terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

7. Terça-feira depois do I domingo da Quaresma: De que modo Cristo sofreu todos os sofrimentos


 Terça-feira depois do I domingo da Quaresma

Os sofrimentos humanos podem ser considerados à dupla luz. Primeiro,

quanto à espécie. E então, não devia Cristo sofrer todos os sofrimentos; pois,

muitas espécies de sofrimentos são contrárias entre si, tal a combustão pelo

fogo e a submersão na água. Mas, agora tratamos dos sofrimentos de

proveniência extrínseca; pois, os sofrimentos procedentes de causas

externas, como as doenças do corpo, não devia ele sofrê-los, como dissemos.

Mas, quanto ao gênero, sofreu todos os sofrimentos humanos. O que é

susceptível de tríplice consideração:


1. Primeiro, quanto aos homens que lhe causaram sofrimentos. Pois, certos

sofrimentos lhe foram infligidos pelos gentios e pelos judeus; por homens e

por mulheres, como o mostram as criadas acusadoras de Pedro. Também

recebeu sofrimentos de príncipes e de seus ministros, e do populacho,

conforme a Escritura (Sl 2, 1): « Por que razão se embraveceram as nações e

os povos meditaram coisas vãs? Os reis da terra se sublevaram e os príncipes se

coligaram contra o Senhor e seu Cristo». Sofreu também de seus discípulos e

conhecidos: como de Judas, que o traiu e de Pedro, que o negou.

2. Segundo, o mesmo se conclui relativamente àquilo em que o homem pode

sofrer. Assim, sofreu nos seus amigos, que o abandonaram; na sua reputação,

pelas blasfêmias contra ele proferidas; na sua honra e glória, pelas irrisões e

contumélias contra ele assacadas; nos bens, quando das suas próprias vestes

foi espoliado; na alma, pela tristeza, pelo tédio e pelo temor; no corpo, pelos

ferimentos e flagelações.

3. Terceiro, podemos considerá-lo relativamente aos membros do corpo.

Assim, Cristo sofreu, na cabeça, a coroa de pungentes espinhos; nas mãos e

nos pés, a pregação dos cravos; na face, bofetadas e cuspe; e em todo o

corpo, flagelações. Sofreu também em todos os sentidos do corpo: no tato,

quando flagelado e pregado com cravos; no gosto, quando lhe deram de

beber fel e vinagre; no olfato, quando suspenso no patíbulo, num lugar fétido

pelos cadáveres dos supliciados, chamado Calvário; no ouvido, ferido pelas

vociferações dos que o blasfemavam e faziam dele irrisão; na vista, ao ver

sua mãe e o discípulo a quem amava, chorando.

Quanto à suficiência, um sofrimento mínimo de Cristo bastava para remir o

gênero humano de todos os pecados. Mas, quanto à conveniência, foi

suficiente que sofresse todos os gêneros de sofrimentos.

III, q. XLVI, a. 5.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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