versátil, para guardar o caminho da

árvore da vida". O outro é o pecado especial de cada pessoa, cometido pelo

ato pessoal de cada homem.

Pela paixão de Cristo somos libertados não só do pecado comum a toda a

natureza humana, em relação à culpa e em relação à dívida da pena, uma vez

que ele pagou por nós o preço, mas também dos pecados próprios de cada

um dos que participam da paixão dele pela fé, pelo amor, e pelos

sacramentos da fé. Consequentemente, pela paixão de Cristo foi-nos aberta a

porta do reino celeste. E é precisamente isso que nos diz a Carta aos Hebreus

(9, 11): "Cristo, sumo sacerdote dos bens vindouros, por seu próprio sangue,

entrou uma vez para sempre no santuário e obteve uma libertação definitiva".

É o que dá a entender o livro dos Números quando diz que o homicida "ali

permanecerá", ou seja, na cidade de refúgio, "até a morte do sumo sacerdote

consagrado com o óleo santo" (Nm 35, 25); depois da morte deste, voltará

para sua casa.

Deve-se dizer que os Patriarcas, ao realizarem obras de justiça, mereceram

entrar no reino celeste pela fé na paixão de Cristo, segundo o que diz a Carta

aos Hebreus (Hb 11, 33): "Graças à fé, conquistaram reinos, praticaram a

justiça"; por ela, cada um deles ficava limpo do pecado, quanto condiz com a

purificação da própria pessoa. Contudo a fé ou a justiça de nenhum deles era

suficiente para remover o impedimento proveniente da dívida de todas as

criaturas humanas. Impedimento que foi removido pelo preço do sangue de

Cristo. Por isso, antes da paixão de Cristo, ninguém pudera entrar no reino

celeste, ou seja, conseguir a eterna bem-aventurança, que consiste no pleno

gozo de Deus.

Cristo, com sua paixão, mereceu-nos a abertura do reino celeste e removeu o

impedimento; mas pela ascensão como que nos introduziu na posse do reino

celeste. Por isso, se diz que "já subiu, diante deles, aquele que abre o caminho"

(Mq 2, 13).


III, q. XLIX, a. 5

Sem comentários: