Proferida pelo Padre Alexandre,
Reitor do Seminário de Angra do Heroísmo.
Imaculada Conceição 2015
“Ave Maria, cheia de graça,
Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal, Mãe de Misericórdia, rogai por nós
pecadores! Aqui nos prostramos, para que a nossa humanidade ferida seja digna
de vos louvar e convosco seja mais divina e por isso autenticamente humana”
Digníssimo Reitor deste Santuário!
Caríssimos Irmãos e Seminaristas!
Caros ouvintes, doentes e
emigrantes!
A solenidade que celebramos encerra
em si toda a grandeza da redenção da humanidade, dando pleno sentido e culminando
desde já o Ano Santo da Misericórdia que iniciamos, numa espécie de trailer que resume tudo o que deveríamos
ser.
Deus nunca abandonou a fraqueza
humana, nem as nossas misérias. Conhece os nossos limites e o nosso pecado e
sabe que não somos capazes de uma felicidade sem Ele. O pecado dos nossos pais
e de cada um de nós, expresso neste texto do Génesis, em que Adão e Eva se
deixam corromper pela astúcia da serpente, é a história de cada pecado. Reparai
que Adão acusa Eva de o ter corrompido e Eva acusa a Serpente. O pecado faz
isso, depois de realizado, separa, divide, acusa, gera medo e indiferença. Até
têm medo de Deus: “ouvi o rumor dos teus passos no jardim e, como estava nu,
tive medo e escondi-me”. Num último momento, o homem esconde-se, porque reconhece
que fez mal. O problema está aí: ficar no esconderijo das máscaras que se
arranjam para dizer a todos que tudo está bem. E não faltam ideologias que
mentem e enganam a nossa própria realidade.
Apesar da nossa
debilidade, o sonho do amor louco e sumamente criativo de Deus torna-se
realidade quando prepara a vinda do Seu Filho, já antecipado na concepção de
Sua Mãe. Um projeto de amor desde toda a eternidade, numa história que se
define de salvação! Por isso, celebramos a solenidade da
Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, como doutrina que sustenta «que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro
instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus omnipotente,
em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, foi preservada
imune de toda mancha de pecado original». Desde o seu primeiro instante ela
está isenta do pecado, cheia de graça, cheia de Deus.
Ao longo da História, a Igreja sempre ensinou a olhar para Maria não só
como testemunha e modelo, mas também como criatura particular da Misericórdia
de Deus. Maria foi redimida como todos nós, mas com a excepcionalidade de o ter
sido desde o primeiro instante da sua existência isenta de toda a mancha do
pecado. Por isso, a Igreja Oriental a descreve como “Παναγὶα”, toda santa! Ela é
como que a arca segura no meio do dilúvio, a aurora da nova criação. Em Maria
vislumbramos o plano original do criador, e o horizonte do homem redimido. A
mensagem do Evangelho da Misericórdia tomou forma concreta, mundana, humana, na
qual compreendemos a força transformadora de Deus, não somente com a mente, mas
também com o coração. Maria não é só modelo e ideal de uma renovada civilização
e espiritualidade cristã da misericórdia, mas também, intercessora
misericordiosa para cada cristão. Por isso, no séc. XV, foi acrescentada à
oração da Ave Maria da saudação do Anjo e da sua prima Santa Isabel a súplica: “rogai
por nós pecadores agora e na hora da nossa morte”. Esta oração nem sequer é
estranha ao próprio Lutero, que, num comentário ao Magnificat, afirma “Cristo
nos conceda isto através da intercessão e a vontade da sua querida mãe Maria”. No
entanto, tal não nega que Cristo seja o único Mediador, para O qual aponta
sempre a Sua Mãe.
Maria mostra-nos uma coisa: o Evangelho da
Misericórdia de Deus em Jesus Cristo é o melhor que jamais nos foi dito e que
nós podemos ouvir, e é simultaneamente o que de mais belo pode existir, porque
pode transfigurar-nos, e ao nosso mundo. É um dom e ao mesmo tempo uma tarefa,
que devemos viver e testemunhar com a nossa palavra e com a vida, para que o
nosso mundo seja mais quente, luminoso, digno de ser vivido e amado!
Por isso, após esta Eucaristia
teremos a oportunidade de nos aproximarmos mais de Cristo, através do modelo
que é a Mãe da Misericórdia, Nossa Senhora da Conceição, ao sermos convidados a
celebrar o Sacramento da Reconciliação, nesta noite da Misericórdia, uma
oportunidade extraordinária e iniciativa da Zona Pastoral de Angra.
Afirma o Papa Francisco na Bula de
Proclamação deste ano.
“O pensamento volta-se agora para a
Mãe da Misericórdia. A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para
podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como
Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida,
tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado
Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou
intimamente no mistério do seu amor.
Escolhida para ser a Mãe do Filho
de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da
Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina
em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar
da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende «de geração em
geração » (Lc 1, 50). Também nós estávamos presentes naquelas palavras
proféticas da Virgem Maria. Isto servir-nos-á de conforto e apoio no momento de
atravessarmos a Porta Santa para experimentar os frutos da misericórdia divina.
Ao pé da cruz, Maria, juntamente
com João, o discípulo do amor, é testemunha das palavras de perdão que saem dos
lábios de Jesus. O perdão supremo oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até
onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta que a misericórdia do
Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém.
Dirijamos-Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, pedindo-Lhe que
nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça
dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus”.
Salve, Rainha,
Mãe misericordiosa,
vida, doçura e esperança nossa,
salve!
A vós bradamos os degredados filhos
de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e
chorando
neste vale de lágrimas.
Eia pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos
a nós volvei,
e depois deste desterro mostrai-nos
Jesus,
bendito fruto de vosso ventre,
ó clemente,
ó piedosa,
ó doce sempre Virgem Maria.
Rogais por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das
promessas de Cristo.
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