quinta-feira, 18 de março de 2021

30. Quinta-feira depois do IV domingo da Quaresma: A morte de Lázaro


 Quinta-feira da IV semana da Quaresma

«Nosso amigo Lázaro dorme» (Jo 11, 11)


I. Chamamos alguém de "Nosso amigo", por causa dos numerosos benefícios

e serviços que nos prestou; é por isso que não devemos faltar-lhe na

necessidade.

"...Lázaro dorme": essa a razão de precisarmos socorrê-lo. "Aquele que é

amigo... torna-se um irmão no tempo da desventura" (Pr 17, 17). No dizer de

santo Agostinho, ele dorme para o Senhor; para os homens, que não o

podem ressuscitar, está morto.

A palavra sono pode ser utilizada para significar muitas coisas: o próprio

sono natural, as negligências, o sono da culpa, o repouso da contemplação

ou da glória futura e, por vezes, a morte, como diz são Paulo, "não queremos,

irmãos, que estais na ignorância acerca dos que dormem, para que não vos

entristeçais como os outros, que não têm esperança" (1 Ts 4, 13).

A morte é chamada de sono por causa da esperança da ressurreição. Por

isso costuma-se chamá-la de "repouso" desde o tempo em que Nosso

Senhor morreu e ressuscitou: "Deitei-me e adormeci" (Sl 3, 6).

II. "mas vou despertá-lo." Com isso, Jesus dá a entender que lhe é tão fácil

ressuscitar Lázaro do túmulo quanto despertar alguém da cama. Nada

que possa surpreender, pois é Ele quem suscita os mortos e os vivifica. Por

isso disse: "Não vos admireis disso, porque virá tempo em que todos os que se

encontram nos sepulcros escutarão a voz do Filho de Deus" (Jo 5, 28).

III. "vamos ter com ele". Brilha aqui a clemência de Deus, enquanto os

homens, em estado de pecado e como mortos, não podem por si mesmos

ir até Ele, é Ele quem os atrai, precedendo-lhes misericordiosamente,

como aquilo das Escrituras: "Eu amei-te com amor eterno; por isso, mantive o

meu favor para contigo" (Jr 31, 3).

IV. "Chegou, pois, Jesus, e encontrou-o já há quatro dias no

sepulcro." Segundo santo Agostinho, Lázaro, morto há quatro dias,

significa o pecador retido pela morte de um pecado quádruplo: o pecado

original, o pecado contra a lei natural, o pecado atual contra a lei

positiva, o pecado atual contra a lei do Evangelho e da graça.

Ou então, pode-se dizer que o primeiro dia é o pecado do coração, cf. "tirai

de diante dos meus olhos a malícia dos vossos pensamentos" (Is 1, 16); o

segundo, o pecado da língua,"Nenhuma palavra má saia da vossa boca" (Ef

4, 19); o terceiro, o pecado das obras, sobre o qual diz Isaías, "cessai de fazer

o mal" (Is 1, 16); o quarto dia é o pecado dos hábitos maus.

De qualquer modo que se exponha o texto, o Senhor cura por vezes os

mortos de quatro dias, isto é, os que transgridem a lei do Evangelho e estão

presos no hábito do pecado.


In Joan, XI

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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