segunda-feira, 5 de julho de 2010

O romeiro é um homem que contempla-O caminhando

"O romeiro é um homem que caminhando segue as palavras de Cristo “Pega na tua cruz e segue-Me!” e, especialmente nos dias de aparição publica carrega, não só a sua cruz como também aquelas que lhe vão entregando na romaria. Carrega-as, não como um peso excessivo ou um fardo difícil de carregar, mas sim como alguém que segue Cristo, como alguém que abdica de si mesmo em prol dos outros. Mas o romeiro é também um homem contemplativo, seja nas orações, meditações ou nos momentos de descanso físico.
Como é belo e gratificante segui-Lo, através do mistério da paixão, morte e ressurreição traduzido na Via-sacra. Ano após ano, a Via-sacra é sempre a mesma, no entanto, ano após ano nenhuma é igual à anterior. Ano após ano, o caminho é sempre o mesmo, no entanto, ano após ano nunca é o mesmo. Fisicamente, ano após ano vamos envelhecendo, no entanto, espiritualmente, ano após ano vamos amadurecendo o caminhar em direcção á graça de Deus.
Atrevo-me a dizer que nestas ilhas de bruma, no meio do azul que nos rodeia, os romeiros são quase como uma espécie de Cavaleiros Templários de outros tempos. Não naquilo que levou à sua extinção, mas sim naquilo que os aproximou do Criador, como por exemplo, a sua divisa que foi extraída do livro dos Salmos: "Non nobis Domine, non nobis, sed nomine Tuo ad gloriam" (Sl. 115,1) que significa " Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade", onde estão patentes os ensinamos das Sagradas Escrituras sobre a humildade “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará." (Tiago 4:10), entre outras passagens bíblicas. Como é gratificante sentirmos que sem Ele nada somos, que sem o Seu apoio nada conseguimos e que sem Ele inserido nas nossas vidas não passaríamos de meras marionetas ou escravos nas mãos dos prazeres mundanos.
Caminhamos contemplando-O assim como todas as suas obras, mesmo aquelas que apenas a alma se apercebe. Contemplamo-Lo caminhando nas contas do terço e quando rezamos com docilidade, algures (neste mundo ou no outro) acontece um milagre. É nesta docilidade que reside o mistério da ligação do homem com Deus, isto é, não é na quantidade de terços ou rosários que fazem com que o homem esteja mais perto da salvação divina. Não é no recitar ave-marias e pais-nosso como quem quer entrar no livro dos recordes, mas é na sua qualidade, ou seja, nessa docilidade perante Deus. Inúmeras vezes, quanto mais queremos ser humildes perante o Salvador, mais soberbos nos tornam ao ponto de pensarmos que determinada situação aconteceu por causa dos nossos actos ou orações diárias, quando na realidade (e muito possivelmente) bastou o murmúrio da oração por parte de uma criança, mas com sinceridade, docilidade, devoção e muito sentida, para louvar e agradar a Deus.
O romeiro é apenas e tão só um homem que caminha seguindo a Cruz que o precede, lado a lado com a Sagrada Família, contemplando em todos os locais de culto a Sua e Nossa Mãe Maria Santíssima."
Artigo publicado no Jornal "A União" no dia 28 do mês findo.

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