quinta-feira, 9 de abril de 2020

5ª Feira Santa… durante a COVID-19



Tal como muitas outras coisas boas que poderemos aprender uns com os outros, nestes dias vamos lendo as romarias muito peculiares que os irmãos romeiros de São Miguel vão realizando, particularmente a do Rancho da Relva, do qual tivemos a honra de ter tido dois irmãos que, não só nas suas palavras e partilhas, mas também no seu silêncio, ajudaram-nos a crescer um pouco mais. E as coisas boas, no caso em concreto, é o facto de eles, diariamente fazerem o seu trajeto normal, com tudo o que se passa dia a dia, sejam as igrejas que visitam, quem partilha uma refeição ou até os pedidos de oração. Para quem é romeiro, aquelas palavras levam-nos a viajar com eles ala a ala, cantado as Avé-Maria pausadamente e a vislumbrar as coisas do Altíssimo, ainda que por mera fração de segundo. Para quem é romeiro, uma romaria assim, é muito mais difícil e penosa. É vive-la sem estar nos caminhos. Atrevo-me a dizer que é mais uma romaria de irmãos monges, tal como o Cónego António Rego, no ano de 2015 disse em relação a todos nós, romeiros:
“- Os romeiros são Mosteiros contemplativos ambulantes que atravessam as ruas.”
Desta feita, contemplamos tudo o possível, atravessando ruas, vales, caminhos pedestres e outros, mas de olhos fechados e a alma escancarada para o que Ele nos disser.
Depois desta já longa divagação, lembrámo-nos, porque não, fazer o mesmo em relação a estes dias e que em termos de vivência, teremos que também vive-los de olhos fechados e a alma escancarada para o que Ele nos disser. Aqui ficam algumas palavras em relação a este dia.

Nesta 5ª feira Santa, se tivesse ocorrido antes de 15 do mês findo, logo mais ao fim do dia, ocorreria o lava pés em todas as ilhas e em todas as paroquias. No nosso caso, alguns dos irmãos do rancho teriam a graça de quais apóstolos e Cristo presente no sacerdote, lavar-lhes-ia os pés. Recordo a seguinte parte da passagem bíblica a este respeito:
Vós me chamais Mestre, e Senhor, e dizeis bem; porque eu o sou. Se eu, pois, sendo Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros; porque vos dei exemplo, a fim de que, como eu fiz, assim façais vós também.»(João 13:1-15).

Com esta passagem Jesus quis deixar claro que se fez servo e que nós também devemos ser servos uns dos outros. Ser servo, nada tem a ver com escravidão ou servilismo, mas sim um “mandamento novo” do amor real ao próximo através de um serviço concreto e não apenas de palavras. Esse amor é um serviço humilde que se concretiza no silêncio. Também nos leva a pensar no perdão. A confessarmos os nossos pecados, a rezarmos uns pelos outros, para sabermos perdoar de coração. Santo Agostinho dizia “Não desdenhe o cristão fazer aquilo que Cristo fez. Porque quando o corpo se inclina até ao pé do irmão, acende-se no coração o sentimento de humildade, ou, já se existe, é alimentado (...)”
Com esta cerimónia inserida na celebração eucarística, Ele mostra-nos que, tal como Ele, todos nós viemos para servir e não ser servidos.
Neste momento particular, rezemos por todos os Sacerdotes, para que com o seu testemunho e humildade ao ajoelharem-se perante nós (qual Cristo aos seus apóstolos), nos faça pensar, refletir e meditar que, apesar das nossas faltas, ainda podemos almejar a santidade e a salvação, se tivermos dispostos a servir todos os irmãos, mesmo aqueles que nos têm ofendido, e não a ser servidos. Rezemos também, por todos aqueles que estão a trabalhar nos hospitais (médicos, enfermeiros, auxiliares e outros (que nos falte mencionar), assim como às forças de segurança e demais pessoas (entidades publicas e privadas) que laboram para que não falte nada aos demais.
Pai Nosso; Avé Maria.

(Um irmão romeiro, como os demais)

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