segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

6. Segunda-feira depois do I domingo da Quaresma: Cristo devia ser tentado no deserto


 Segunda feira depois do I domingo da Quaresma

«Jesus estava no deserto quarenta dias e quarenta noites e ali foi tentado por

Satanás» (Mc 1, 13)


I. —Cristo, por vontade própria deixou-se tentar pelo diabo, assim como

voluntariamente entregou o corpo à morte; do contrário, o diabo não

ousaria aproximar-se dele. Ora, o diabo atenta de preferência os solitários;

pois, como diz a Escritura (Ecle 4, 12), «se alguém prevalecer contra um, dois

lhe resistem». Por isso foi Cristo para o deserto, como para o campo da luta,

para ser nele tentado pelo diabo. Donde o dizer Ambrósio, que Cristo foi ao

deserto deliberadamente, para provocar o diabo. Pois, se este não viesse

atacá-lo, i. é, o diabo, Cristo não o teria vencido.

Mas, acrescenta ainda outras razões, dizendo que Cristo assim procedeu

misteriosamente para livrar Adão do exílio; pois, este fora precipitado, do

paraíso, num deserto. Para nos mostrar, com o seu exemplo, que o diabo

inveja os que progridem no bem.

II. — Cristo, indo ao deserto, se expôs à tentação. Crisóstomo diz: «contra os

solitários é que o diabo emprega toda a força da sua tentação. Por isso, no

princípio tentou a mulher, quando a viu desacompanhada de

Adão». Contudo, isso não significa que o homem deva,

indiscriminadamente, se deixar expor à tentação.

Há duas espécies de ocasião à tentação. Uma da parte do homem, como

quando não evitamos as ocasiões próximas de pecar. Pois, tais ocasiões

devemos evitá-las, como foi dito a Lot: «Não pares em parte alguma dos

arredores de Sodoma» (Gn 19, 17). A outra espécie de ocasião vem do diabo,

sempre invejoso de quem se esforça para ser melhor. E essa ocasião de

tentação não devemos evitá-la. Por isso diz Crisóstomo: «Não só Cristo foi

levado pelo Espírito ao deserto, mas também todos os filhos de Deus

possuidores do Espírito Santo, que não consentem em ficar ociosos, mas são

ungidos pelo Espírito Santo a empreender grandes obras; e isso, para o

diabo, é estar no deserto, onde não há o pecado que ele se compraz. Também

todas as boas obras constituem um deserto, para a carne e para o mundo,

porque contrariam as tendências de uma e de outro.»

Ora, dar ocasião de tentação ao diabo não é perigoso, porque maior é o

auxílio do Espírito Santo, autor das obras perfeitas, do que o ataque do diabo

invejoso.

III, q. XLI, a. 2.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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