(foto e artigo da responsabilidade do Diário Insular, publicado na revista do passado fim de semana, o qual gentilmente nos foi cedido e autorizado a sua publicação aqui neste nosso espaço).
Romeiros
Caminhos de fé
Ao longo de cinco dias e pelo segundo ano consecutivo, os romeiros percorreram as estradas da Terceira, recuperando uma tradição que existiu na ilha até finais do século XIX. Ao todo, foram mais de 200 quilómetros de caminho e oração, pelas intenção dos irmãos e pela paz no mundo.
“O homem moderno tem necessidade de Deus e vai buscá-lo às religiões e às filosofias de vida. Na nossa terra, onde há uma grande tradição católica, procura-se estas manifestações de fé muito simples, como o rezar e o andar por intenções que nos pedem”, sublinha o Padre Dinis Silveira, contra-mestre do grupo de romeiros da ilha Terceira.
As vozes roucas cortam o silêncio da manhã, entoando em uníssono a “Ave-maria”. Caminhando e orando desde as 04h00 da madrugada desta quarta-feira de Fevereiro, os 34 irmãos chegam agora, volvida uma meia dúzia de horas, à Quinta do Galo, na freguesia da Terra Chã, em Angra do Heroísmo, onde lhes espera uma canja de galinha e uma broa de milho para afagar o estômago. Sobre os ombros, o xaile escuro, simbolizando o manto de Cristo, e o lenço colorido, representando a coroa de espinhos, protegem do frio. Às costas, a saca com o farnel é a cruz que cada um tem de carregar. Nas mãos, o bordão e o terço.
Organizado em fila dupla, o grupo de romeiros da Terceira transpõe os portões da propriedade e dirige-se à pequena e simples capela, pintada de branco. Nos rostos, serenidade, apesar do cansaço. Já no interior da ermida, rezam pelas intenções dos donos da casa, dos irmãos que foram encontrando pelo caminho e pela paz no mundo. Será assim nos 120 templos que visitarão ao longo dos cinco dias de peregrinação.
A tradição das romarias quaresmais - que existiu na ilha até finais do século XIX - foi retomada pelo segundo ano consecutivo. “A Terceira teve romarias e isso prova-se pelas casas de romeiros que ainda existem em freguesias como o Porto Judeu, Santa Bárbara e Serreta”, refere o Padre Dinis Silveira, contra-mestre do grupo, que tem a seu cargo, em conjunto com o mestre, toda a logística da peregrinação.
“Trata-se de uma tradição alicerçada na fé de um povo massacrado pelas intempéries e pelos vulcões e que regressa agora, na modalidade de São Miguel, com uma grande adesão”.
Um entusiasmo que, segundo o pároco, tem também uma justificação: “O homem moderno tem necessidade de Deus e vai buscá-lo às religiões e às filosofias de vida. Na nossa terra, onde há uma grande tradição católica, procura-se estas manifestações de fé muito simples, como o rezar e o andar por intenções que nos pedem”.
Pelas localidades que percorrem, os romeiros recebem pedidos de oração por um familiar doente, um amigo carenciado ou, simplesmente, pela paz da humanidade. “Já vem muita gente pedir intenções, formando-se uma corrente de oração muito grande”, sublinha o Padre Dinis Silveira, neste momento de pausa.
“A juventude também já vai aderindo, porque o mundo criou muita coisa, mas também gerou um vazio muito grande, que leva muita gente a procurar Deus”.
Os romeiros da Terceira acordam todos os dias pelas 03h00 e caminham até às 18h00, pernoitando depois em casas familiares ou em salões paroquiais. As refeições são oferecidas pela população ou compradas nas mercearias locais. Por onde passam, os peregrinos - todos homens, como dita a tradição - sentem “grande afecto e carinho das pessoas”, destaca o contra-mestre do grupo.
“Quase todas as refeições são oferecidas, assim como as dormidas nas freguesias, o que demonstra que isto veio para ficar. Hoje de manhã, por exemplo, vimos muita gente nas janelas, o que é sinal de alguma coisa…”
“Força interior”
Entre os 34 irmãos que percorrem as estradas terceirenses, seguem cinco vindos especialmente da Graciosa para o efeito e dois de São Miguel. Bruno Espínola, um jovem natural da ilha branca, teve conhecimento da iniciativa através de um grupo de paroquianos do Padre Dinis Silveira e decidiu pôr em prática a sua “relação com Cristo”.
“É um bom exercício de reflexão e de encontro com a fé, bem como uma forma de levarmos algumas tradições aqui da Terceira para a Graciosa”.
Para o irmão graciosense integrar esta romaria oferece, sobretudo, “uma grande paz”. “Cada um se encontra, individualmente, na esperança com Deus”.
A preparação para a longa caminhada é, essencialmente, “psicológica”, considera. “É algo que vem de dentro de nós. Logo que sentimos que é isto que queremos, conseguimos. É uma questão de força interior”.
Já António Furtado, oriundo da maior ilha açoriana, é um habitué nas romarias quaresmais de São Miguel. Este ano, no entanto, optou “por uma experiência nova e por conhecer uma romaria noutra terra”.
“É uma semana espiritual, que nos faz bem”, enfatiza.
Questionado sobre as eventuais semelhanças ou diferenças entre a tradição terceirense e a micaelense, garante que “é igual”.
“Apesar de lá ser quatro vezes maior, é a mesma coisa. Rezamos as mesmas orações e o terço…”
Para trás, ao longo destes cinco dias, ficam “a família, o trabalho e o stresse do dia-a-dia”, salienta.
“Carregamos novas pilhas, para começarmos de novo o ano mais purificados e com o espírito muito bom”, explica, concluindo, sem pestanejar: “Vale a pena”.
Depois da pausa para retemperar energias, os romeiros – dos 13 aos 56 anos de idade – põem-se novamente a caminho. Ao todo, percorrerão mais de 200 quilómetros, numa verdadeira jornada de fé."
Caminhos de fé
Ao longo de cinco dias e pelo segundo ano consecutivo, os romeiros percorreram as estradas da Terceira, recuperando uma tradição que existiu na ilha até finais do século XIX. Ao todo, foram mais de 200 quilómetros de caminho e oração, pelas intenção dos irmãos e pela paz no mundo.
“O homem moderno tem necessidade de Deus e vai buscá-lo às religiões e às filosofias de vida. Na nossa terra, onde há uma grande tradição católica, procura-se estas manifestações de fé muito simples, como o rezar e o andar por intenções que nos pedem”, sublinha o Padre Dinis Silveira, contra-mestre do grupo de romeiros da ilha Terceira.
As vozes roucas cortam o silêncio da manhã, entoando em uníssono a “Ave-maria”. Caminhando e orando desde as 04h00 da madrugada desta quarta-feira de Fevereiro, os 34 irmãos chegam agora, volvida uma meia dúzia de horas, à Quinta do Galo, na freguesia da Terra Chã, em Angra do Heroísmo, onde lhes espera uma canja de galinha e uma broa de milho para afagar o estômago. Sobre os ombros, o xaile escuro, simbolizando o manto de Cristo, e o lenço colorido, representando a coroa de espinhos, protegem do frio. Às costas, a saca com o farnel é a cruz que cada um tem de carregar. Nas mãos, o bordão e o terço.
Organizado em fila dupla, o grupo de romeiros da Terceira transpõe os portões da propriedade e dirige-se à pequena e simples capela, pintada de branco. Nos rostos, serenidade, apesar do cansaço. Já no interior da ermida, rezam pelas intenções dos donos da casa, dos irmãos que foram encontrando pelo caminho e pela paz no mundo. Será assim nos 120 templos que visitarão ao longo dos cinco dias de peregrinação.
A tradição das romarias quaresmais - que existiu na ilha até finais do século XIX - foi retomada pelo segundo ano consecutivo. “A Terceira teve romarias e isso prova-se pelas casas de romeiros que ainda existem em freguesias como o Porto Judeu, Santa Bárbara e Serreta”, refere o Padre Dinis Silveira, contra-mestre do grupo, que tem a seu cargo, em conjunto com o mestre, toda a logística da peregrinação.
“Trata-se de uma tradição alicerçada na fé de um povo massacrado pelas intempéries e pelos vulcões e que regressa agora, na modalidade de São Miguel, com uma grande adesão”.
Um entusiasmo que, segundo o pároco, tem também uma justificação: “O homem moderno tem necessidade de Deus e vai buscá-lo às religiões e às filosofias de vida. Na nossa terra, onde há uma grande tradição católica, procura-se estas manifestações de fé muito simples, como o rezar e o andar por intenções que nos pedem”.
Pelas localidades que percorrem, os romeiros recebem pedidos de oração por um familiar doente, um amigo carenciado ou, simplesmente, pela paz da humanidade. “Já vem muita gente pedir intenções, formando-se uma corrente de oração muito grande”, sublinha o Padre Dinis Silveira, neste momento de pausa.
“A juventude também já vai aderindo, porque o mundo criou muita coisa, mas também gerou um vazio muito grande, que leva muita gente a procurar Deus”.
Os romeiros da Terceira acordam todos os dias pelas 03h00 e caminham até às 18h00, pernoitando depois em casas familiares ou em salões paroquiais. As refeições são oferecidas pela população ou compradas nas mercearias locais. Por onde passam, os peregrinos - todos homens, como dita a tradição - sentem “grande afecto e carinho das pessoas”, destaca o contra-mestre do grupo.
“Quase todas as refeições são oferecidas, assim como as dormidas nas freguesias, o que demonstra que isto veio para ficar. Hoje de manhã, por exemplo, vimos muita gente nas janelas, o que é sinal de alguma coisa…”
“Força interior”
Entre os 34 irmãos que percorrem as estradas terceirenses, seguem cinco vindos especialmente da Graciosa para o efeito e dois de São Miguel. Bruno Espínola, um jovem natural da ilha branca, teve conhecimento da iniciativa através de um grupo de paroquianos do Padre Dinis Silveira e decidiu pôr em prática a sua “relação com Cristo”.
“É um bom exercício de reflexão e de encontro com a fé, bem como uma forma de levarmos algumas tradições aqui da Terceira para a Graciosa”.
Para o irmão graciosense integrar esta romaria oferece, sobretudo, “uma grande paz”. “Cada um se encontra, individualmente, na esperança com Deus”.
A preparação para a longa caminhada é, essencialmente, “psicológica”, considera. “É algo que vem de dentro de nós. Logo que sentimos que é isto que queremos, conseguimos. É uma questão de força interior”.
Já António Furtado, oriundo da maior ilha açoriana, é um habitué nas romarias quaresmais de São Miguel. Este ano, no entanto, optou “por uma experiência nova e por conhecer uma romaria noutra terra”.
“É uma semana espiritual, que nos faz bem”, enfatiza.
Questionado sobre as eventuais semelhanças ou diferenças entre a tradição terceirense e a micaelense, garante que “é igual”.
“Apesar de lá ser quatro vezes maior, é a mesma coisa. Rezamos as mesmas orações e o terço…”
Para trás, ao longo destes cinco dias, ficam “a família, o trabalho e o stresse do dia-a-dia”, salienta.
“Carregamos novas pilhas, para começarmos de novo o ano mais purificados e com o espírito muito bom”, explica, concluindo, sem pestanejar: “Vale a pena”.
Depois da pausa para retemperar energias, os romeiros – dos 13 aos 56 anos de idade – põem-se novamente a caminho. Ao todo, percorrerão mais de 200 quilómetros, numa verdadeira jornada de fé."
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