Artigo publicado no Jornal "A União" do passado sábado.
“Nos Altares, que estão da banda do norte, na capitania da Praia, havia um homem, chamado Frutuoso Dias, que não sei se é ainda vivo, o qual, pelas Endoenças, desde a quinta-feira, despois de encerrado o Santíssimo Sacramento, até a sexta-feira, que se desencerrava, até se acabar o oficio do desencerramento, e as ermidas, começando em São Jorge e Danta Bárbora e acabando nos Altares, onde era freiguês, e o mesmo fazia Rodrigo Fernandes e Luis Fernandes, da freguesia das Lagens, pela qual razão é esta ilha mais forte e defensável, pois se pode correr toda ao redor em vinte e quatro horas, além das fortalezas e fortes que disse ter, afora outras que despois se fizeram.”[1]
Esta passagem fabulosa (termo usado por um irmão que aqui também o uso em sinal de grande amizade, para além de se enquadrar) serve de inicio a mais um artigo de opinião, não foi propositada para vincar bairrismos ou “mostrar ao mundo” que afinal na Ilha Terceira já se fizeram romarias há muito tempo, mas sim propositada para “mostrar ao mesmo mundo” que seguir Cristo é intemporal, independentemente do local ou ilha onde resida. Segui-lO, deverá ser um dever de qualquer Cristão porque só seguindo-O, poderemos almejar a vida eterna. Os romeiros seguem-nO durante todos os dias do ano, culminando na visibilidade da Quaresma.
Assim salvo outros manuscritos mais antigos, poderão ter sido estes três homens os primeiros romeiros desta Ilha de Jesus Cristo. Na altura faziam a romaria “apenas” por causa das doenças do corpo, usuais naquele tempo. Ontem como hoje, continuam a fazê-las por causa das doenças, no entanto, hoje (infelizmente) as doenças são em maior número do espírito.
Todos estes parágrafos até agora serviram de introdução ao tema que hoje pretendo aqui apresentar. É certo que há primeira vista o titulo poderá ser um pouco descabido, no entanto, serve que nem uma luva.
Diz-se que os elefantes têm uma excelente memória. Memorizam imensas coisas, ao ponto de saberem (após a sua longa vida), quando é chegada a hora de “partir”, onde se localiza o cemitério dos seus. Assim, põem-se a caminho durante longos dias até chegarem ao destino previsto. Os romeiros também são um pouco assim, isto é, não pensando na “hora de partir”, sabem onde se localiza a fonte da sua devoção e sabem de onde partiram. Sabem que Deus é Tudo e O Todo e também sabem que o descanso divino está na oração profunda e sentida, e nada melhor que orar em comunidade, no caso concreto, em romaria.
Como é belo (ainda que no resto do ano também) em romaria, orar o terço num canto dolente, quase nostálgico e choroso, mas ao mesmo tempo, profundo, sublime e melodioso. Como seria bom que todos os Cristãos se lembrassem de Deus todos os dias das suas vidas, como Ele se lembra de nós todos os segundos da Sua Eternidade. Os romeiros, conscientes desse facto, têm essa tal memória de elefante e não precisam de se lembrar de Quem lhes soprou a vida[2] porque já não são eles que vivem mas é Cristo que vive neles[3].
É também nessa memória de elefante que os romeiros oram por todos, mesmo sem saberem “quem são esses todos”, mas isso pouco ou nada importa. O que realmente importa é orarem, e não querendo dizer que eles são mais do que os demais Cristãos, faz-me lembrar uma passagem que li num livro, muito simples mas ao mesmo tempo cheia de tanta fé e, curiosamente, idêntica aos que os romeiros praticam, principalmente em romaria:
“Conta-se, num romance americano, a história de um famoso pregador que empolgava as multidões: «Diante do seu púlpito, um velhinho seguia fielmente todos os sermões. O pregador estava muito contente com o seu êxito. Um dia, apareceu-lhe um Anjo: “Felicito-te pelas tuas conferências… és excelente” Mas já reparaste num velhinho que vem sempre ouvir-te?” “Sim, já o vi”, respondeu o orador sagrado. Acrescentou o Anjo: “Fica então sabendo que ele vem, não para te ouvir, mas para rezar por ti. É graças às suas orações que os teus sermões fazem tanto bem aos fiéis”» [4]. Como seria bom que todos, sem excepção, rezássemos diariamente pelos outros, mesmo sem os conhecermos, mesmo sem os ouvirmos, mas convictos da nossa memória de elefante. Dentro da minha humildade possível de pecador, como os demais romeiros, “talvez seja” por essa atitude despojada de vanglória pessoal de cada um de nós, que os sermões do nosso irmão contra-mestre, façam tão bem aos fiéis naqueles 5 dias de romaria… “talvez seja!”
[1] Excerto da página 51 do Livro do Doutor Gaspar Frutuoso “ Livro Sexto das Saudades da Terra”. Escrita terminada por volta de 1590.
[2] Génesis 2-7
[3] Gálatas 2-20
[4] François Xavier Nguyen van Thuan – Testigos de Esperanza.
Esta passagem fabulosa (termo usado por um irmão que aqui também o uso em sinal de grande amizade, para além de se enquadrar) serve de inicio a mais um artigo de opinião, não foi propositada para vincar bairrismos ou “mostrar ao mundo” que afinal na Ilha Terceira já se fizeram romarias há muito tempo, mas sim propositada para “mostrar ao mesmo mundo” que seguir Cristo é intemporal, independentemente do local ou ilha onde resida. Segui-lO, deverá ser um dever de qualquer Cristão porque só seguindo-O, poderemos almejar a vida eterna. Os romeiros seguem-nO durante todos os dias do ano, culminando na visibilidade da Quaresma.
Assim salvo outros manuscritos mais antigos, poderão ter sido estes três homens os primeiros romeiros desta Ilha de Jesus Cristo. Na altura faziam a romaria “apenas” por causa das doenças do corpo, usuais naquele tempo. Ontem como hoje, continuam a fazê-las por causa das doenças, no entanto, hoje (infelizmente) as doenças são em maior número do espírito.
Todos estes parágrafos até agora serviram de introdução ao tema que hoje pretendo aqui apresentar. É certo que há primeira vista o titulo poderá ser um pouco descabido, no entanto, serve que nem uma luva.
Diz-se que os elefantes têm uma excelente memória. Memorizam imensas coisas, ao ponto de saberem (após a sua longa vida), quando é chegada a hora de “partir”, onde se localiza o cemitério dos seus. Assim, põem-se a caminho durante longos dias até chegarem ao destino previsto. Os romeiros também são um pouco assim, isto é, não pensando na “hora de partir”, sabem onde se localiza a fonte da sua devoção e sabem de onde partiram. Sabem que Deus é Tudo e O Todo e também sabem que o descanso divino está na oração profunda e sentida, e nada melhor que orar em comunidade, no caso concreto, em romaria.
Como é belo (ainda que no resto do ano também) em romaria, orar o terço num canto dolente, quase nostálgico e choroso, mas ao mesmo tempo, profundo, sublime e melodioso. Como seria bom que todos os Cristãos se lembrassem de Deus todos os dias das suas vidas, como Ele se lembra de nós todos os segundos da Sua Eternidade. Os romeiros, conscientes desse facto, têm essa tal memória de elefante e não precisam de se lembrar de Quem lhes soprou a vida[2] porque já não são eles que vivem mas é Cristo que vive neles[3].
É também nessa memória de elefante que os romeiros oram por todos, mesmo sem saberem “quem são esses todos”, mas isso pouco ou nada importa. O que realmente importa é orarem, e não querendo dizer que eles são mais do que os demais Cristãos, faz-me lembrar uma passagem que li num livro, muito simples mas ao mesmo tempo cheia de tanta fé e, curiosamente, idêntica aos que os romeiros praticam, principalmente em romaria:
“Conta-se, num romance americano, a história de um famoso pregador que empolgava as multidões: «Diante do seu púlpito, um velhinho seguia fielmente todos os sermões. O pregador estava muito contente com o seu êxito. Um dia, apareceu-lhe um Anjo: “Felicito-te pelas tuas conferências… és excelente” Mas já reparaste num velhinho que vem sempre ouvir-te?” “Sim, já o vi”, respondeu o orador sagrado. Acrescentou o Anjo: “Fica então sabendo que ele vem, não para te ouvir, mas para rezar por ti. É graças às suas orações que os teus sermões fazem tanto bem aos fiéis”» [4]. Como seria bom que todos, sem excepção, rezássemos diariamente pelos outros, mesmo sem os conhecermos, mesmo sem os ouvirmos, mas convictos da nossa memória de elefante. Dentro da minha humildade possível de pecador, como os demais romeiros, “talvez seja” por essa atitude despojada de vanglória pessoal de cada um de nós, que os sermões do nosso irmão contra-mestre, façam tão bem aos fiéis naqueles 5 dias de romaria… “talvez seja!”
[1] Excerto da página 51 do Livro do Doutor Gaspar Frutuoso “ Livro Sexto das Saudades da Terra”. Escrita terminada por volta de 1590.
[2] Génesis 2-7
[3] Gálatas 2-20
[4] François Xavier Nguyen van Thuan – Testigos de Esperanza.
Sem comentários:
Enviar um comentário