“- O que é uma romaria?”
Em
termos meramente humanos, poderia dizer que é um caminhar, algumas vezes
penoso, doloroso e até em condições voluntariamente precárias, mas cheio de
encantos. Já em termos espirituais, poderia dizer que é um retiro, não entre
quatro paredes mas sim ao ar livre, no qual nos encontramos com Ele seguindo-O
como Sua Mãe.
No
entanto para aqueles que nunca fizeram esta caminhada
é um pouco difícil perceberem esta simples explicação, e aqueles que já a
fizerem, por muito que lhes tentem
explicar, os primeiros muito dificilmente conseguirão compreender. Uma romaria
é algo que se vive dentro de nós, na nossa alma e não existem palavras
suficientes que consigam explicar isso.
Desde
sempre que faz parte do ser humano a necessidade de se transcender, de
se superar e de andar à procura do absoluto. Esta necessidade é um
fenómeno que apareceu ainda antes do Cristianismo.
Após
a Ressurreição de Cristo, os crentes começaram a fazer caminhadas aos
principais centros do cristianismo. No início dirigiram-se a Jerusalém e eram
chamados de palmeiros, por causa dos ramos de palma
presente nos oásis do deserto. Ramos esses também usados na Sua entrada em
Jerusalém. Com a expansão do islamismo naquela zona no século XI, os muçulmanos
começaram a criar dificuldades para que os palmeiros pudessem visitar a Terra
Santa, passando inclusivamente a persegui-los. Tendo em conta essa situação,
muitos começaram a ir aos túmulos de Pedro e Paulo, como meta, passando
a designarem-se de romeiros, porque iam a Roma, local onde
tinham sido mortos estes primeiros apóstolos. De certa forma, a capital do
império romano tomou o lugar de Jerusalém. Aliás, Roma naquele tempo, quis
mesmo chamar-se “nova Jerusalém”. A partir do século XII começaram a aparecer
os peregrinos, nome dado ao que se punham a caminho de
Santiago de Compostela.
Qualquer
uma dessas caminhadas, tinham e têm como único objetivo ir rezar a um
determinado lugar, se bem que durante o percurso possam também rezar. Uma caminhada
assim, não é só um ato de fé, mas também de audácia e coragem. Palmeiros,
romeiros e peregrinos, têm em comum a
experiência da memória de uma viagem inicial e fundadora, semelhante há que
Abraão fez quando saiu de uma terra à procura de um algures, que uma voz
lhe indicara.
Após
esta pequena introdução, então porque se deu o nome de romaria a
esta singular peregrinação cristã[1] que ocorre em algumas
ilhas dos Açores, sendo mais antigas as que se realizam na Ilha de São Miguel?
Em
termos históricos poderá haver alguma razão ou fundamento para esse facto que
desconheço, no entanto, gostaria de entrar num campo meramente poético
da minha parte, mas que religiosamente poderá fazer algum sentido. Assim, o
termo romaria, vem do tempo em que iam a Roma aos túmulos dos primeiros
apóstolos ali sepultados, e se Pedro é a Pedra sobre a qual Jesus Cristo
edificou a Sua Igreja[2]
então foi o sucessor da Pedra angular[3]. Nesta minha lógica
poética, o termo terá sido adotado pelos irmãos naquele tempo, porque é essa
pedra angular que seguiam e ainda hoje seguimos, como pecadores
assumidos, uma vez que Ele caminha connosco no Crucifixo que o menino[4] da
cruz leva consigo à frente do rancho. Curiosamente, as nossas orações apesar de
serem dirigidas a Maria, Sua e nossa Mãe, a sua simbologia é cristológica.
Segundo o Padre Luís Leal, “o culto mariológico aparece como sinal de mediação,
apresentando Maria como ‘indicadora e apontadora’ do caminho para Cristo”.
Termino
esta lógica poética, dizendo que a palavra escrita romeiro
está quase perfeita. Quase perfeita atendendo à explicação no
parágrafo anterior, a palavra escrita deveria ser roMaria, porque caminhamos até Roma por Maria.
8 de dezembro de 2018
Paulo Roldão
(Um irmão romeiro, como os demais)
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