Para aqueles irmãos que
já saem em romaria, pelo menos há dois anos, é costume dizermos que o caminho
é o mesmo, as igrejas as mesmas, no entanto, também dizemos que nenhuma
romaria é igual.
Na verdade, seja pelo
estado do tempo (que nunca é o mesmo), o estado de espírito dos irmãos
ou outras situações, nunca ocorrem duas romarias iguais, graças a Deus.
Ao princípio
estranha-se, depois entranha-se até às profundezas da alma e não mais queremos
deixar de participar neste retiro especial e particular, ano após ano, enquanto
Deus Nosso Senhor nos permitir.
A vida é a mesma, mas
de romaria em romaria, tornam-se vidas diferentes, para melhor e mais
profundas, para uma maior santidade, humanamente possível. Partimos dos sinais
visíveis para os invisíveis, do corpo para a alma, de nós para Deus.
Não querendo contrariar
algo que escrevi há alguns anos, mas talvez complementar essas mesmas palavras,
fruto de algum amadurecimento que vamos tendo, se nos deixarmos moldar pelo
Oleiro, fui pensando sobre a presença real da Sagrada Família no
meio do rancho, local sagrado, onde ela nos acolhe a ampara, quando estamos
mais debilitados. Cremos que ela está presente e até contamos com ela para os
pedidos de orações, no entanto, onde reside a Sagrada Família
efetivamente no rancho?
Este ano, fruto de
algumas situações que foram ocorrendo ao longo do mesmo, confesso que fui vazio
de tudo. Fui como uma vasilha sem água, no intuito de apanhar algumas gotas de
orvalho, se possível, para que não estalasse e partisse-me em mil
pedaços sem retorno, caso o calor fosse demasiado. Aqui e ali fui
encontrando alguns oásis, no meio do deserto em que me encontrava. Fui molhando
o barro de que sou feito e com isso, aos poucos fui ficando mais permeável à
Sua palavra. Fui enchendo a minha vasilha, consoante Ele me falava e eu
escutava-O. Escutava-O no silêncio da oração, no silêncio dos irmãos, na
ausência dos meus pensamentos mundanos e pecaminosos, assim como nas palavras
que fui trocando com os irmãos ao longo dos 5 dias de caminhada, molhando ao de
leve os meus dedos na água pura da vasilha que ia enchendo aos poucos.
Foi nessa troca de
palavras que ia tendo nos momentos oportunos com os demais irmãos que, aos
poucos fui descobrindo onde reside efetivamente a Sagrada Família
no meio do rancho.
Descobri que José reside naqueles irmãos que quando falamos usam
poucas palavras, no entanto sérias, ponderadas e justas. Descobri que José reside
naqueles irmãos, que mesmo pensando em repudiar-me por atitudes menos
corretas que possa ter tido para com eles, não temeram em aceitar-me
como sou, com algumas virtudes e imensos defeitos. Descobri que José reside
nos irmãos, quais carpinteiros, que me ajudaram a moldar a madeira de
que é feita o rancho, isto é, com as ferramentas que têm/temos, conseguimos que
o trabalho que fizemos foi muito proveitoso para todos, ou seja, para
nós e para as demais pessoas, por quem rezámos.
Descobri que Maria reside
naqueles irmãos que oram incessantemente, mesmo que muitos de nós não
nos tenhamos apercebido. Descobri que Maria reside naqueles irmãos, que
ao longo da romaria foram guardando e meditando todas as palavras ditas, nos
seus corações. Descobri que Maria reside naqueles irmãos, ao repararem
nas minhas ânsias e inquietudes próprias do cargo, me sossegavam com as suas
palavras de conforto e certezas, como que a dizerem-me “faz tudo o que Ele
te disser”, qual servo que desejo ser.
E onde reside o
menino Jesus, será a pergunta óbvia!
O menino Jesus
reside e residirá sempre no centro do meu peito, caso eu O aceite
como filho do homem que O é. Reside e residirá sempre no meu ser,
caso eu O siga verdadeiramente, com todas as minhas imperfeições. Reside
e residirá sempre na minha alma, apesar dos meus imensos e enormes
pecados, desde que eu os assuma, e Lhe peça perdão por essas faltas seriamente,
ainda que possa ser no meu último suspiro de vida.
Paulo
Roldão
(um
irmão romeiro, como os demais)
22
de março de 2020
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