quinta-feira, 25 de março de 2021

37. Quinta-feira depois do I domingo da Paixão: O Sinal maior do amor de Cristo


 quinta-feira da I semana da Paixão


Aparentemente, a maior prova do amor de Cristo por nós foi o ter dado seu

corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós, pois a caridade da Pátria é

mais perfeita que a caridade da Via. Ora, este benefício com que Deus nos

agraciou, ao nos dar seu corpo como alimento, é mais similar à caridade da

Pátria, onde gozaremos plenamente de Deus, enquanto a Paixão a que Cristo

se submeteu mais se assemelha à caridade da Via, onde nos expomos a

morrer por Cristo. Assim, pois, a maior prova de amor de Cristo seria o ter

nos dado seu corpo como alimento, e não o ter sofrido por nós.

Contudo, lemos no Evangelho (Jo 15, 13): "Não há maior amor do que dar a

própria vida pelos seus amigos".

Solução: No que diz respeito ao amor humano, nada ultrapassa o amor com

que nos amamos a nós mesmos, por isso este amor é a medida de todo amor

que sentimos pelos demais. Ora, o característico do amor com que nos

amamos a nós mesmos, é o querer o bem a nós mesmos. Portanto, o amor

ao próximo será tanto mais evidente quanto mais preterirmos em seu

proveito o bem que desejamos para nós, como aquilo das Escrituras (Pr 12,

26): "Aquele que por amor do seu amigo não repara em sofrer alguma perda, é

justo".

Ora, o homem quer para si mesmo um triplo bem particular: sua alma, seu

corpo, os bens exteriores.

Suportar algum prejuízo nos bens exteriores por causa de outrem é sinal

de amor.

Sofrer corporalmente por outrem, em trabalhos ou agressões, é sinal

ainda maior de amor.

Contudo, abandonar sua alma e morrer pelo amigo, eis o sinal máximo

de amor.

Assim, ao sofrer e morrer por nós, Cristo nos deu a maior prova de seu

amor. Ao nos dar seu próprio corpo como alimento, o fez sem nenhum

detrimento próprio.

A Paixão é a maior prova do amor de Deus. Por isso a Eucaristia é memorial

e figura da Paixão de Cristo. Ora, a verdade se superpõe à figura e a

realidade, ao memorial.

A produção do corpo de Cristo no Santo Sacramento é figura do amor com

que Deus nos ama na Pátria; mas a Paixão de Cristo pertence ao amor

mesmo de Deus, que nos tirou da perdição para nos levar a si. O amor de

Deus não é maior no céu que no presente.


Quodl. V, q. III, a. II.

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