quinta-feira, 1 de abril de 2021

44. Quinta-feira santa: A ceia do Senhor *


 Quinta-feira santa


O Sacramento do Corpo do Senhor foi convenientemente instituído na

Última Ceia, e isso por três razões:

1. Em razão daquilo que este sacramento contém: ou seja, o próprio

Cristo. No momento de deixar os discípulos em sua própria figura, Ele

permanece com eles sob a forma sacramental, assim como, na ausência do

imperador, exibe-se a sua imagem. Daí o dizer Eusébio: "Como o corpo que

assumira havia de ser retirado da nossa visão corporal e elevado ao céu, era

preciso que, na Ultima Ceia, Ele consagrasse para nós o sacramento de seu

corpo e de seu sangue, afim de que pudéssemos continuar a adorar no mistério

o que uma vez ofereceu para nosso resgate".

2. Pois, sem a fé na Paixão, não pode haver salvação. Era pois preciso que

sempre houvesse entre os homens algum sinal que representasse a Paixão do

Senhor, que, na antiga lei, era principalmente representada pelo Cordeiro

Pascal. No Novo Testamento, o Cordeiro pascal foi sucedido pelo

sacramento da Eucaristia, que é um memorial da Paixão realizada no

passado; assim como o Cordeiro era figurativo da Paixão que ocorreria no

futuro. Era portanto conveniente que, nas vésperas da Paixão, após ter

celebrado o sacramento anterior, fosse instituído o novo.

3. Pois, quando os amigos se separam, suas últimas palavras são

guardadas com mais zelo pela lembrança. Sobretudo, porque o sentimento

de afeição por eles é então mais ardente; e as coisas que mais nos tocam mais

profundamente se imprimem na alma. Ora, entre os sacrifícios, nenhum

poderia ser maior que o do corpo e sangue de Nosso Senhor, e nenhum dom

poderia ser maior que este; por isso, para que fosse tido com maior estima, o

Senhor instituiu este sacramento no momento de deixar seus discípulos. Por

isso disse Agostinho: o Salvador, para recomendar com maior veemência a

grandeza deste mistério, quis imprimi-lo por último nos corações e na

memória dos seus discípulos, os quais havia de deixar na sua Paixão.

Devemos notar que este sacramento possui uma tripla significação:

1. Quanto ao passado, enquanto é comemorativo da Paixão do Senhor, que

foi um verdadeiro sacrifício, este sacramento é chamado sacrifício.

2. Quanto ao presente, i. é, à unidade da Igreja, e para que os homens se

congreguem por este sacramento, é ele chamado comunhão. São João

Damasceno diz que o chamamos comunhão posto que, por ele,

comungamos com Cristo, participamos da sua carne e divindade e, por Ele,

comungamos e nos unimos uns aos outros.

3. Quanto ao futuro, enquanto prefigura o gozo de Deus que existirá na

pátria, este sacramento é chamado viático, posto que nos apresenta o

caminho para lá chegarmos. Sob este aspecto, também é chamado

Eucaristia, que quer dizer "boa graça", pois a graça de Deus é a vida eterna;

ou porque contém realmente o Cristo que é a mesma plenitude da graça. Em

grego, é chamado metalipsis, i. é, consumição, pois por ele tomamos a

divindade do Filho de Deus.


De Humanitate Christi

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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