Sexta-feira da II Semana da Quaresma
«José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol branco. E depositou-o no seu
sepulcro novo» (Mt 27, 59)
I. — Por este sudário designam-se três coisas, em sentido místico:
1. A carne puríssima de Cristo. Feito de linho, que se embranquece com
muita pressão, o sudário representa a carne de Cristo, que chega ao alvor da
ressurreição pela violência. Conforme o Evangelho: «Cristo devia sofrer e
ressuscitar dos mortos» (At 17, 3).
2. A Igreja, que não tenha mancha nem ruga. É o que representa este linho,
fiado com diversas linhas.
3. A consciência pura, onde Cristo repousa.
II. — «E depositou-o no seu sepulcro novo» (Mt 27, 59). O texto diz, de
início, que o sepulcro não era seu. E é muito conveniente que aquele que
morrera pelos pecados dos outros fosse sepultado em um sepulcro alheio.
O texto diz que o sepulcro era «novo», pois se outros corpos tivessem sido
depositados aí, não se saberia qual tinha ressuscitado. Outra razão é que,
àquele que nasceu de uma virgem intacta, convinha ser sepultado num
sepulcro novo; assim como no ventre de Maria não houve ninguém antes ou
depois dele, assim também neste sepulcro. Do mesmo modo, para
significar ainda que Cristo habita pela fé, escondido na alma
renovada: «que Cristo habite pela fé nos vossos corações» (Ef 3, 17)
E S. João acrescenta, «Ora, no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um
jardim, e no jardim um sepulcro novo.» (Jo 19, 41). É digno de nota que
Jesus, capturado num jardim, tenha sofrido sua Paixão e sido sepultado
num jardim; como que para significar que, pela virtude da sua Paixão,
somos libertados do pecado que Adão, no jardim das delícias, cometeu; e
que é por Jesus que a Igreja é consagrada, ela, que é como o Jardim
fechado, do Cântico.
In Matth., XXVII.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)
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