Possível
explicação da pintura de
Nossa
Senhora Mãe
dos Romeiros
“Deus
quer, o Homem sonha, a obra nasce”,
já dizia o poeta Fernando Pessoa.
Não
sinto que Deus queria verdadeiramente que o rancho oferece-se uma
tela representando a Sua e nossa Mãe Maria Santíssima ao Santuário
de Nossa Senhora da Conceição, no entanto, durante alguns meses
sonhei
com uma pintura que a representasse como “Mãe
dos Romeiros”,
tal como dizemos no fim das orações realizadas nos encontros
mensais. Aliás, depois de uma pesquisa na internet sobre a origem
dessa denominação, encontrei o seguinte paragrafo:
“Nos
anos 60 do século passado pela primeira vez aparece a denominação
de "NOSSA SENHORA DO ROMEIRO", num nicho construído em
Algarvia no Concelho do Nordeste. Este Nicho é paragem obrigatória
para todos os ranchos para rezar, refletir e descansar.”1
Obviamente
e que haja conhecimento, Nossa Senhora nunca apareceu
a um rancho de romeiros, ainda que saibamos e sintamos no âmago
da alma
que Ela caminha connosco em romaria, no entanto, sonhava
numa pintura que a representasse como tal.
Depois
de algum tempo para amadurecimento
da ideia,
conforme costuma dizer o meu piedoso irmão Contra-Mestre Adalberto
Couto, fui aos poucos apontando o que sentia que deveria fazer parte
da pintura em causa, fruto das vivências ocorridas durante as
romarias anteriores. Esta soma de apontamentos culminou na pintura
que foi entregue no final da X Romaria Quaresmal ocorrida no ano
findo e que se encontra no Passal.
Passando
estes dois parágrafos, não
para me mostrar ou querer ser mais do que os demais,
mas sim apenas
para uma breve explicação introdutória, passo a descrever a
pintura em causa, do ponto de vista de
sonhador.
Começando
pelas árvores quase a formarem uma arcada (qual
porta principal de uma igreja),
representam o 4º dia de romaria, aquele dia em que apelidamos de dia
do deserto. A meio desse dia, passamos por uma zona semelhante, e
qual oásis no meio do deserto, ali encontramos alguma sombra e ar
fresco em dias de calor. Uma particularidade interessante nestas
árvores, é que o pintor sem que lhe tivesse sido dito, usou
diversas tonalidades maioritariamente roxas, cor essa que é a usada,
em termos litúrgicos, no Tempo Quaresmal.
A
pomba sob Nossa Senhora, representa o Espírito Santo e os sete
irmãos romeiros pedido a sua interceção, não sendo de forma
alguma equiparáveis ao Apóstolos, de certa forma representam os
sete dons do Divino Espírito Santo.
As
tonalidades de azul que cobre o céu representa, não só as manhãs
em romaria, como também é uma cor usada durante as festas e
solenidades da Santíssima Virgem Maria.
A
coroa de doze estrelas, representa a passagem bíblica descrita no
Livro do Apocalipse, onde é dito “Depois,
apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a
Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça.”2
Os
anjos que seguram o manto, representam cada um de nós, pecadores,
mas que se alegram por um só que se converta.3
O
interior do manto de cor escura, simboliza a escuridão. A escuridão
nas madrugadas em romaria, mas principalmente a escuridão da alma,
que muitas vezes passamos ao longa vida, no entanto, mesmo no meio de
qualquer tipo de escuridão, Maria protege-nos sempre com o seu
manto.
Os
dois trios de romeiros de joelhos orando à Sua e Nossa Mãe, de
certa forma representam quem
nos acompanha em romaria,
seja a Sagrada
Família
ou a Santíssima
Trindade.
A
cor do vestido de nossa senhora, remete-nos para a Paixão do Senhor
e o sangue que Derramou por todos nós. Liturgicamente é uma cor
usada no domingo de ramos, na sexta-feira Santa, assim como no
domingo de Pentecostes. Atrevo-me
a ir mais longe no meu pensamento
em relação a esta cor, às palavras de Simeão, quando tomou Cristo
nos seus braços e para além de ter bendito a Deus, terminou dizendo
que uma espada trespassaria a alma de Maria sua mãe.4
Obviamente
que no trespassar
a alma,
não há verdadeiro derramamento de sangue, no entanto, sinto que
será
qualquer coisa
como esvair-se em sangue interiormente.
Os
bordões dispostos dois a dois, por uma vertente simbolizam as duas
alas em que a romaria caminha ao longo do dia e por outra vertente as
quatro alas criadas quase ao fim do dia, quando a “Santa
Maria”
se encosta à “Avé
Maria”
para rezarem o terço da pernoita.
As
dez rosas foram a forma bonita e poética de representar as dez
romarias realizadas até ao ano findo. Confesso que sem ter sido
pensado, depois de ter visto o quadro veio-me há ideia a enorme
devoção que tenho para com Nossa Senhora, mais precisamente na de
Guadalupe e o significado das rosas, nas suas aparições a Juan
Diego no México no ano de 1531.
Por
último,
mas
os últimos serão os primeiros5,
temos o irmão mais importante em qualquer romaria, mais importante
até que o Irmão Mestre ou Contra-Mestre, o irmão sem o qual nenhum
rancho vai para a estrada, refiro-me ao menino
da cruz.
Por norma é uma criança que transporta o Crucifixo e no meu fraco
entender, porque as crianças são puras, não têm maldade nas
palavras e atos e é
delas o Reino do Céu6.
Paulo
Roldão
(um
irmão romeiro, como os demais)
1
-
http://romeiros-ribeiraquente.blogspot.com/2008/11/imagem-de-nossa-senhora-me-de-deus-e-do.html
2
- Ap 12,1
3
- Lc 15, 10
4
- Lc 12, 35
5
- Mt 20, 16
6
- Mt 19, 14
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