sexta-feira, 2 de abril de 2021

45. Sexta-feira santa: A morte de Cristo *


 Sexta-feira santa


Foi conveniente que Cristo morresse, pelas seguintes razões:

1. Para consumar a nossa redenção, pois, apesar da Paixão ter virtude

infinita por causa da união da divindade, não foi durante um sofrimento

qualquer que nossa redenção foi consumada, mas na morte de Cristo. Por

isso diz o Espírito Santo pela boca de Caifás (Jo 11, 50): convém que morra

um homem pelo povo. E santo Agostinho: Admiremos, congratulemo-nos,

rejubilemo-nos, amemos, louvemos e adoremos, pois, pela morte de nosso

redentor, fomos chamados das trevas à luz, da morte à vida, do exílio à

pátria, do luto à alegria.

2. Para o aumento da fé, da esperança e da caridade.

Quanto ao crescimento da fé, aquilo do salmista: quanto à mim, estou só até

que eu passe, i. é, deste mundo ao Pai. Mas, quando tiver passado deste

mundo ao Pai, então serei multiplicado. Se o grão de trigo que cai na terra

não morre, permanece só.

Quanto ao crescimento da esperança, diz o Apóstolo (8, 32): O que não

poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós todos o entregou, como não nos

dará também com ele todas as coisas? É inegável que dar todas as coisas é

ainda menos que entregar Cristo à morte por nós. São Bernardo diz: "Quem

não se encherá da esperança de possuir confiança, se considerar a posição do

corpo crucificado de Cristo? Sua cabeça inclinada, para dar-nos o ósculo da

paz; seus braços estendidos, para nos abraçar; suas mãos traspassadas, para

nos cumular de bens; seu coração aberto, para nos amar; seus pés cravados,

para permanecer conosco". Lemos nas Escrituras (Ct 2, 14): "Pomba minha,

tu que te recolhes nas aberturas da pedra". Nas chagas de Cristo, a Igreja

estabeleceu e fez seu ninho, colocando a esperança de sua salvação na Paixão

do Senhor; e assim protege-se das surpresas do falcão, i. é, do diabo.

Quanto ao crescimento da caridade, aquilo das Escrituras (Ecle 43, 3): "Ao

meio dia queima a terra". Ou seja, no fervor da Paixão, ardem de amor os

corações terrestres. Diz ainda são Bernardo: "O cálice que bebestes, ó bom

Jesus, mais que tudo, vos fez amável. A obra de nossa redenção reivindica

absoluta e prontamente todo nosso amor para si; ela faz agradável a devoção,

torna-a mais justa, une-nos mais estreitamente e com maior veemência nos

toca o coração."

3. Por causa do sacramento da nossa salvação, para que, pelo exemplo de

sua morte, morrêssemos para este mundo. "Por isso a minha alma prefere a

suspensão, os meus ossos preferem a morte" (Jó 7, 15). E são Gregório

comenta: "A alma é a intenção do espírito, os ossos são a força da carne. O

que está suspenso, foi erguido do chão. A alma, portanto, foi erguida às

coisas da eternidade, para que morram os ossos, pois o amor da vida eterna

destrói em nós toda a força da vida exterior". Ser desprezado pelo mundo é

o sinal desta morte. São Gregório acrescenta: "o mar retém os corpos

viventes, mas rejeita os cadáveres".


De humanit. Christi

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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