segunda-feira, 1 de março de 2010

Romaria - Da prisão da vida material à liberdade plena no encontro com Deus


"“O romeiro é um monge que pela Quaresma, troca a clausura do convento pela clausura do ambiente que o rodeia e na qual, consegue contemplar com a alma (os pequenos milagres de Deus) aquilo que os olhos não vêm no dia-a-dia.”
Começo mais um artigo com este pensamento um pouco poético ou talvez algo exacerbado, mas que não deixa de ter algum fundamento aliás, “ «O romeiro (…) dia-a-dia» posso dizer-lhe que não está descaminhado. No primitivo monaquismo houve monges que se dedicavam a peregrinar constantemente, para indicar o seu desprendimento dos lugares deste mundo e se não afeiçoarem a nenhum. Foi um modo de viver para Deus. O importante é fazer a peregrinação por amor de Deus e com Deus no coração. Esse é o elemento essencial das peregrinações cristãs, aceitando com espírito de penitência os incómodos que implica toda a peregrinação verdadeira; esta é algo muito diferente de uma viagem ou visita turística impulsionada pela curiosidade ou ociosidade.”1
Enquanto homens e católicos assumimos a vivência da romaria, não só nos dias da mesma, como também tentamos assumir essa vivência nos restantes dias do “ano quaresmal”. Quando digo tentamos, é porque no mundo em que vivemos, existem imensas tentações para nos afastar de Deus, nos afastar dessa vivência que devia ser permanente.
Como romeiros e particularmente durante a romaria a nossa primordial função é orar. Orar por todos aqueles que nos procuram e pedem orações, mas também e especialmente, por aqueles que se encontram afastados de Deus. Também neste modo peculiar de orar aproximamo-nos um pouco daqueles irmãos (as) que vivem em permanente oração, já que o seu lema se traduz na seguinte afirmação “nós não falamos de Deus aos homens, falamos dos homens a Deus” 2
Quase a terminar deixo-vos a seguinte passagem bíblica (Mt 13,34-34) –
“33Com muitas parábolas como estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. 34Não lhes falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular.”
Com esta passagem pretendo dizer apenas que nestes parcos artigos que fui escrevendo ao longo deste “ano quaresmal” que termina no próximo dia 2 (tendo em conta que no dia 3 começa outro) tentei (recorrendo ao lema comum a qualquer rancho – “o que é da romaria fica na romaria”) aproximar os romeiros e as romarias a todos aqueles e aquelas que, sendo cristãos ou não, olhavam para nós com desdenho, gozo e até algumas palavras menos próprias. Tentei ainda aproximar todos aqueles cristãos que nada ou pouco sabiam dos romeiros e romarias, que ficassem a conhecer uma pequena parte do todo que são os romeiros e romarias, aliás, por muito que escrevesse ou se escreva, nunca se consegue ou conseguir-se-á transmitir a essência da vivência de romeiro e da romaria. Tal como a passagem acima citada, é no rancho e na romaria que se deve e pode aprofundar os conhecimentos. Aqui, nestes modestos artigos, apenas tentei levantar um pouco do véu, sem ferir susceptibilidades.
Termino pedindo a todos os quem leiam este artigo e durante esta romaria que será de 3 a 7 de Março, procurem-nos nos caminhos da ilha e peçam-nos orações. Seja qual for a vossa intenção, rezaremos pela mesma."

1 – Excerto de uma carta de um monge Cartuxo;
2 – Parágrafo de uma outra carta de um monge Cartuxo.
Artigo publicado no Jornal "A União" da passada 6ª feira.

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