terça-feira, 2 de abril de 2013

Fruta da época


Recordo o tempo em que se comiam determinadas peças de fruta apenas na época própria, apenas quando o curso normal da natureza divina o decidia.

Passávamos meses a aguardar a altura certa para comer determinada peça de fruta, e que boa era, saborosa, suculenta e cheirosa. Por vezes desejávamos que chegasse determinada época para, com água na boca, comermos aquela fruta que tanto gostávamos.

Depois apareceu a fruta de estufa ou vinda de outros países, também esta criada artificialmente. Ao princípio achámos uma ideia boa, porque assim podíamos comer o ano todo aquela ou aquelas peças de fruta que tanto gostávamos em detrimento de outras que não gostávamos tanto. Aos poucos fomo-nos apercebendo que esta fruta, apesar de ser a que gostávamos tanto, não era tão boa, saborosa, suculenta e cheirosa. Era a fruta que tanto gostávamos e desejávamos, no entanto, não era tão boa, desconsolada, desagradável e sem o perfume habitual, aquele cheiro que nos fazia crescer água na boca.
Independentemente de quem quer que seja o irmão-mestre ou o rancho do qual seja responsável e apenas como irmão romeiro e nada mais que isso, sinto que um rancho de romeiros é como a fruta da época, ou seja, a Quaresma é a época própria, é o curso natural da natureza divina. Se assim for, todos os nossos irmãos Cristãos assim como nós, desejarão que chegue a época dessa fruta divina, boa, saborosa, suculenta e cheirosa que é a Quaresma.

Tal como a fruta de estufa, os ranchos de romeiros, seja para procissões ou outros convites que recebem de piedosos irmãos ou movimentos da igreja, no início poderá parecer uma boa ideia, porque assim poderão ser vistos várias vezes no ano. No entanto, após alguns anos, aperceber-se-ão seguramente que, não é assim tão bom aparecer periodicamente, já não fazem crescer água na boca, não causam tanto aquele impacto que se quer e deseja como na Quaresma.

Não querendo parecer contraditório entre o que escrevi e o que a seguir irei escrever, sinto que é obrigação e dever do irmão-mestre, informar os restantes irmãos dos convites que lhes são dirigidos, no intuito destes, por sua livre e espontânea vontade, poderem ou não comparecer, não em nome do rancho, não como uma imposição ou obrigação que o irmão-mestre decidiu porque foi este que transmitiu (porque até este poderá não ter disponibilidade para tal), mas sim como um Cristão entre os demais, quando muito, se assim o achar e sentir-se melhor consigo e com os restantes irmãos ali presentes, levando apenas o lenço e terço, como sinal exterior simples e humilde, como romeiro que é. Exceção a isso, ou seja, o rancho como tal, tem a obrigação de comparecer, dentro das possibilidades de cada irmão, na procissão e outras manifestações que ocorram aquando das festas previstas no calendário religioso da sua padroeira.

Por último, outra situação que por vezes poderá ocorrer dentro do rancho, e creio que serão muito poucos a não terem (a existir algum), mas que poderá levar a más interpretações no seio do rancho ou em casos extremos, a um mal-estar entre irmãos, são as decisões que o irmão-mestre tem que tomar em nome do rancho e pelo bom nome do mesmo, isto é, cada um dos restantes irmãos (incluído o irmão-mestre como um entre os demais) poderão ter opiniões válidas no seu ponto de vista pessoal, no entanto, o irmão-mestre tem que decidir, não num ponto de vista pessoal mas sim num ponto de vista unificante do rancho e pelo bom nome do mesmo.

Tal como a fruta de época, tudo tem a sua altura e o seu tempo de acordo com a sua natureza divina, fora disso, torna-se fruta de estufa…

Paulo Roldão
(um irmão romeiro, como os demais)

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