quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

2. Quinta-feira depois das cinzas: O jejum


 Quinta-feira depois das cinzas

I. — Pratica-se o jejum por três motivos:
1. Primeiro, para reprimir as concupiscências da carne. Donde o dizer o
Apóstolo (2 Cor 6, 5): «Nos jejuns, na necessidade», porque o jejum conserva
a castidade. Pois, como diz Jerônimo, «sem Ceres e Baco Vênus esfria», i.
é, pela abstinência da comida e da bebida a luxúria se amortece.
2. Segundo, praticamos o jejum para mais livremente se nos elevar a alma
na contemplação das sublimes verdades. Por isso, refere a Escritura que
Daniel (Dn 10), depois de ter jejuado três semanas, recebeu de Deus a
revelação.
3. Terceiro, para satisfazer pelos nossos pecados. Por isso, diz a Escritura
(Jl 2, 12): «Convertei-vos a mim de todo o vosso coração em jejum e em
lágrimas e em gemido». E é o que ensina Agostinho num sermão: «O jejum
purifica a alma, eleva os sentidos, sujeita a carne ao espírito, faz-nos
contrito e humilhado o coração, dissipa o nevoeiro da concupiscência,
extingue os odores da sensualidade, acende a verdadeira luz da
castidade».
II. — O jejum é objeto de preceito. Pois o jejum é útil para delir e coibir
as nossas culpas e elevar-nos a mente para as coisas espirituais. Ora, cada
um está obrigado, pela razão natural, a jejuar tanto quanto lhe for necessário
para conseguir tal fim. Por onde, o jejum, em geral, constitui um preceito da
lei natural. Mas, a determinação do tempo e do modo de jejuar, conforme
à conveniência e à utilidade do povo Cristão, constitui um preceito de
direito positivo, instituído pelos superiores eclesiásticos. E tal é o jejum da
Igreja, diferente do jejum natural.
III. — Os tempos de jejum estão convenientemente determinados pela
Igreja. O jejum é ordenado por dois motivos: para delir a culpa e para nos
elevar a mente às coisas espirituais. Por isso, os jejuns foram ordenados
especialmente naqueles tempos em que, sobretudo, devemos os fiéis nos
purificar dos pecados e elevar a mente a Deus pela devoção. O que
sobretudo se dá antes da solenidade Pascal, quando as culpas são delidas
pelo batismo, celebrado solenemente na vigília da Páscoa, em memória da
sepultura do Senhor; pois, pelo batismo, somos sepultados com Cristo para
«morrer ao pecado», na frase do Apóstolo (Rm 6, 4). E também na festa
Pascal devemos, sobretudo, pela devoção, elevar a mente à glória da
eternidade, a que Cristo deu começo pela sua ressurreição. Por isso,
imediatamente antes da solenidade Pascal, a Igreja nos manda jejuar; e
pela mesma razão, nas vigílias das principais festividades, quando devemos
nos preparar devotamente para celebrar as festas que se vão celebrar.
Ia IIae, q. CXLVII, a. 1, 3, 5.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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