sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cânticos e Orações V

ENTRADA NA IGREJA

1. Dai-nos licença, Senhora , Rainha Imaculada,
Para que entremos agora, em vossa santa morada.

2. Senhora, dai-nos licença, aos tristes filhos de Adão,
Para que em vossa presença, vos faça nossa oração.

3. Entrai pecadores, entrai, p’ra ver a mãe de Jesus,
E água benta tomai, fazei o sinal da cruz.

4. Quero pôr-me a vossos pés, hoje pela primeira vez,
Rainha dos altos céus, nossa mãe e de Deus.

5. Ajoelhai, pecadores, com os joelhos no chão.
Assim fez o redentor pela nossa salvação.

Cânticos e Orações IV

Oh Mística Rosa

Oh Mística Rosa!
Maria que tendes o Vosso amabilíssimo coração,
abrasado nas mais vivas chamas de caridade,
nos aceitaste por filhos, ao pé da Cruz,
Tornando-Vos nossa Mãe terníssima.
Ai fazei-me experimentar a doçura do Vosso maternal coração
e a força do Vosso poder junto a Jesus,
em todos os dias da nossa vida, especialmente no último,
na hora da nossa morte.
Ámen

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Do Mar da Galileia para a aventura dos Oceanos

"Aqui, no Atlântico Norte, a meio caminho entre a Velha Europa e os Novos Mundos, muitos dos portugueses católicos que aqui chegaram, ou que por aqui passaram, trouxeram as aragens do Espírito Santo, nas Caravelas de Quinhentos, com a Cruz de Cristo, a encimar a aventura, que se iniciou na Galileia, quando o Mestre escolheu os Doze para irem anunciar a Boa Nova.
Vem isto, a propósito da Assembleia Diocesana do Clero, que se está a realizar, na Casa de Retiros de Santa Catarina, no Pico da Urze, onde cerca de meia centena de Sacerdotes, reunidos com o nosso Bispo, tem estado a reflectir sobre a “espiritualidade do presbítero”, “fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote e “desafios à acção pastoral da Igreja”. Nessa reflexão ajudados pelo Padre António Bravo.
Oportuno este momento, a condizer com o Domingo do Bom Pastor, que se celebrou no Primeiro Dia da Semana. Dispersos no Arquipélago, os sacerdotes vindos das diversas nove Ilhas, ricos na sua diversidade de carismas e de gerações abrangidas por seis décadas de Evangelização.
Tempo curto perante a Eternidade, mas suficientemente longo, para as navegações da “Barca de Pedro”, soprada, muitas vezes, por ventos contrários, e por uma terra que, embora escassa, lhe correm nas veias a lava dos vulcões e terramotos: Vulcão dos Capelinhos (1957/1958); Terramoto de um da Janeiro de 1980, Terramoto de 9 de Julho de 1998, entre tantas outras crises, a apelar numa Reconstrução, que se continua e não mais acaba, a não ser na Bem-aventurança, que nos está reservada.
Açores visitados pelo Santo Padre João Paulo II, a 11 de Maio de 1991, e quando se avizinha a vinda a Portugal do Papa Bento XVI, ecoa-nos, ainda aos ouvidos, as palavras proferidas por João Paulo II, aos sacerdotes e fiéis desta Diocese de Angra: “A Reconstrução continua”. E tem de continuar, não apenas nos templos ainda por reconstruir, danificadas pelo último terramoto do Faial e Pico, mas muito mais nos desafios que nos esperam nestes tempos da Globalização.
Em Novembro do ano passado celebramos os 475 anos da elevação a Diocese de Angra, por Bula do Papa Paulo III, em 3 de Novembro de 1534. Mas a viagem da história da Evangelização continua nestas Ilhas e em todo o mundo, onde o apelo de missão nos chamar.
Não há que ter medo, mesmo com o mar alteroso, à nossa volta, pois Cristo, vai na barca. Preciso é estar atento à sua Palavra e deitar as redes à pesca. Ele aguarda-nos na próxima margem com o Pão da Vida e as brasas, onde se forjam os cristãos de sempre. "
Artigo publicado no Jornal "A União" de hoje da autoria do Padre Dolores

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Poema "Romeiro"



Este poema assim como a foto acima, encontram-se publicados no Jornal "Diario dos Açores" datado de 16 de Março findo. Um poema a ler várias vezes, não só para reter as sábias palavras de quem o escreveu mas também, para deste poema, fazermos uma escolha de vida.


"A lágrima é teimosa

por vezes orgulhosa

sempre a insistir.

E se pensar que trava-la

vamos conseguir.

Lá abre caminho

e de mansinho

mesmo pelo cantinho

consegue sair.


Nem sempre silenciosa

mas também ruidosa

temos que admitir.

Não é só no sofrer

muitas vezes no prazer

ela se faz sentir.


Quais contas de um terço

que se reza com carinho

de lágrima vão

salpicando o caminho.

Tu sabes eu conheço

este sentimento profundo.

É valor que não tem preço

não se compram, não se vendem

lágrimas neste mundo.


Será uma bênção?

Será um castigo?

Não sei meu irmão,não sei meu amigo.

Talvez a explicação

só viva contigo.


Por vezes a doença

já ditou a sentença,

enquanto tão incomoda

é sua presença.


E teima em ficar

sem se desculpar,

Que nem mesmo para entrar

teve de pedir licença.


É quando a miude

que pela saúde

Rogando se vai.

Uma lágrima teimando

de vez enquando

rolando lá cai


Irmão companheiro

Homem verdadeiro

quando a mascara cai

Mostra-se por inteiro

o nosso Romeiro

e caminhando lá vai.


É no regresso a casa

onde o calor abrasa

e que do peito se esvai.

Que recorda as memórias

de vividas histórias

que pela boca lhe sai.


Irmão ferido...

de pé dorido...

desta caminhada.

Desejo cumprido...

peito comovido...

mas de alma lavrada.


Romeiro Romeiro

que de tão longe vens

quero ser o primeiro

a dar-te os parabéns

Esquece o cansaço

desta Romaria

E recebe um abraço

de fraterna Alegria"

Memórias de 2009

Abaixo se transcreve um artigo publicado nos Jornais "Açoreano Oriental" assim como no "Diario dos Açores", datados de 24/03/2009.

"A caminhada “Peregrinos do Infinito” reúne a partir de quarta-feira meia centena de Romeiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição (Angra do Heroísmo) numa jornada de cerca de 200 quilómetros pelas estradas da ilha Terceira.

“A romaria é encarada com esperança e testemunho público do sentido penitencial da fé nesta época de Quaresma para a Páscoa da Ressurreição”, disse hoje à Lusa o reitor do seminário, padre Francisco Dolores.
Os cerca de meia centena de romeiros, com idades entre os 8 e os 65 anos, são oriundos das ilhas Terceira, São Miguel (4) e Graciosa (4) e vão percorrer as estradas da ilha ao longo de duas centenas de quilómetros de orações e penitências.
A romaria inicia-se com uma missa às 4 da manhã de quarta-feira no Santuário seguida da partida, uma hora depois em direcção à primeira freguesia, Santa Bárbara, onde, ao cair do dia vão pernoitar.
Ao longo do percurso, feito em duas alas pelas estradas, os romeiros rezam pais-nossos e ave-marias por si e por todos quantos os abordam a solicitar orações.
De acordo com a tradição, o público pode abordar os romeiros perguntando: - Quantos irmãos são? Recebe por resposta: - Somos cinquenta e mais três que são Jesus, Maria e José.
Este diálogo é feito entre o público e o “procurador das almas” o elemento que vai no fim da romaria para receber os pedidos.
Quem pede, explica Francisco Dolores, também fica obrigado a rezar tantas ave-marias de acordo com o número de romeiros.
No ano de 2007 os romeiros foram solicitados para 140 pedidos de intenções, número esse que se elevou para 200 no ano passado.
O grupo, onde se integra o mestre, é encabeçado pelo romeiro mais novo que transporta a cruz e pelo contra-mestre, rezando todos alternadamente, pais-nossos e ave-marias com terço que seguram nas mãos que complementa um outro que trazem ao peito.
O vestuário dos Romeiros está de acordo com a simbologia do tempo quaresmal e representa diversas facetas do calvário e Paixão de Cristo.
A saca que levam às costas, onde transportam roupa, simboliza a cruz de Cristo, enquanto o xaile representa o manto vermelho que os romanos colocaram em Jesus Cristo quando foi julgado.
O lenço, que por vezes serve para tapar a cabeça, representa a coroa de espinhos e o bordão simboliza a vara de cana que deram a Jesus Cristo quando lhe disseram que era o Rei dos Judeus.
Ao longo dos cinco dias de caminhada, sempre no sentido dos ponteiros do relógio, e orações os Romeiros vão pernoitar e alimentar-se nas freguesias de Santa Bárbara, dormindo na Casa dos Romeiros.
Depois na freguesia da Agualva pernoitam no Centro Social enquanto nas freguesias do Porto Martins e, depois, São Sebastião, dormem em casas de particulares que os acolhem.
A marcha dos Romeiros termina no dia 29, domingo, junto à Ermida de Santo António, no Monte Brasil em Angra do Heroísmo num “jantar com as famílias”.
O último acto é uma missa no Santuário de Nossa Senhora da Conceição.
Segundo o padre Francisco Dolores estas romarias, ainda que mais pequenas nas distâncias percorridas, foram tradicionais na ilha Terceira ao longo dos séculos XVIII e XIX.
Durante o século XX, “não tenho registo da realização de qualquer romaria”, assevera.
As romarias na ilha foram retomadas no ano de 2007 com 26 pessoas e continuada no ano passado com 39."

Missa nova do Padre André foi momento de profunda fé

Com alguma humildade da nossa parte, mais um nosso irmão Romeiro que connosco caminhou quando ainda era Diácono (com as incertezas próprias do ser humano) e hoje já é Sacerdote.
Este artigo que abaixo transcrevemos foi publicado no Jornal Correio dos Açores, no dia 22 de Dezembro de 2009.

"A Missa Nova do padre André Resendes encheu domingo a igreja de Nossa Senhora dos Anjos e o adro do templo, na Fajã de Baixo. Viam-se muitas lágrimas nos olhos e no rosto dos fiéis que presenciaram uma celebração litúrgica que mobilizou o clero da ilha de São Miguel. Padre André Resendes Graça, de 25 anos de idade, foi ordenado de Presbítero no sábado pelo Bispo de Angra e Ilhas dos Açores, D. António Sousa Braga e a sua Missa Nova de domingo encantou os crentes que acorreram à igreja da Fajã de Baixo, terra que o viu crescer ao lado de sua madrinha do Baptismo, Maria dos Anjos Resendes. Entre os padres que se encontravam na homilia, encontravam-se os seus principais tutores, o padre João Maria Brum, pároco de São Pedro; e o padre Victor Vicente, pároco da Fajã de Baixo. E também estavam três dos quatro jovens padres, do seu curso, todos ordenados este ano. São eles os padres Hélio Soares, João da Ponte, Ruben Medeiros e Marcos Miranda. Nascido em São José de Ponta Delgada, padre André é filho de António Graça de Jesus e de Maria de Jesus Rego Resendes. A ordenação sacerdotal foi organizada ao pormenor, envolvendo alguns grupos de trabalho ligados a uma igreja que, enquanto templo e organização religiosa, tem uma forte relação com a sociedade local. Já passavam das 14h30 quando padre André saiu, debaixo de algum chuvisco, de casa de sua madrinha Maria dos Anjos em direcção à igreja por cima de um tapete de flores e aparas de várias cores. Incorporados no cortejo estavam alguns padres, diáconos, familiares e amigos que marcaram a vida do novo padre. Ao longo do percurso o chuvisco parou e o sol raiou. Quando padre André chegou, a igreja de Nossa Senhora dos Anjos já estava repleta de fiéis. Um forte aplauso assinalou a sua entrada no templo onde tudo estava previsto. Um ambiente de festa caloroso recebeu a homilia do jovem padre que, no sermão, sublinhou a relação de cada qual com Jesus Cristo. Fez várias referências à fé, deixou um sentido de esperança e exortou os cristãos a afirmarem-se na sociedade onde estão inseridos. Falou de uma forma simples e emotiva que tocou os crentes presentes, alguns dos quais assumiam com orgulho as lágrimas que lhes corriam pelo rosto. E nos olhos de padre Victor, onde André encontrou sempre um amigo, havia um forte brilho nos olhos. Fez, na realidade, todo o sentido quando o jovem padre pediu um aplauso para o padre Victor enquanto seu tutor, enquanto o pároco da Fajã de Baixo, com um semblante humildade, estendia a mão em direcção a André dizendo por gestos que era ele, sim, quem, naquela hora, merecia. Foi o maior aplauso de uma Missa Nova abrilhantada com classe pelo coro da Fajã de Baixo. O Sagrado Sacramento da Eucaristia foi o momento alto da homilia e à comunhão estiveram todos os presentes. Foi notória, então, uma forma mais viva de fazer igreja com a primeira hóstia de padre André a ser entregue a sua madrinha Maria dos Anjos. Ao repórter, entretanto, não escapa a forma como padre Victor dava comunhão aos acólitos, alguns ainda crianças, da paróquia. Dava-lhes a hóstia na mão e eram elas que a molhavam na água que se encontrava dentro de um cálice antes de comungarem. Movimentos feitos com uma sobriedade e fé espantosas. Uma missa em que Padre André agradeceu a todos os que se envolveram na sua ordenação e contribuíram para que tudo estivesse previsto. No final da Missa Nova, padre André reuniu num jantar a comunidade sacerdotal que assistiu à sua ordenação e Missa Nova, acólitos, familiares e amigos, incluindo as suas catequistas. Foi uma confraternização em ambiente familiar onde o jovem conviveu com cada uma das famílias presentes, manifestando-lhes agradecimento pelo homem que é hoje. E até um dos romeiros presentes fez questão em sublinhar a sua costela de peregrino entoando um cântico das romarias quaresmais micaelenses, no que foi seguido pelos irmãos presentes. O grupo de quatro dos cinco jovens padres cantaram, ao longo do jantar, algumas canções religiosas animando o serão de uma comunidade cristã onde Berta Cabral (presidente da câmara de Ponta Delgada) estava inserida como membro de pleno direito. Tudo era simbólico no bolo de festa: O altar, a pomba branca, cada uma das flores e as suas cores. As quatro tulipas brancas correspondiam aos outros quatro jovens padres do seu curso ordenados sacerdotes este ano. Um bolo de ordenação sacerdotal que ficará na memória das pessoas mais próximas de padre André que seguiram, ao pormenor, a explicação sobre a simbologia de cada peça. Este foi também o momento para o jovem padre pedir o parabéns a você para dois jovens que fizeram anos no dia da sua Missa Nova, a Maria e o António Mendeiros Lopes. Foi, assim, num ambiente festivo, que a confraternização foi chegando ao fim, com o padre André a distribuir a cada família uma recordação da sua ordenação. Um jantar confeccionado e organizado por Paulo Mota muito elogiado pelos presentes.
Autor: João Paz"


quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os "sinais" em Romaria

(peça exposta na loja Sapateia)

"Desde a morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos nós (meros Homens e Cristãos) por vezes caímos na tentação de querer ver sinais da presença efectiva de Deus nas nossas vidas. Apesar de tudo o que dizemos, escrevemos ou professamos, são muitas as vezes e situações que assim pensamos e agimos. Não nos basta o que Ele transmitiu aos seus discípulos e seguidores, não nos basta o que ficou escrito “Felizes os que acreditam sem terem visto” e ainda hoje, por vezes, continua a não bastar… infelizmente. Ainda hoje queremos ouvi-Lo “com numerosos «milagres, prodígios e sinais» (Act 2, 22)”.
Deus está constantemente a dar-nos sinais, mas nós, muitas vezes, procuramos sempre do lado do extraordinário e raramente Deus está no extraordinário. Deus está, isso sim, frequentemente no simples e na simplicidade da vida. Para mim, o maior sinal que Ele nos oferece é o de uma família humana, como as nossas, em que Ele se faz corpo para ser «Deus connosco».
Conta-se que um velho árabe, analfabeto, orava com tanto fervor e carinho, cada noite, que certa vez, o rico chefe da grande caravana, chamou-o à sua presença e lhe perguntou: “Por que rezas com tanta fé? Como sabes que Deus existe, se nem ao menos sabes ler?”. O crente respondeu: “Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais dele”. “Como assim?”, indagou o chefe, admirado. O servo humilde explicou-se: “Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?”. “Pela letra”. “Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa quanto ao autor dela?”. “Pela marca do ourives”. O empregado sorriu e acrescentou: “Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe, depois se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?”. “Pelos rastros”, respondeu o chefe, surpreendido. Então, o velho crente convidou-o para fora da tenda e mostrando-lhe o céu, onde a lua brilhava cercada por multidões de estrelas exclamou, respeitoso: “Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens…muito menos de algum cavalo ou algum boi…logo são de Deus!”. Nesse momento, o rico chefe, ajoelhou-se na areia e começou a rezar também.
Deus, mesmo sendo invisível ao olhar humano, deixa-nos sinais em todos os lugares. Na manhã que nasce calma com o chilrear dos pássaros, no dia que transcorre com o calor do sol que nos aquece ou com a chuva que cai e sacia a terra e o verde das pastagens. Ele também deixa sinais, quando alguém se lembra de ti, quando alguém te considera importante ou te visita numa hora de sofrimento.
Deus está em todo o lado mas, na maioria das vezes está naqueles locais, naquelas pessoas ou naquelas situações em que pensamos que nunca estaria.
Também em romaria não somos muito diferentes e muitos de nós (começando por mim algumas vezes), tendemos a querer ver sinais aqui, ali ou acolá, quando esses mesmos sinais não estão ao nosso redor, não estão fora de nós, mas sim estão “simplesmente” dentro de nós, dentro dos nossos corações.
No 4º dia de romaria, um dia por excelência em que o silêncio com Deus reina sobre todas as coisas e especialmente no “meio do nada”, onde temos tudo em abundância, este ano deparei-me com uma “certeza” (incerteza por certo já neste preciso momento) sobre estes sinais. A meu ver existem três tipos de sinais. O 1º tipo são aqueles que vemos mais frequentemente em romaria, vulgarmente chamados de trânsito. O 2º tipo são aqueles que denomino de “seguidores de Tomé”, os quais, ao verem um pequeno nevoeiro a cobrir tudo e todos, já imaginam a transfiguração de Cristo Nosso Senhor assim como a aparição de Moisés e Elias, e o 3º e último tipo de sinais (os autênticos) são aqueles que apenas vemos com os olhos da alma, são aqueles que apenas sentimos nas entranhas do espírito, são aqueles que, não havendo nada de extraordinário ao nosso redor, Deus está connosco e nós com Ele."

Artigo publicado no Jornal "A União" de hoje.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O 4º Dia da Romaria

Imagem publica retirada daqui


"São João da Cruz insigne Santo de grande misticismo afirmou em certa ocasião o seguinte:



“Fecha os olhos e verás
Faz silêncio e escutarás”




"A mente é uma massa confusa em que é difícil distinguir o que é pensamento do que é emoção, tudo está misturado: Recordações, imagens, projectos, pressentimentos, ressentimentos, pensamentos, critérios, aspirações, obsessões, ansiedades, etc., tudo está numa confusa mistura. Nesse mar turbulento e agitado é difícil “estar” com o Senhor.
Em boa hora se incluiu mais um dia à nossa Romaria indo para o interior da Ilha.
Assim no silêncio e equilíbrio da paisagem campestre podemos na fé e no amor “estar” com o Senhor Deus.
Bem haja o nosso Irmão Mestre que de tal se lembrou e pôs em prática.

Participamos na Romaria porque não podemos viver sem Deus e a Romaria é uma busca com os Irmãos do rosto do Senhor que cada um a seu modo o faz.
Também nos impulsiona aquele ardente anseio, inúmeras vezes expresso pelos homens de todos os tempos de Deus e que se manifesta com aquele grito “Mostra-me o Teu Rosto”. Rosto de Deus é uma expressão Bíblica que significa a presença viva do Senhor e, essa presença faz-se mais palpável, na fé e no amor quando a intimidade se torna mais profunda e intensa e nada mais adequado que o 4 dia.

O Mestre dos mestres, Jesus disse: “entra em teu quarto” . Entrar num quarto é tarefa fácil, porém que fazemos se o mundo turbulento e agitado vem connosco? Esse quarto de que fala Jesus é preciso entendê-lo em sentido figurado; é aquela última solidão do ser.
Diz Jesus ainda “fecha as portas e as janelas”. Fechar estas portas e aquelas janelas é tarefa fácil, porém o que fazer com todas as inquietações que nos apoquentam e acompanham no dia-a-dia, nada melhor que o 4 dia para serenar a mente e encontrar paz no coração.
Acho que a maioria dos Irmãos não chega a experiências profundas com Deus por não estar aberto a um trabalho de despojamento que se encontra no silêncio daquele dia.
Mas o Senhor que é paciente e compassivo dá-nos mais uma oportunidade para o próximo ano na V Romaria."
Artigo escrito pelo irmão João Dinis

Tomé e outros seguidores

"Está na moda, em certos meios sociais, sobretudo, em algumas ditas “elites”, não sei de quê, afirmarem-se como agnósticas ou ateias. É um fenómeno transversal, muitas vezes ligado a correntes de pensamento, que no século passado e, ainda hoje oprimiram milhões de pessoas, atirando-as para os campos de concentração, “goulagues” ou “cortinas de bambu”.
Numa globalização, onde imperam interesses de grupos económicos de um liberalismo selvagem, feito “bezerro de ouro”, até de sistemas políticos e sociais, como os novos impérios emergentes, sobretudo da Ásia, tudo é possível, menos a autêntica liberdade religiosa, onde os fiéis possam exprimir a sua fé.
Nem falamos, propriamente, dos chamados “cristãos de São Tomé”, que a Epopeia dos portugueses encontrou na Índia das Especiarias. Hoje, também eles a braços com fanatismos, que os perseguem em certos estados daquela, que alguns designam como a maior democracia do mundo, apesar das suas milhentas castas.
Evidentemente, que São Tomé precedeu os que hoje se afirmam de descrentes, à espera de apalparem provas materiais, como se tudo pudesse ser visto ao microscópio ou ao telescópio: “ Se não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se não colocar o meu dedo na marca dos pregos e se não meter a mão no Seu lado, não acreditarei”.
Muitas vezes cegos, pela novidade, pelo sucesso ou, por uma outra qualquer presunção, perfilam-se os candidatos a serem incensados, à boa maneira dos “imperadores–deuses”
do Império Romano, que fizeram milhares de mártires da Fé, entre os discípulos de Cristo, nomeadamente os Apóstolos Pedro e Paulo, a quem continuam a crucificar em nossos dias.
Até que “uma semana depois, os discípulos estavam reunidos. Desta vez, Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no Meu Lado. Não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu a Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!». (Confira João 20, 24-29).
O orgulho de muitos, o “politicamente correcto”, leva a que muitos, mesmo que tenham descoberto as Chagas de Cristo, de cujo crucifixo, têm mais medo do que o diabo, não abram a boca e confessem o mesmo que Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!».
Para os que passam por semelhante experiência, Jesus diz o mesmo: «Acreditaste porque viste. Felizes os que acreditam sem terem visto». É ocasião de te interrogares sobre a tua Fé. De que lado te colocas. Ou vais fugir como os Discípulos de Emaús?"
Artigo publicado no Jornal "A União" de ontem da autoria do Padre Dolores

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Porque será que há sacerdotes?

"Nesta série de textos tem-se procurado dar conta de que os “sacerdotes” de qualquer religião, correspondem a uma necessidade das consciências humanas. Isto em todas as religiões, que o são de facto. É que há movimentos de certa espiritualidade que não são religiões. Por exemplo o Confucionismo.
Esta exigência básica das consciências religiosas seria o suficiente para aparecerem sacerdotes da Igreja de Cristo, o que teria acontecido se eles os não tivesse instituído. Mas, como se tem dito, seria um sacerdócio muito diferente daquele que realmente existe, que foi instituído por Cristo. Aliás, a própria Igreja ter-se-ia formado, se Cristo a não tivesse fundado. Porém, como já foi dito, ela seria a igreja dos cristãos, e não a Igreja de Cristo. E o sacerdócio não seria o sacerdócio instituído por Ele. Seria semelhante a certos pastores protestantes.
Essa igreja até poderia estar dividida em muitas igrejas diferentes, sem serem Igreja “Uma”, como ela é. E seria parecida, com muitas igrejas protestantes que são praticamente diversas e separadas umas das outras. Ou seriam como milhentas seitas que por aí existem, totalmente separadas entre si. E procurando separar a Igreja de Cristo que é Una. Algumas delas tentam estabelecer uma possível unidade.
Para entendermos bem esta existência do sacerdócio na Igreja de Cristo, é importante tomarmos consciência de que ele a quis formar e a formou realmente. Assim era natural que Ele mesmo lhe desse o seu sacerdócio.
Vamos, pois, seguir os andamentos de Cristo nos Evangelhos. E vamos dar conta de que Ele foi preparando essa Igreja. E com ela o sacerdócio. Para tal, começou por reunir e orientar discípulos, e entre estes escolheu alguns a quem chamou Apóstolos, isto é, “Enviados”. Ensinou-os em particular e, a certa altura, encarregou-os de pregar e “reger”. Era a raiz do sacerdócio. Eles viriam a ser os primeiros sacerdotes. Tudo isto significa uma organização definida. Foi o que Ele fez.
Uma das expressões mais significativas encontra-se no Evangelho de S. Mateus, cap. 18 Vers. 16: “tudo o que ligardes na terra será ligado no céu e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. Estas palavras vêm num contexto de autoridade; vers. 17: “se ele (o teu irmão), se recusar a ouvi-las (as testemunhas), comunica-o à Igreja”.
E, noutro lugar, Lucas, 10, 16, diz: “quem vos ouve a Mim é a Mim que ouve, quem vos despreza a Mim despreza”. E em S. João, 13. 20: “quem recebe aquele que eu enviar, é a mim que recebe”. Estão a aparecer as pessoas concretas para o sacerdócio.
Mas antes de fazer estas afirmações, Ele tinha falado a Pedro de maneira muito directa. Lê-se em S. Mateus, cap. 16. 18: “tu és Pedro e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligardes na terra será ligado no céu. E tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”.
Mais, no Evangelho de S. João, cap. 10, Ele apresenta-se como Bom Pastor do seu rebanho. É uma imagem de profundo valor de unidade e orientação. No povo judeu o pastor e o rebanho constituíam uma autêntica “família”. Isto equivale a uma “igreja”. Isto é “povo reunido”.
Mas ele continuou, vers. 14: “Eu sou o Bom Pastor, conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas conhecem-me”; vers. 16: “ tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco e também tenho que as conduzir”. “Ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”. E, mais tarde vers. 27: “as minhas ovelhas ouvem a minha voz: eu conheço-as e elas seguem-me”.
Na sua maravilhosa fala na Última Ceia (vale a pena lê-la) no Ev. De S. João, cap. 17, vers. 18), “assim como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo” … “não rogo somente por eles, mas também por todos aqueles que, pela sua palavra, hão-de acreditar em mim”. Estava aqui o encargo de pastorear.
Estas afirmações não foram feitas com referência exclusiva àquele grupo que andava com Ele. Na verdade, o seu projecto não tinha limites, pois era extenso a todos os homens. É que antes de subir ao céu, ele disse: “ide e ensinai todas as gentes batizando-as em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo” (Mat. 28. 19.)
E ainda naquela mesma Ceia, ao instituir a Eucaristia, vieram as palavras mais abrangentes de todas: “sangue da Nova e Eterna Aliança derramado por vós e por todos … fazei isto em memória de mim”.
Foi mesmo a comunicação do poder sacerdotal no ambiente daquela que seria a sua Igreja. Mais, antes de subir ao céu, deu a Pedro o célebre encargo de ser pastor das suas ovelhas. A cena é dum alcance total. Por três vezes Ele mandou Pedro apascentar as suas ovelhas: S. João, cap. 21:
- vers. 15: apascenta os meus cordeiros…
- vers. 16: apascenta as minhas ovelhas …
- vers. 17: apascenta as minhas ovelhas …
Está constituído o rebanho para atravessar os tempos, como ovelhas de Cristo, apascentadas por Pedro e pelos outros Apóstolos a quem Ele as entregou. Para estas tarefas Ele enviou “pastores” com funções de mestres e de sacerdotes. É o que veremos."
Artigo publicado no Jornal "A União" de hoje da autoria de Caetano Tomaz

terça-feira, 6 de abril de 2010

Romeiros – Homens que caminham pelo Livro de Génesis

Peça exposta na loja "A Sapateia"
"Há alguns dias atrás num contexto que não vem aqui a respeito, o “nosso” Padre Dolores saiu-se com a afirmação que serve de base ao titulo, dizendo que “Os Romeiros são Homens que durante a quaresma vivem as passagens descritas no Livro de Génesis apenas caminhando.”
Realmente, muitas vezes tem destas saídas, em que pensamos que serão “apenas” mais umas frases bonitas e, no entanto, são frases ou pensamentos com uma profundidade tamanha que ficamos dias a fio a pensar nessas frases ou pensamentos, no seu contexto e na sua abrangência nas nossas vidas de Cristãos. Esta foi mais uma delas em que, mesmo para quem já anda em romarias há longos anos (e não me refiro a mim certamente ou algum dos meus irmãos ao longo destes quatro anos), fica fascinado ao dar-se conta que, na verdade, vive essas passagens simplesmente caminhado.
Qualquer que seja o rancho começa a sua caminhada diariamente nas “Trevas”, onde as formas são vazias de conteúdo, onde apenas conseguimos ver o irmão que caminha à frente. Aos poucos a “Luz” começa a despontar no horizonte, tal como Deus disse. Quando nos apercebemos deste milagre diário, damo-nos conta que a separação entre as Trevas e a Luz é muito ténue, tal como é muito ténue a separação entre o Mal e o Bem. O Mal, dependendo do estado de alma do Homem, muitas vezes faz-se passar pelo bem para assim enganá-lo e ludibriá-lo, mas o Bem, o verdadeiro e único Bem vem do Altíssimo e Ele, na maioria das vezes fala-nos no silêncio da Luz que nos ilumina através do Espírito Santo. Em romaria (mas não só) deixamo-Lo falar, seja na brisa que passa, na chuva que teima em não parar, nas aves que pairam no céu, nos campos cheios de vida, nos animais que se abeiram das paredes ou simplesmente no irmão que ao passar pelo rancho cantando a Ave-maria, algo maravilhoso lhe acontece ao ver a Cruz que segue à frente. Tira-Lhe o chapéu que cobre a cabeça e, mesmo que pequenas gotas de orvalho matinal lhe molhem a cabeça, apercebe-se que, tal como todos nós, só terá a derradeira recompensa através d`Ele, que deu a vida por nós. Só Ele é que nos salva, Aquele que segue à nossa frente, Aquele que seguimos.
Depois, vemos tudo aquilo que Ele criou, a terra e o céu, as arvores e os campos, as plantas e suas sementes e por fim os animais. Como é belo vermos estas maravilhas com outros olhos, com outro olhar, que não o do dia-a-dia da vida.
Por fim, do pó da terra que Ele nos soprou nas narinas, cruzamo-nos com o fôlego da vida. Cruzamo-nos com os nossos semelhantes, muitos deles atarefados nas suas labutas diárias, quais “Martas”, mas também, aqui e ali, cruzamo-nos com aqueles semelhantes que rezam e oram, quais “Marias”.
Poderia explanar mais passagens do Livro de Génesis que se enquadram com a vivência de uma romaria, no entanto, o “restante” Livro de Génesis (o género humano, o pecado, a redenção, a vida em família, a corrupção da sociedade, entre outros temas) é vivido, sentido e orado individualmente, através das contas do terço ou através das meditações, durante a caminhada.
Termino com uma passagem fabulosa (para frasear um irmão) do livro “Se tu soubesses o dom de Deus” “Ser apóstolo não consiste em fazer muitas coisas ou em resolver muitos problemas; talvez consista em poucas, talvez numa só: ser presença e testemunha de um Reino que é o de Jesus.”

Artigo publicado no Jornal "A União" de 5ª feira passada.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Páscoa e a desidratação

"Uma das grandes descobertas do séc. XX , foi o problema da desidratação dos organismos vivos, em especial do homem. Aliás sabia-se da função essencial da água nesses organismos. E também se sabia que a sua falta era a desidratação que matava tantos…
Neste horizonte um dos grandes passos da saúde nesse séc. XX, consistiu em conseguir a hidratação por meio de “soros” em casos de doenças e outros acidentes. Em Dezembro de 1944, eu próprio fui salvo pala aplicação do dito soro. O processo era ainda “primitivo” mas, sem ele, eu teria morrido nos meus 19 anos…
De lá para cá o “soro” é um recurso constante para socorro dos organismos desidratados ou em perigo disso…
Este facto pode alertar-nos para a “desidratação da alma”. E pode levar-nos a vários tipos dessa desidratação. Por ocasião desta Páscoa podemos pensar na desidratação “espiritual”. E pensar que Cristo é “Fonte de Água Viva”. E que a falta d’Ele constitui uma profunda dimensão dessa desidratação espiritual. Ela concretiza-se de muitas formas, a muitos níveis, e por muitas vias. Uma das mais determinantes é o esquecimento d’Ele nas nossas mentes actuais.
E o seu processo passa pela falta de conhecimento do Evangelho e pela falta de celebração da Eucaristia. Também pelo abandono da religião e da prática religiosa em geral.
Esse abandono é desencadeado por muitas formas de dispersão do nosso tempo. É-nos muito facial andar ausentes, não ligar, não fazer esforço, esquecer… E andar embriagados com as coisas do mundo…
Estes factos são agravados pela nossa “deseducação” no campo das “boas maneiras” espirituais”. Essa deseducação é muitas vezes revestida com atitudes de desdém, desprezo, e até agressão para com os grandes valores do espírito. E, muito concretamente, do Evangelho.
Pois bem, estes dias de Páscoa são uma boa ocasião para a nossa “hidratação” espiritual. Uma das vias mais simples será ler as ultimíssimas páginas dos quatro Evangelhos, São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João. Nelas encontramos Cristo que se apresenta aos seus discípulos, outra vez vivo, muito vivo. Isto é, Ressuscitado!
Para quem não conseguir ler as últimas páginas deles todos, recomenda-se o de Lucas, concretamente no capítulo 24, versículos 13 a 43. É impressionante o encontro d’Ele com os discípulos de Emaús e, depois, com os Onze. As suas almas ficaram “hidratadas”pela presença do Mestre que se lhes revelou.. E, por testemunho deles, se pode revelar a qualquer de nós…
Cristo não perdeu a sua força espiritual. As almas desidratadas é que a perderam. Os Evangelhos são formidáveis “fontes” de soro espiritual. De Cristo “Água Viva.” "

Artigo publicado no Jornal "A União" de 1 de Abril da autoria de Caetano Tomáz

Tríduo Pascal

"Os cristãos são chamados, após o retiro quaresmal, a uma maior vivência do Mistério da Fé, no Tríduo Pascal: Ceia do Senhor, Paixão, Morte e Ressurreição. Neste Ano Sacerdotal, não têm faltado as iniciativas no aprofundamento deste ministério, nascido na “Sua Hora” de “passar deste mundo para o Pai”.

Incompreensível para os não crentes e mal vivido por muitos dos que se dizem baptizados, mas que estão nos antípodas do Evangelho. Num mundo que confunde laicismo, com ateísmo militante, a Igreja, com os seus pecados e virtudes, sofre nos seus membros a “Paixão” de todos os tempos.
As situações de maiores restrições à liberdade de religião e “de culto encontram-se nos países de maioria muçulmana, especialmente no Médio Oriente e no Norte de África, mesmo às nossas portas. No Sudão o massacre não cessa, perante a indiferença do mundo, dito livre. Cristãos atacados no Egipto, na Malásia, no Vietname, no Iraque, na Indonésia.
“Segundo a Christian Security Network, nos Estados Unidos foram cometidos, em 2009, mais de mil e duzentos crimes contra organizações cristãs”, inclusive doze homicídios e três actos de violência, que englobam também três tentativas de violação e três sequestros. A registar noventa e oito incêndios dolosos e setecentos assaltos”.
A Agência Fides noticiou que, em 2009, foram assassinados trinta e sete testemunhas do Evangelho (trinta sacerdotes, duas religiosas, dois seminaristas e três leigos, na sua maioria na América Latina.
Não faltam “os Judas”, que após terem estado reunidos à volta da Mesa do Senhor, O vendem pelos trinta dinheiros de sempre. Nem “os Pedros”, que O negam perante as autoridades, os tribunais e opinião pública dos nossos dias, a pedirem a libertação de Barrabás e a crucifixão de Cristo.
Fica-nos o exemplo ímpar do Lava-pés, num amor não só de palavras, mas de gestos concretos de quem dá a prova de que “os amou até ao fim” (João 13, 1). Os braços abertos, do Crucificado, incomodam todos, com quem o Senhor se identifica: Os humilhados, injustiçados, abandonados de todos os tempos.
Mas a noite vai acabar, a pedra do Túmulo vai ser removida. Já se vislumbra a “Luz de Cristo Ressuscitado”, a ofuscar os confundidos com as diatribes de sempre. A memória de Deus é de Amor e Perdão: “Pai, perdoai-lhes, por que não sabem o que fazem!”
Uma Santa Páscoa!"

Artigo publicado no dia 1 de Abril, da autoria do Padre Dolores

Portas Fechadas

"Havia medo e não pouco. Os acontecimentos precipitaram-se. Tornou-se difícil distinguir amigos de inimigos. Testemunhas de acusação eram às centenas. Uma espécie de fenómeno misterioso se apoderou dentro e fora. Deixou mesmo de haver dentro e fora. Apenas multidão, povo, plebe. Entusiasta junto às portas de David, trajou-se de crueldade junto aos portões de Pilatos.
Os discípulos caíram no sono profundo de quem se coloca fora de cena. Pedro – de quem se havia escutado as palavras mais sublimes sobre Jesus – não escapa ao espectáculo de cobardia e indiferença perante a prisão e aviltamento do Mestre de palavra eterna. Só, rigorosamente só, Jesus teve de ir do Getsémani ao Calvário, apenas sob o insulto e o chicote. Um olhar enternecido de mulheres, a presença da Mãe à distância consentida, o arrastamento infindo de correntes, cruz e os farrapos humanos que lhe restavam. Nem um momento de quietude. Nem um vislumbre de luz. O céu e a terra adensavam numa espécie de marcha fúnebre em memória dum condenado sem glória nem retorno.
Por isso os apóstolos trancaram as portas com medo. Nada estava concluído apesar de Jesus dizer que “tudo está consumado”.
Apenas estranhos como o Centurião e Nicodemos trabalhavam na sombra a convicção de que ali não estava o fim. Um dos ladrões também, mas tinha partido. Um silêncio descrente se apoderou de todos, inclusive dos que desconfiavam dos guardas do túmulo que poderiam deixar escapar, por roubo, o corpo desse Nazareno que veio roubar a tranquilidade à cidade ocupada onde pouco acontecia. Outra vez fora adiada a vinda do Messias.
Estavam por isso bem cerradas as portas. E o Ressuscitado apareceu: a paz esteja convosco.
Hoje como há dois mil anos. Em ambiente de descrença e dúvida sobre Jesus, a Igreja, os sucessores de Pedro. Mesmo conscientes do seu pecado, os que seguiram Jesus continuam, vinte séculos depois, a celebrar convictamente a ressurreição. Na verdade Ele venceu a morte. E todo o mal. E todas as mortes. Por isso os seus discípulos não têm razão, hoje como ontem, de trancar as portas com medo."

Artigo publicado no Jornal "A União" de 31 do mês findo da autoria de António Rego