Neste dia,
apesar de não nos encontramos fisicamente como irmãos romeiros, é o dia que nos
recorda a dor pela morte de Jesus e a alegria da sua Ressurreição. Também é o
dia em que devemos estar em silêncio à espera de amanhã, recordando a
perplexidade dos apóstolos após a Sua morte ontem.
Neste ano, tal
como este dia em particular, lembremo-nos de centenas de irmãos jovens e homens
de barba rija, que não puderam fazer a sua romaria como era hábito.
Depois de muita preparação e propósitos pensados para a mesma, este vírus veio
tirar-lhes essa vontade e essa esperança de encontro com Ele, nesta maneira
particular e peculiar que só as romarias proporcionam.
Qual Barrabás,
este vírus de certa forma veio crucificar Jesus, como naquele tempo.
Este vírus é semelhante a toda aquela multidão que sabendo as consequências
nefastas, continuaram as suas vidas como se nada fosse. Continuaram a passear
em grupo, a partilhar coisas sem se precaverem minimamente e, ainda que menos
(graças a Deus) continuam. Por causa desta multidão Ele foi entregue para ser
crucificado, apesar de algumas vozes gritarem o contrário, mas para além de não
terem sido ouvidas naquele tempo, neste tempo foram abafadas nas
camas dos hospitais e muitas pereceram e mais algumas perecerão.
Tal como essa minoria
naquele tempo, também as nossas vozes neste tempo foram poucas as
que fizeram eco nas igrejas, vales e caminhos que percorremos.
Todas aquelas
duas alas de irmãos romeiros que não puderam dar voz e testemunho de Jesus,
devem ter ficado como aqueles discípulos que iam a caminho da Emaús, depois do
desfecho ocorrido em Jerusalém. Durante esta viagem de Jerusalém até Emaús, que
é sempre a descer, muitos piedosos irmãos ficaram atordoados pelo desânimo,
cabisbaixos por não terem caminhando e desencantados, por não puderem cumprir
todos os propósitos que levavam na cevadeira.
Mas tal como o
caminho que se faz caminhando, alguém se aproximou destes
piedosos irmãos romeiros e foi elucidando-os, transformando-os e eles foram
fazendo a romaria, de outra forma é certo e talvez mais difícil, mas
fizeram-na. Fizeram-na através das redes sociais, com partilhas diárias de
meditações, orações, mas sobretudo, nas palavras escritas com o coração
abrasado, nas quais, de olhos fechados, mas com a alma aberta, puderam ver todo
o trajeto que iam percorrendo. Pararam nas igrejas para as orações, caminharam
com alguma chuva, vento e frio, mas também com algum sol e calor. Tiveram as
partilhas das refeições, nas quais não faltaram as conversas triviais, risos e
gargalhadas. Tiveram as suas meditações, partilhas e desabafos. Também tiveram
o dia da família, desta feita mais intenso e mais demorado porque o tempo assim
o permitiu. Pernoitaram aqui em comunidade e ali em casa de
famílias, nas quais, puderam partilhar os seus conhecimentos, anseios, mas
também duvidas, e quem sabe, não terão também sossegados alguns corações mais
apertados com palavras vindas do Espírito Santo. Provavelmente alguns irmãos,
talvez por inexperiência, tenham tido algumas bolhas nos pés e
ter sido necessário recorrer à agulha desinfetada e linha para resolução do problema.
Problema que passou pelas lagrimas teimosas a querem sair dos olhos, as
voltas no conforto da cama, em detrimento dos sacos cama ou colchões numa Casa
do Povo qualquer ou mais grave ainda, ver toda a indumentária ali ao
canto da porta de entrada, sem que pudesse sair.
Todos eles
terminaram as suas romarias até à passada quinta-feira, com os olhos a brilhar
e após a celebração final, abraçaram-se demoradamente e com a força de quem foi
ali buscar sustento para mais um ano, terminando dizendo ao irmão-Mestre: “-
Até para o ano irmão!”
Todos eles,
agora com o coração a arder com as palavras do Verdadeiro Mestre, depois desta
longa e demorada caminhada, amanhã subirão novamente a Jerusalém, para
darem testemunho da vivência que tiveram aos demais irmãos, principalmente
junto daqueles que provavelmente venham a sair para o ano pela primeira vez,
fruto do testemunho, qual semente de mostarda.
Neste dia os
protagonistas são o recolhimento e meditação, já que não sabemos mais nada. Os
próprios Evangelhos nada falam deste dia, somente poderemos imaginar que este
seja o tempo em que o corpo de Jesus permanece no sepulcro e, sendo um dia de
repouso para os judeus, os apóstolos permanecem sem saber o que acontecerá a
seguir.
Segundo uma
antiga tradição, mesmo que tudo esteja em silêncio, Jesus agiu. Neste dia Ele
desce à mansão dos mortos, para salvar o homem e leva-lo consigo para o céu,
onde nos precede e nos espera de braços abertos.
Terminamos esta
reflexão com a oração das laudes:
“Deus eterno e
omnipotente: ao celebrarmos o mistério redentor do vosso Filho Unigénito, que
depois de ter descido à morada dos mortos saiu vitoriosamente do sepulcro,
concedei aos vossos fiéis filhos que, sepultados com Cristo no Batismo, também
com Cristo ressuscitem para a vida eterna. Ele que é Deus convosco na unidade
do Espírito Santo.”
Neste sábado,
rezemos por todos aqueles (mesmo na escuridão das incertezas e incógnitas) que estão
a fazer os possíveis e impossíveis, para que os casos positivos possam
regredir, sempre com a graça de Deus.
Pai Nosso; Avé
Maria.
(Um irmão romeiro, como os
demais)
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