"Aceita com gratidão, mas com timidez, a homenagem que um grupo de fiéis lhe prepara a 4 de Março para assinalar os 60 anos de sacerdócio. À “a União” confessa que quis ser “um padre do mundo”, mas desiludiu-se com a geração saída do pós-guerra que apelida de “infantil” e “egocêntrica”. A mesma que diariamente o procura para aconselhamento espiritual.
“Fui criado com a ideia de que um homem só se gaba depois de morto e o sol depois de posto”. Caetano Tomás é, como sempre, peremptório quando fala sobre as coisas da vida, assumindo semelhante postura à homenagem que se avizinha para assinalar os seus 60 anos de sacerdócio, encarada com gratidão, mas com “uma certa timidez”.
“Não parece, mas sou uma pessoa tímida”, refere-nos em conversa mantida na intimidade da casa, em São Pedro, sala de estar onde é solicitado diariamente por pessoas em busca de orientação espiritual.
O próximo dia 4 de Março, data que assinala a passagem de seis décadas da sua ordenação é encarada, revela-nos, “com um pouco de angústia e complexo… de culpa”.
Não se sente totalmente meritório de tal honra, porque encara a efeméride como mais uma etapa da sua vida.
Mas a preparação dos festejos, reconhece, já mexem com a sua rotina. As solicitações ao telefone são uma constante: “sim, tenho recebido muitos telefonemas por causa da homenagem”.
É tempo de recordar, a sua biografia, o seu percurso eclesiástico. O Cónego Caetano Tomás já tem as fotografias preparadas. O resto sabe-o de cor
Ordenado entre 160 académicos
Lembra-se perfeitamente do dia em que foi ordenado em Roma, na Basílica de São João de Latrão – “a maior das igrejas católicas”, enfatiza.
“Nesse dia, ordenaram-se cerca de 160 estudantes eclesiásticos de vários colégios e universidades”, numa altura, explica, em que Roma albergava cerca de 10 mil académicos católicos.
Na sua missa de ordenação, Caetano Tomás contabilizou 30 novos colegas de sacerdócio. “Pessoalmente, foi um acontecimento muito importante”.
Igualmente importante foi o tempo que permaneceu no Vaticano: “foi um tempo maravilhoso. O tempo mais leve da minha vida”, completado entre 1947 a 1954, com a conclusão da licenciatura em Teologia e Filosofia.
“Queria ser um padre do mundo”, conta, recordando que Roma era “muito eclesiástica, com um ambiente muito universal. Havia mais de uma centena de nacionalidades entre os estudantes eclesiásticos”.
Ainda antes de regressar à ilha Terceira em 1954, onde assumiu a longo prazo a docência no Seminário Episcopal de Angra, como professor de Matemática e Física, a sua paixão pela Psicologia fê-lo aprofundar a sua instrução em Itália e em Inglaterra.
Aliás, a docência esteve-lhe na vocação que desenvolveu em várias instituições, caso da então Escola do Magistério Primário e Educadores de Infância de Angra onde leccionou Psicologia e da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo.
Capelão há 52 e CPM há 30 anos
É, há 52 anos, capelão de São Gonçalo, ocupando igual função, há uma década, na Casa de Saúde de São Rafael e no Bairro do Lameirinho.
O Cónego Caetano Tomás é também conhecido por orientar Cursos de Preparação para o Matrimónio (CPM), função que alarga a todas as pessoas que lhe surgem com problemas para partilhar e orientar.
“Já são 30 anos de CPM”, conta, período ao longo do qual não traça um balanço positivo. A falta de segurança e de autoridade são os dois pontos fundamentais em que a sociedade falha. É por isso que fala em “terapia” e em orientação para a “cura de depressões” de quem o procura.
“Existe falta de regras seguras na educação, de homens seguros”, conta.
Mas, o pior, adianta, está na perda do valor “trabalho”: “vivemos numa época lúdica, de brincadeira, e o que faz a realidade válida é o trabalho, a atitude laboral, livre, voluntária, responsável”.
“Hoje em dia, o trabalho é um factor de comércio, e não de gosto humano, não de função”, explica.
O egocentrismo, “causado por uma geração europeia do pós-guerra, marcada pelo bem- estar generalizado, pelas facilidades”, está, aponta com amargura, a “afundar” a Europa.
A raiz do problema, refere, “está na família”: “antes as crianças brincavam aos trabalhos e agora chegam aos 14/16 anos e não fizeram nada, não sabem fazer nada e são uns preguiçosos”.
A infantilização do homem, com a ascensão social e profissional da mulher é outra temática que lhe é cara e que tem moldado as gerações saídas da década de 60.
Todos estes tópicos levaram-no a fazer vários trabalhos sobre Psicologia na rádio e na televisão, realizando diversas acções de formação para docentes e público em geral. Já publicou várias obras, entre as quais: “Entender o Cristianismo” e uma obra com quatro volumes: “Pessoas - Traços e Comportamentos”.
Florentino com percurso
Nascido na ilha das Flores, a 12 de Setembro de 1924, Francisco Caetano Tomás mostra, sentado na poltrona moldada aos seus jeitos, os percursos de vida através de poucas fotografias.
O cumprimento a João Paulo II, aquando da sua passagem pela ilha Terceira em 1991, a cerimónia de lançamento dos seus livros, o encontro com personalidades políticas, os passeios pela sua terra natal, uma fotografia de grupo dos CPM e uma caricatura pela qual guarda um especial carinho, elaborada por um antigo aluno do Seminário estão entre as escolhidas.
Perde mais tempo nas fotografias de família. É o sétimo filho de 14. “Escaparam dez”, diz-nos.
Guarda da família, a referência da rectidão. Hoje, com 85 anos, já tem 36 sobrinhos. Mantém contacto com os irmãos radicados no Canadá, E.U.A, São Miguel e nas Flores. Na ilha Terceira, faz da comunidade a sua família alargada, à qual mantém porta sempre aberta.
O programa de homenagem ao P.e Caetano Tomás contará com uma missa, marcada para as 18H15, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, seguida de um jantar-convívio, às 20H00, no Clube Musical Angrense.
“Fui criado com a ideia de que um homem só se gaba depois de morto e o sol depois de posto”. Caetano Tomás é, como sempre, peremptório quando fala sobre as coisas da vida, assumindo semelhante postura à homenagem que se avizinha para assinalar os seus 60 anos de sacerdócio, encarada com gratidão, mas com “uma certa timidez”.
“Não parece, mas sou uma pessoa tímida”, refere-nos em conversa mantida na intimidade da casa, em São Pedro, sala de estar onde é solicitado diariamente por pessoas em busca de orientação espiritual.
O próximo dia 4 de Março, data que assinala a passagem de seis décadas da sua ordenação é encarada, revela-nos, “com um pouco de angústia e complexo… de culpa”.
Não se sente totalmente meritório de tal honra, porque encara a efeméride como mais uma etapa da sua vida.
Mas a preparação dos festejos, reconhece, já mexem com a sua rotina. As solicitações ao telefone são uma constante: “sim, tenho recebido muitos telefonemas por causa da homenagem”.
É tempo de recordar, a sua biografia, o seu percurso eclesiástico. O Cónego Caetano Tomás já tem as fotografias preparadas. O resto sabe-o de cor
Ordenado entre 160 académicos
Lembra-se perfeitamente do dia em que foi ordenado em Roma, na Basílica de São João de Latrão – “a maior das igrejas católicas”, enfatiza.
“Nesse dia, ordenaram-se cerca de 160 estudantes eclesiásticos de vários colégios e universidades”, numa altura, explica, em que Roma albergava cerca de 10 mil académicos católicos.
Na sua missa de ordenação, Caetano Tomás contabilizou 30 novos colegas de sacerdócio. “Pessoalmente, foi um acontecimento muito importante”.
Igualmente importante foi o tempo que permaneceu no Vaticano: “foi um tempo maravilhoso. O tempo mais leve da minha vida”, completado entre 1947 a 1954, com a conclusão da licenciatura em Teologia e Filosofia.
“Queria ser um padre do mundo”, conta, recordando que Roma era “muito eclesiástica, com um ambiente muito universal. Havia mais de uma centena de nacionalidades entre os estudantes eclesiásticos”.
Ainda antes de regressar à ilha Terceira em 1954, onde assumiu a longo prazo a docência no Seminário Episcopal de Angra, como professor de Matemática e Física, a sua paixão pela Psicologia fê-lo aprofundar a sua instrução em Itália e em Inglaterra.
Aliás, a docência esteve-lhe na vocação que desenvolveu em várias instituições, caso da então Escola do Magistério Primário e Educadores de Infância de Angra onde leccionou Psicologia e da Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo.
Capelão há 52 e CPM há 30 anos
É, há 52 anos, capelão de São Gonçalo, ocupando igual função, há uma década, na Casa de Saúde de São Rafael e no Bairro do Lameirinho.
O Cónego Caetano Tomás é também conhecido por orientar Cursos de Preparação para o Matrimónio (CPM), função que alarga a todas as pessoas que lhe surgem com problemas para partilhar e orientar.
“Já são 30 anos de CPM”, conta, período ao longo do qual não traça um balanço positivo. A falta de segurança e de autoridade são os dois pontos fundamentais em que a sociedade falha. É por isso que fala em “terapia” e em orientação para a “cura de depressões” de quem o procura.
“Existe falta de regras seguras na educação, de homens seguros”, conta.
Mas, o pior, adianta, está na perda do valor “trabalho”: “vivemos numa época lúdica, de brincadeira, e o que faz a realidade válida é o trabalho, a atitude laboral, livre, voluntária, responsável”.
“Hoje em dia, o trabalho é um factor de comércio, e não de gosto humano, não de função”, explica.
O egocentrismo, “causado por uma geração europeia do pós-guerra, marcada pelo bem- estar generalizado, pelas facilidades”, está, aponta com amargura, a “afundar” a Europa.
A raiz do problema, refere, “está na família”: “antes as crianças brincavam aos trabalhos e agora chegam aos 14/16 anos e não fizeram nada, não sabem fazer nada e são uns preguiçosos”.
A infantilização do homem, com a ascensão social e profissional da mulher é outra temática que lhe é cara e que tem moldado as gerações saídas da década de 60.
Todos estes tópicos levaram-no a fazer vários trabalhos sobre Psicologia na rádio e na televisão, realizando diversas acções de formação para docentes e público em geral. Já publicou várias obras, entre as quais: “Entender o Cristianismo” e uma obra com quatro volumes: “Pessoas - Traços e Comportamentos”.
Florentino com percurso
Nascido na ilha das Flores, a 12 de Setembro de 1924, Francisco Caetano Tomás mostra, sentado na poltrona moldada aos seus jeitos, os percursos de vida através de poucas fotografias.
O cumprimento a João Paulo II, aquando da sua passagem pela ilha Terceira em 1991, a cerimónia de lançamento dos seus livros, o encontro com personalidades políticas, os passeios pela sua terra natal, uma fotografia de grupo dos CPM e uma caricatura pela qual guarda um especial carinho, elaborada por um antigo aluno do Seminário estão entre as escolhidas.
Perde mais tempo nas fotografias de família. É o sétimo filho de 14. “Escaparam dez”, diz-nos.
Guarda da família, a referência da rectidão. Hoje, com 85 anos, já tem 36 sobrinhos. Mantém contacto com os irmãos radicados no Canadá, E.U.A, São Miguel e nas Flores. Na ilha Terceira, faz da comunidade a sua família alargada, à qual mantém porta sempre aberta.
O programa de homenagem ao P.e Caetano Tomás contará com uma missa, marcada para as 18H15, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, seguida de um jantar-convívio, às 20H00, no Clube Musical Angrense.
Presentes na cerimónia estarão dois oradores, o Monsenhor José Lima e Álvaro Monjardino"
Artigo publicado no Jornal "A União" de hoje.
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