quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

8. Quarta-feira depois do I domingo da Quaresma: A imensidade da dor da Paixão de Cristo


 Quarta-feira depois do I domingo da Quaresma

«Atendei e vede se há dor semelhante à minha dor» (Lm 1, 12)


Cristo, na sua paixão, sofreu verdadeiramente a dor. Tanto a sensível,

causada pelos tormentos corpóreos, como a interior, causada pela apreensão

do mal, que se chama tristeza. Ora, ambas essas dores foram máximas em

Cristo, entre as dores da vida presente. O que se explica por quatro razões.

1. Primeiro, pelas causas da dor. Pois, a dor sensível teve como causa uma

lesão corpórea cheia de acerbidade, tanto pela generalidade da paixão, como

pelo gênero da mesma. Pois, a morte dos crucificados é acerbíssima, por

serem trespassados em lugares nervosos e sobremaneira sensíveis, que são as

mãos e os pés. E além disso, o peso mesmo do corpo pendente

continuamente aumenta a dor; acrescentando-se ainda a diuturnidade dela,

pois os crucificados não morrem logo como os mortos pela espada.

Quanto à dor interna, teve as causas seguintes. Primeiro, todos os pecados

do gênero humano, pelos quais satisfazia com os seus sofrimentos; por isso

como que os avocou a si dizendo: «Os clamores dos meus pecados» (Sl 21, 1).

Segundo e especialmente, a culpa dos judeus e dos outros, que lhe infligiram

a morte; e sobretudo a dos discípulos, que se escandalizaram com a paixão

de Cristo. Terceiro, ainda, a perda da vida do corpo, naturalmente horrível à

natureza humana.

2. Segundo, a grandeza da dor pode ser considerada relativamente à

sensibilidade do paciente. Assim, o seu corpo tinha a melhor das

compleições; pois, fora formado milagrosamente por obra do Espírito Santo.

Porque nada é mais perfeito que o produzido por milagre, e por isso, o

sentido do tato, que serve para perceber a dor, era em Cristo extremamente

delicado. Também a alma, nas suas potências interiores, apreendia com

grande eficácia toda as causas da tristeza.

3. Terceiro, a grandeza da dor de Cristo na sua paixão pode ser considerada

quanto à pureza da mesma dor. Pois, nos outros pacientes, mitiga-se a

tristeza interior e também a dor externa, pela reflexão racional, causando

uma certa derivação ou redundância das potências superiores para as

inferiores. O que não se deu na paixão de Cristo, pois, a cada uma das

potências permitia agir dentro do que lhe era próprio, como diz Damasceno.

4. Quarto, a grandeza da dor de Cristo pode ser considerada quanto ao fato

de ser a sua paixão e sua dor assumidas voluntariamente, com o fim de livrar

o homem do pecado. Por isso, assumiu uma dor tão grande, que fosse

proporcionada à grandeza do fruto dela resultante.

Assim, pois, de todas essas causas simultaneamente consideradas, resulta

claro que a dor de Cristo foi a máxima das dores.

III, q. XLVI, a. 6.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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