domingo, 7 de março de 2021

19. Terceiro domingo da Quaresma: Pela Paixão somos liberados do pecado


 III Domingo da Quaresma


«Amou-nos e nos lavou dos pecados no seu sangue» (Ap 1, 5)

A Paixão de Cristo é a causa própria da remissão dos pecados, por três

razões:

1. Primeiro, como causa que provoca caridade. Pois, no dizer do

Apóstolo, «Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque ainda quando

éramos pecadores, em seu tempo morreu Cristo por nós» (Rm 5, 8). Ora, pela

caridade conseguimos o perdão dos pecados, conforme o

Evangelho: «Perdoados lhe são seus muitos pecados, porque amou

muito.» (Lc 7, 47).

2. Segundo, a Paixão de Cristo causa a remissão dos pecados a modo de

redenção. Pois, sendo Cristo a nossa cabeça, pela Paixão que sofreu por

obediência e caridade, liberou-nos, como a seus membros, do pecado,

como pelo preço da sua Paixão; como no caso de alguém que, por uma

obra meritória manual, se resgatasse do pecado que com os pés tivesse

cometido. Assim como, pois, o corpo natural é uno, na diversidade dos seus

membros, assim a Igreja na sua totalidade, que é o corpo místico de Cristo, é

considerada quase uma mesma pessoa com a sua cabeça que é Cristo.

3. Terceiro, o modo de eficiência, enquanto a carne, na qual Cristo sofreu

a sua Paixão, é o instrumento da divindade; pelo qual os padecimentos e

as ações de Cristo agem com virtude divina, com o fim de delir o pecado.

Cristo, pela sua Paixão nos livrou dos pecados casualmente, i. é, por ter

instituído a causa da nossa liberação, em virtude da qual pudesse perdoar

num momento dado quaisquer pecados — passados, presentes ou futuros.

Tal o médico que preparasse um remédio capaz de curar quaisquer doenças,

mesmo futuras.

Mas, sendo a Paixão de Cristo a causa universal antecedente da remissão

dos pecados, é necessário aplicá-la a cada um a fim de delir os pecados

próprios. O que se dá pelo batismo, pela penitência e pelos outros

sacramentos, que tiram a sua virtude da Paixão de Cristo.

Pela fé também nos é aplicada a Paixão de Cristo, a fim de lhe colhermos

os frutos, segundo aquilo do Apóstolo: «Ao qual propôs Deus para ser vítima

de propiciação pela fé no seu sangue» (Rm 3, 25). Mas a fé, pela qual nos

purificamos do pecado, não é uma fé informe, que pode coexistir com o

pecado, mas a fé informada pela caridade. De modo que a Paixão de Cristo

nos é aplicada, não só quando ao intelecto, mas também quanto ao afeto. E

também deste modo os pecados são perdoados por virtude da Paixão de

Cristo.

III q. XLIX, a. I

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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