sábado, 27 de fevereiro de 2021

11. Sábado depois do I domingo da Quaresma: A Caridade de Deus na Paixão de Cristo


 Sábado depois do I domingo da Quaresma

«Mas Deus manifesta a sua caridade para conosco, porque, quando ainda

éramos pecadores, no tempo oportuno, morreu Cristo por nós.»(Rm 5, 8)


I. — Cristo morreu pelos ímpios. E isto é grande, se considerarmos quem

é aquele que morreu; também é grande, se considerarmos por quem foi

que Cristo morreu. Ora, «é difícil haver quem morra por um justo» (Rm 5,

7), ou seja, é difícil encontrar quem morra para salvar um homem justo; e

até, como diz Isaías: «o justo perece, e não há quem considere sobre isto no seu

coração» (57, 1). E por isso, «é difícil haver quem morra por um justo». Pois

se alguém, isto é, alguma rara exceção, ousar, pelo zelo da virtude, morrer

por um bom homem, será coisa realmente rara; e isso, por ser um feito

muito elevado, como diz S. João (15, 13): «Ninguém tem maior amor que o

daquele que dá a vida por seus amigos». Porém, morrer por homens ímpios

e maus, é algo que jamais ocorre. E por isto devemos, com razão, nos

admirar, pois foi isto que Cristo fez.

II. — Se procurarmos saber porque Cristo morreu pelos ímpios, a

resposta é que, por sua morte, Deus manifestou sua caridade para

conosco, ou seja, sua morte mostra que Ele nos ama infinitamente,

porque, « quando ainda éramos pecadores», Cristo morreu por nós.

E a mesma morte de Cristo mostra a caridade de Deus para conosco, pois

entregou seu próprio Filho para que, morrendo, satisfizesse por

nós. «Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho

Unigênito» (Jo 3, 16).

E, desse modo, assim como a caridade de Deus Pai para conosco se

demonstra por ter nos dado o seu Espírito, assim também se demonstra por

ter nos dado o seu Filho.

Quando S. Paulo diz que Deus « manifesta a sua caridade para conosco»,

assinala a imensidade do amor divino, pelo fato de ter entregue seu Filho

para morrer por nós; e, em seguida, por nossa condição; pois Deus não o

fez por causa de nossos méritos, mas « quando ainda éramos

pecadores», como diz S. Paulo na Epístola aos Efésios (2, 4): «Mas Deus, que

é rico em misericórdia, pela sua extrema caridade, com que nos amou, estando

nós mortos pelos pecados, vivificou-nos em Cristo».

In Rom., V.


III. — Nessas coisas, mal se pode crer. Diz a Escritura: «acontecerá uma

coisa em vossos dias, que ninguém acreditará, quando for contada.» (Hab

1, 5). Pois que Cristo tenha morrido por nós, é algo de surpreendente, algo

que mal se pode conceber. E é isto o que diz o Apóstolo, «faço uma obra em

vossos dias, uma obra que vós não crereis, se alguém vo-la contar.» (At 13,

41)

Tamanha é a graça de Deus e seu amor para conosco, que Ele fez por nós

mais do que podemos compreender ou conceber.

In Symb.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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