terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Homilia da Véspera de Nossa Senhora da Conceição



Proferida pelo Padre Alexandre, Reitor do Seminário de Angra do Heroísmo.

 Imaculada Conceição 2015

“Ave Maria, cheia de graça, Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal, Mãe de Misericórdia, rogai por nós pecadores! Aqui nos prostramos, para que a nossa humanidade ferida seja digna de vos louvar e convosco seja mais divina e por isso autenticamente humana”

Digníssimo Reitor deste Santuário!
Caríssimos Irmãos e Seminaristas!
Caros ouvintes, doentes e emigrantes!

A solenidade que celebramos encerra em si toda a grandeza da redenção da humanidade, dando pleno sentido e culminando desde já o Ano Santo da Misericórdia que iniciamos, numa espécie de trailer que resume tudo o que deveríamos ser.
Deus nunca abandonou a fraqueza humana, nem as nossas misérias. Conhece os nossos limites e o nosso pecado e sabe que não somos capazes de uma felicidade sem Ele. O pecado dos nossos pais e de cada um de nós, expresso neste texto do Génesis, em que Adão e Eva se deixam corromper pela astúcia da serpente, é a história de cada pecado. Reparai que Adão acusa Eva de o ter corrompido e Eva acusa a Serpente. O pecado faz isso, depois de realizado, separa, divide, acusa, gera medo e indiferença. Até têm medo de Deus: “ouvi o rumor dos teus passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me”. Num último momento, o homem esconde-se, porque reconhece que fez mal. O problema está aí: ficar no esconderijo das máscaras que se arranjam para dizer a todos que tudo está bem. E não faltam ideologias que mentem e enganam a nossa própria realidade.
Apesar da nossa debilidade, o sonho do amor louco e sumamente criativo de Deus torna-se realidade quando prepara a vinda do Seu Filho, já antecipado na concepção de Sua Mãe. Um projeto de amor desde toda a eternidade, numa história que se define de salvação! Por isso, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, como doutrina que sustenta «que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus omnipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original». Desde o seu primeiro instante ela está isenta do pecado, cheia de graça, cheia de Deus.
Ao longo da História, a Igreja sempre ensinou a olhar para Maria não só como testemunha e modelo, mas também como criatura particular da Misericórdia de Deus. Maria foi redimida como todos nós, mas com a excepcionalidade de o ter sido desde o primeiro instante da sua existência isenta de toda a mancha do pecado. Por isso, a Igreja Oriental a descreve como “Παναγὶα”, toda santa! Ela é como que a arca segura no meio do dilúvio, a aurora da nova criação. Em Maria vislumbramos o plano original do criador, e o horizonte do homem redimido. A mensagem do Evangelho da Misericórdia tomou forma concreta, mundana, humana, na qual compreendemos a força transformadora de Deus, não somente com a mente, mas também com o coração. Maria não é só modelo e ideal de uma renovada civilização e espiritualidade cristã da misericórdia, mas também, intercessora misericordiosa para cada cristão. Por isso, no séc. XV, foi acrescentada à oração da Ave Maria da saudação do Anjo e da sua prima Santa Isabel a súplica: “rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte”. Esta oração nem sequer é estranha ao próprio Lutero, que, num comentário ao Magnificat, afirma “Cristo nos conceda isto através da intercessão e a vontade da sua querida mãe Maria”. No entanto, tal não nega que Cristo seja o único Mediador, para O qual aponta sempre a Sua Mãe.
Maria mostra-nos uma coisa: o Evangelho da Misericórdia de Deus em Jesus Cristo é o melhor que jamais nos foi dito e que nós podemos ouvir, e é simultaneamente o que de mais belo pode existir, porque pode transfigurar-nos, e ao nosso mundo. É um dom e ao mesmo tempo uma tarefa, que devemos viver e testemunhar com a nossa palavra e com a vida, para que o nosso mundo seja mais quente, luminoso, digno de ser vivido e amado!
Por isso, após esta Eucaristia teremos a oportunidade de nos aproximarmos mais de Cristo, através do modelo que é a Mãe da Misericórdia, Nossa Senhora da Conceição, ao sermos convidados a celebrar o Sacramento da Reconciliação, nesta noite da Misericórdia, uma oportunidade extraordinária e iniciativa da Zona Pastoral de Angra.

Afirma o Papa Francisco na Bula de Proclamação deste ano.

“O pensamento volta-se agora para a Mãe da Misericórdia. A doçura do seu olhar nos acompanhe neste Ano Santo, para podermos todos nós redescobrir a alegria da ternura de Deus. Ninguém, como Maria, conheceu a profundidade do mistério de Deus feito homem. Na sua vida, tudo foi plasmado pela presença da misericórdia feita carne. A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério do seu amor.
Escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria foi preparada desde sempre, pelo amor do Pai, para ser Arca da Aliança entre Deus e os homens. Guardou, no seu coração, a misericórdia divina em perfeita sintonia com o seu Filho Jesus. O seu cântico de louvor, no limiar da casa de Isabel, foi dedicado à misericórdia que se estende «de geração em geração » (Lc 1, 50). Também nós estávamos presentes naquelas palavras proféticas da Virgem Maria. Isto servir-nos-á de conforto e apoio no momento de atravessarmos a Porta Santa para experimentar os frutos da misericórdia divina.
Ao pé da cruz, Maria, juntamente com João, o discípulo do amor, é testemunha das palavras de perdão que saem dos lábios de Jesus. O perdão supremo oferecido a quem O crucificou, mostra-nos até onde pode chegar a misericórdia de Deus. Maria atesta que a misericórdia do Filho de Deus não conhece limites e alcança a todos, sem excluir ninguém. Dirijamos-Lhe a oração, antiga e sempre nova, da Salve Rainha, pedindo-Lhe que nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus”.

Salve, Rainha,
Mãe misericordiosa,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando
neste vale de lágrimas.
Eia pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
bendito fruto de vosso ventre,
ó clemente,
ó piedosa,
ó doce sempre Virgem Maria.
Rogais por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Amém.

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