terça-feira, 26 de abril de 2011

“As romarias são um caminhar na Via Crucis”

" “As romarias são um caminhar na Via Crucis (caminho da cruz) ” – Citação do Reverendíssimo Cónego Gil de Sousa.
Esta curta, clara e concisa citação, caiu como se fosse uma pequena pedra que é lançada à água, formando ondas circulares cada vez maiores ao seu redor, no seio do grupo onde foi proferida.
Confesso que, apesar de tudo o que já foi dito e escrito (pequeníssimas migalhas para explicar uma vivência real), nunca me tinha ocorrido este ponto (entre muitos outros) de vista.
Ruminando (poeticamente falando) esta citação, aos poucos fui sentindo e vislumbrado, que em romaria, na verdade vivemos e sentimos a Via Sacra de Jesus Cristo. Não da maneira que Ele viveu e sentiu mas, à maneira de romeiro, se é que existe uma “maneira de romeiros”, senão vejamos:
1ª Estação (Jesus é condenado à morte) – Quantas vezes, entre terços, meditações e caminhando sempre atrás da cruz, “somos condenados” por irmãos em Cristo, que se cruzam connosco, e muitos destes (quais Pilatos), lavam as mãos à nossa passagem, perante essas “condenações” consentidas com o seu silêncio.
2ª Estação (Jesus carrega com a Cruz) – Como Ele, nestes dias carregamos a nossa e as daqueles que, cruzando connosco, nos pedem auxílio para as suas dores, muitas vezes atrozes. Não é uma cruz de madeira a que carregamos, no entanto, quantas vezes não Lhe pedimos que antes fosse, sem pensarmos na profundidade subjacente à verdadeira Cruz.
3ª Estação (Jesus cai pela primeira vez) – Tantas vezes que nos vem ao pensamento as inúmeras quedas que damos na vida. Jesus caiu porque tomou sobre si todas as nossas doenças, todas as nossas dores e todos os nossos crimes. Nós, pecadores assumidos, também caímos, não uma vez nem a primeira vez, mas sim diariamente com as faltas que cometemos contra Deus.
4ª Estação (Jesus encontra a sua mãe) – Em romaria, inúmeras são as vezes em que nos encontramos com a mãe de Deus e nossa mãe. Nos desabafos em silêncio com ela tidos, vai guardando-os no seu coração, mesmo que eles trespassem a sua alma.
5ª Estação (Simão de Cirene ajuda Jesus a carregar a cruz) – Quando um irmão tem uma bolha, uma ferida, dores ou sofrimento, logo outro acode e auxilia-o, qual Simão, mas aqui, sem ser forçado, sem constrangimento e sem imposição.
6ª Estação (Verónica limpa o rosto de Jesus) – Em cada acto de caridade que façamos, o Salvador imprime a sua imagem nos nossos corações como o fez no lenço de Verónica.
7ª Estação (Jesus cai pela segunda vez) – Jesus cai pela segunda vez sob a Cruz. Cai exausto pelo esforço feito. Cai por vontade do Pai e cai por sua vontade própria, porque "como se cumpririam então as Escrituras?". Também nós caímos exaustos no fim de cada dia da romaria. Caímos por vontade do Pai, para que no fim da romaria, qual Saulo, caíamos definitivamente do cavalo e nos tornemos em Paulo.
8ª Estação (As mulheres de Jerusalém choram por Jesus) – Como é gratificante podermos derramar algumas lágrimas, não por Ele, mas através d`Ele chorarmos como sinal de arrependimento, do verdadeiro arrependimento.
9ª Estação (Jesus cai pela terceira vez) – Pedro também o negou por três vezes, e quanto a nós, não bastam estes dias para Lhe pedir perdão das nossas quedas, fraquezas e negações, mas são o bastante para nos apercebermos qual o nosso papel na sociedade.
10ª Estação (Jesus é despojado de suas vestes) – Como cristãos devemos também nós despojarmos, não das vestes, do amor, da paz ou do essencial. Devemos, isso sim, despojarmos do ódio, da guerra e principalmente do supérfluo. Em romaria levamos apenas o essencial e basta-nos!
11ª Estação (Jesus é pregado na cruz) – Com Ele foram também cruxificados dois ladrões. Um insultava-o dizendo-lhe “Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.” Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam, mas Ele nada praticou de condenável.” E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.” Dois homens como tantos outros, dois homens como todos nós. Durante a caminhada, tantas são as vezes que nos lembramos desta passagem peculiar e em qual dos dois nos enquadramos mais. Que bom seria se fossemos quase sempre o segundo.
12ª Estação (Jesus morre na cruz) – “Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?”, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? (…). “. Quantas vezes nas nossas vidas não dizemos o mesmo? Talvez digamos em demasia, talvez em situações em que Ele afinal nos leva ao colo e talvez faça silêncio propositadamente. Quão belo é o silêncio que experimentamos e experienciamos, nesta caminhada diferente de todas as outras caminhadas conhecidas, na qual Deus nos fala. Não através da brisa que passa ou do vento que se levanta, como “naquele tempo”, mas sim através do barulho ensurdecedor dos pingos grossos de chuva forte que teima em cair indo até ao tutano dos nossos ossos ou das rajadas de vento que passam e quase nos encostam à parede de tão surdos que somos nos dias de hoje, para O ouvirmos.
13ª Estação (O corpo de Jesus é retirado da cruz) – “Já depois de ter expirado fortemente, o centurião que estava à frente dele ao vê-Lo expirar daquela maneira disse: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!” Era tarde para se voltar atrás, no entanto tinha que ser assim, para se cumprir o que estava escrito. Uma romaria também tem que ser “assim”. Penitência, oração e meditação. Olharmos para dentro de nós mesmos, para os nossos podres, para os nossos pecados mais recônditos e pedir-Lhe perdão até à exaustão dos nossos músculos.
14ª Estação (O corpo de Jesus é colocado no sepulcro) – Tal como o Seu corpo é colocado no sepulcro, também o nosso, no fim de mais uma caminhada, estrompado, por vezes marcado e com algumas mazelas, ao chegar ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, repousa, por momentos, no regaço da Sua e nossa mãe Maria Santíssima. Por breves instantes quase que vislumbramos o seu olhar terno, doce e meigo, misturado com um ligeiro sorriso de agradecimento, por mais um ano que O levamos ao mundo que cada vez mais O nega e O tenta esconder do homem como criatura de Deus.

Depois deste “longo” caminhar pelas 14 estações, dou-me conta que as romarias ainda conseguem ir um pouco mais longe. As romarias têm o “dom” de passarem toda a Via Crucis e vivenciarem ainda a 1ª estação da Via Lucis (caminho da luz), a Ressurreição de Cristo, quando um irmão que caminha uma romaria em negação chega ao fim, e entre choros e soluços nos diz:
- Até para o ano irmão!1

Post-scriptum – Na missa vespertina do passado sábado a que assisti, o padre que ali estava a celebrar o Santo Sacrifício da Missa, e no decurso do seu excelente e agradável sermão referiu que, numa determinada igreja (não sei precisar qual) da nossa cidade existia um crucifixo, por detrás do qual tinha um grande e glorioso resplendor, como que nos mostrando que Cristo depois da morte, obteria a redentora e gloriosa vida eterna, tal como todos nós que professamos a nossa fé. Na altura lembrei-me de uma outra igreja, a de São Carlos, na qual, quando as luzes estão ligadas, podemos ver Cristo Ressuscitado, criando por detrás a sombra da cruz onde esteve pregado até à morte. Se na primeira igreja acima citada vemos a esperança da vida eterna, na segunda, vemos a esperança tornada realidade, no entanto, continua presente o mistério da Cruz. !"
1 Lucas 5, 31-32



Artigo publicado no Jornal "A União" da passada 6ª feira.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Romeiros - Expiar os pecados

Passa já mais de uma semana desde que os Romeiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição saíram à rua. Terminada a caminhada de fé, fica, nos homens que se assumem pecadores, a esperança de mudança e rejuvenescimento interior. É que a viagem, mais do que física, é espiritual.


"No lado norte da ilha, o céu pesado pa¬rece cair-nos aos pés. Carregado de uma chuva teimosa e de nevoeiro, o ar da manhã mistura-se ainda com os cânticos compassados e roucos dos romeiros, cuja jornada dura já há um dia. Faltam ainda quatro, porque a vida de romeiro é mesmo assim: faça sol ou faça chuva é preciso caminhar e rezar, de olhos postos no xaile da frente. Encontramo-los na freguesia dos Biscoi¬tos. Ali, à porta da igreja, homens diferentes, de todas as idades e de todas as escolas, unem-se na fé. Dizem-se “irmãos” e é assim que se sentem, como uma família. Agora é hora de rezar e meditar. “Dai-nos licença, Senhora, Rainha Imaculada, para que entremos agora em vossa santa morada”, repetem a cada vez que se preparam para passar a porta de uma das igrejas da ilha. De todas as igrejas e ermidas da ilha, as que lhes recordam que a procura pelo eterno é longa e constante. Os bordões que trazem consigo durante toda a viagem ficam do lado de fora, menos no primeiro dia da caminhada. O regulamento do romeiro, com 52 artigos, é para ser cumprido. Há já cinco anos que é assim. O rancho de Romeiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição juntou-se para fazer renascer uma tradição que há mais de um século estava adormecida na Terceira. Diz-se que a romaria açoriana terá nascido em São Miguel, pela mão dos sacerdotes de Vila Franca do Campo que terão instigado o povo à peregrinação por capelas, igrejas e ermidas, numa altura em que “a primeira capital micaelense” foi abalada por sismos e erupções, em 1522 e 1563. Ainda assim, Gaspar Frutuoso, historiador açoriano do sécu¬lo XVI, dá conta nas suas memórias da existência de romarias na Terceira. Também aqui se juntavam os homens para pedir clemência divina que os livrasse das catástrofes que não podiam controlar, e prova disso são as casas de romeiros que ainda existem na ilha e que vão resistindo à passagem do tempo e dos costumes. Hoje, os pedidos são outros, a procura é outra, mas a verdade é que a missão de um cristão, aqui ou do outro lado do mundo, é seguir o seu criador. De outra maneira não faria sentido. João Nogueira tem quase 63 anos e diz-nos que enquanto puder é isso que vai fazer. “Uma vez romeiro, romeiro para sempre”, assinala, juntamente com Adalberto Couto, de 58 anos. Os dois irmãos romeiros, cansados mas não vencidos, consentem em trocar connosco algumas palavras. Nas mãos carregam o bordão que simboliza o cetro de Jesus. Aos ombros trazem consigo o xaile, a lembrar o seu manto. Ao pescoço está o lenço que recorda a coroa de espinhos usada por Cristo e os terços, que representam Nossa Senhora, mãe dos romeiros, a quem rezam ao longo de toda a caminhada. O rancho que agora acompanhamos é feito de homens crentes que têm fé no poder da experiência que iniciaram to¬dos juntos. “Há qualquer coisa que nos toca o interior”, tenta explicar-nos João Nogueira. Talvez sejam as palavras sá¬bias e verdadeiras do padre Dinis, irmão contra-mestre, que, segundo nos contam, tem o dom de vergar o homem com o coração mais duro. Na romaria, as palavras têm a duração de uma vida. É que a cada caminhada o romeiro dispõe-se a reencontrar-se e reconciliar-se, consigo e com Deus. O diálogo, sobretudo interior e místico, prepara-o para enfrentar o resto do ano. A romaria é, na verdade, o início de tudo. “O que fomos nestes cinco dias mantém-se ao longo dos meses que seguem”, sustenta João Nogueira assinalando que “a viagem interior serve para pensarmos nas nossas vidas, no que poderíamos ter mudado e não mudámos, no que poderíamos ter feito e não fizemos e se estamos ou não preparados pa¬ra fazer melhor depois desta caminhada”. O objetivo é esse, explica-nos, mas isso não quer dizer que o romeiro, o homem que se assume pecador, não erre. Errar é humano. Adalberto Couto é, no rancho de Ro¬meiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, o procurador das almas. É ele quem fecha o cortejo e quem se dirige às pessoas que querem dar as suas orações. Quem pede a oração tem de rezá-la tantas vezes quanto o número de romeiros que há no rancho e mais três pela Sagrada Família. Assim completa-se o ciclo. Cada um tem, pois, o seu papel nesta fa¬mília. O romeiro mais novo, o menino da cruz, abre o rancho. Do lado seguem os guias. O contra-mestre vai ao meio, seguido do lembrador das almas, que a cada cemitério lança a salva por quem lá está. A romaria é uma estrutura orga¬nizada que antes de partir em caminha¬da se junta para fazer a preparação espiritual e material que a jornada requer. Em longas horas de reunião, afinam-se as vozes, conversa-se sobre a experiência, ultimam-se pormenores. Todos têm que saber como se comportar. Há que lembrar, por exemplo, que antes de entrar numa casa é preciso lançar a salva, que o romeiro é o último a servir-se nu¬ma refeição e o último a deitar-se, e que na casa onde se pernoita reza-se o terço, que fica depois ao pescoço de quem ofereceu dormida. Há que saber que o romeiro tem de estar a pé às 4 da manhã, e tem de estar recolhido às 19 horas. É uma rotina diferente e todos têm saudades desses dias quando chegam ao fim. Todos têm vontade de regressar. “Passamos o ano à espera da romaria. Os meses custam mais a passar do que estes cinco dias”, adianta Adalberto Couto. Todos sentem o sacrifício, é claro. “Que não se pense que se vem para aqui fazer turismo. O irmão que vier com essa expectativa vê que estava enganado logo ao segundo dia”, diz-nos João Nogueira, vezes sem conta. É que a romaria são duas viagens: a física e a espiritual. Sinais dos tempos “Ser romeiro é aceitar e assumir perante todos que sou cristão, é dar a cara sem vergonha”, afirma João Nogueira. Di-lo de peito aberto. Ao contrário do que nos pudesse parecer, nem todos compreendem o porquê da caminhada e das vestes que trazem consigo. Ao longo da jornada, há quem lhes aponte o dedo e quem os ridicularize. Talvez seja o resultado de uma sociedade cada vez mais materialista e de gente cada vez mais desli¬gada da fé, acreditam os dois irmãos romeiros. Mas também há quem os acolha de braços abertos. Oferecem-lhe as casas e mesas fartas onde se podem sentar e des¬cansar um pouco. “Lembro-me de um dia, no primeiro ano em que saí na romaria, que comi 14 vezes. Há pessoas que querem dar muito”, adianta João Nogueira. Urge agora, defendem, chamar os mais novos à fé cristã e isso só se fará quando velhos e jovens comungarem da mesma linguagem. “A juventude de hoje não é a juventude do nosso tempo”, sustenta João Nogueira, que diz que a solução poderá estar na palavra se um padre mais novo que lhes saiba chegar ao coração. Adalberto Couto, que durante 27 anos acompanhou o Agrupamento 23 da Praia da Vitória, diz que falta trazer os jovens à rua, arrancá-los a uma vida de computadores e relações virtuais. Ainda assim, o rancho de Romeiros do Santuário de Nossa Senhora da Conceição apostou na construção de um blogue onde dá conta das suas atividade e onde divulga textos e informação sobre as romarias. Quem sabe se não será uma forma mais rápida e eficaz de espalhar a palavra. Nem todos os jovens se escondem atrás de um ecrã, é um facto. O número de romeiros tem aumentado e continua a registar-se a participação de caminhantes novos que contam com o apoio da família. É o caso de Floriberto Borges, de 13 anos, e de Gonçalo Nunes, de 14. Gostaram das histórias que ouviram contar sobre a romaria. Estão a aprender a partilhar com os mais velhos e apreciam sobretudo o convívio que a jornada proporciona. Ainda assim, do alto da sua sabedoria e com algumas dores nos pés, Floriberto explica-nos que a romaria “é caminhar por Nosso Senhor e sentir a dor que Ele sentiu”. Gonçalo, jovem de palavras prudentes, sustenta que se trata de “uma experiência que tem de ser vivida para que se compreenda a sua magnitude”. Não é só nos dias da jornada de fé que estes pequenos romeiros são católicos. Vão à missa e à catequese e não se queixam. Não são como muitos que João Nogueira vê dentro das igrejas, jovens irrequietos e barulhentos. Às vezes é di¬fícil sossegar-lhes os espíritos. “Não sei quem está mais certo”, frisa lembrado que “Deus veio ao mundo pelos pecadores e não pelos justos; não sei se eu que só por ser católico e por ir à igreja dizer ‘senhor’ estou mais certo do que aqueles que estão lá a fazer barulho... Talvez Deus esteja a velar mais por eles”. O certo é que quem se quiser juntar aos romeiros da Terceira é bem vindo. Desde que sejam homens, é claro. Nada contra as romarias femininas, até será uma boa forma de chamar mais gente à fé cristã, mas o estatuto do romeiro não permi¬te misturas. Em São Miguel já existe um grupo de romeiras que se juntam sozinhas na sua jornada. “Não digo que não possam existir, mas têm de ser diferenciadas. É uma forma de haver mais aber-tura”, considera Adalberto Couto. Dizer mais, escrever mais sobre as romarias e sobre o que nelas se sente, é impossível. “Só compreende esta experiência quem a vive”, assinalam os romeiros, dos mais pequenos aos mais velhos, vezes sem conta. E a emoção que trazem na voz faz-nos acreditar que é assim. "


Artigo publicado na revista do Jornal "Diário Insular" datado de ontem.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Caminhada de fé cristã



Meia centena de romeiros está a percorrer a Terceira

"O grupo de romeiros de Nossa Senhora da Conceição vai percorrer os caminhos da Terceira até domingo numa jornada de fé cristã e meditação. Constituído por 48 irmãos, com idades entre os 09 e os 63 anos, o grupo de romeiros de Nossa Senhora da Conceição iniciou, na passada madrugada, mais uma jornada de fé e meditação que vai decorrer a Terceira até ao próximo domingo. Formado há cinco anos, o grupo de romeiros da Conceição integra 35 irmãos da Terceira e 13 da Graciosa. A peregrinação de cinco dias teve início por volta das 05h00 da manhã de hoje, com saída do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, após a celebração de uma missa. A peregrinação será efetuada ao longo da ilha respeitando o sentido dos ponteiros do relógio, terminando a primeira etapa hoje à noite nas Doze Ribeiras, onde os irmãos vão pernoitar. A segunda parte da caminhada em redor da ilha termina na Agualva, a terceira no Porto Martins e a quarta em São Sebastião. O regresso ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição vai acontecer no próximo domingo, estando prevista a celebração de uma eucaristia. O Bispo de Angra, D. António Sousa Braga, vai encontrar-se com romeiros durante a caminhada. Tal com aconteceu o ano passado, um grupo de irmãos da Graciosa está integrado na romaria. De acordo com o mestre do grupo de Romeiros de Nossa Senhora da Conceição, Hélder Ávila, o retiro espiritual de cinco dias "é o momento para cada um dos irmãos meditar e rezar por si e pelos outros". Hélder Ávila assegura ao DI que, apesar da exigência física que as caminhadas representam, "quando chegamos ao fim estamos determinados a repetir a experiência no ano seguinte". Para além de destacar os momentos em que os romeiros rezam, refere também a importância da jornada de fé para reforçar as convicções em relação à fé e o sentimento de partilha e confraternização. Por outro lado, Hélder Ávila expressou a sua satisfação por ser cada vez maior o apoio e incentivo que recebem durante o tempo que andam na estrada. "Temos tido uma ajuda muito grande da parte das pessoas que nos recebem com mesas fartas, que vão para além daquilo que necessitamos", refere."


Artigo publicado no Jornal Diário Insular de 30 do mês findo.

terça-feira, 5 de abril de 2011

1ª vez que o Bispo de Angra e Açores integrou o Rancho de Romeiros

"Trata-se da primeira vez que o responsável pela Igreja açoriana participou nas romarias quaresmais da ilha Terceira. A tradição recuperada levou a que D. António de Sousa Braga não só celebrasse uma eucaristia, como acompanhasse os cerca de 50 romeiros que integraram o rancho do Santuário de Nossa Senhora da Conceição na sua caminhada de fé. Pela primeira vez, D. António de Sousa Braga integrou uma romaria quaresmal da ilha Terceira, recuperada há cinco anos uma tradição perdida nos costumes das populações. O Bispo de Angra não só celebrou eucaristia na Igreja de Santa Luzia, na Praia da Vitória, ao grupo de 54 romeiros do Rancho do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, como caminhou ao lado dos seus elementos. O responsável pelo Santuário da N.ª S.ª da Conceição da Conceição, o pároco Francisco Dolores explicou que “o senhor Bispo celebrou para eles, na sexta-feira, uma missa às 11H30 e depois acompanhou-os, na caminhada, também vestido de romeiro”. Segundo este responsável, trata-se de um reconhecimento “explícito” e “público” desta manifestação por parte da hierarquia eclesiástica açoriana: “é a primeira adesão. É a aceitação por parte das hierarquias”, recordando que o actual e único rancho da Terceira segue os preceitos regulamentares existentes: “a nossa romaria segue os estatutos oficiais das romarias, mas no fundo é uma aceitação explícita e pública da forma como a romaria estava a decorrer”. Além da missa, o Prelado acompanhou os romeiros na sua caminhada de fé e inclusivamente, acrescentou, “merendou” com os caminhantes. Segundo o testemunho dos romeiros, a presença do chefe da Igreja açoriana foi um “privilégio termos tido um Romeiro Grandioso, um Peregrino e um Pastor: Dom António de Sousa Braga Bispo de Angra e Ilhas dos Açores, juntou-se a nós caminhando desde a Igreja de Santa Luzia da Praia da Vitória, passando pela Ermida (Igreja) de Santa Rita e prolongando a sua caminhada pelo infinito da Serra”. Rancho da Terceira junta Graciosa Este ano, além dos 58 romeiros da ilha terceira, juntaram-se outros 13 elementos vindos da ilha graciosa, entre eles o Pároco da Freguesia de Nossa Senhora da Luz. A V Romaria foi dedicada ao tema da “Família” e à mensagem quaresmal do Papa para este período. O P.e Francisco Dolores refere que o crescimento do actual grupo de romeiros e o surgimento de mais ranchos depende de vontade das populações, havendo sempre, disse, lugar a aperfeiçoamentos: “há coisas que podem ser aperfeiçoadas, mas o ritual que existe é o que se mantém há praticamente 300 ano, em São Miguel. Aqui, estávamos há muitos anos sem o fazer. É preciso não esquecer que as romarias da ilha Terceira não eram muito numerosas, eram de grupos mais pequenos e com um estilo diferente”. Ainda assim, recorda: “este Rancho de Romeiros de Nossa Senhora da Conceição segue os mesmos estatutos de São Miguel, saindo normalmente com um número razoável de irmãos, entre as 30 e as 50 pessoas”. O padre alerta para o facto de o presente agrupamento estar “aberto a outras iniciativas, a outras paróquias que queiram iniciar outros ranchos”. Catequese na romaria Além da presença de jovens vindos da Graciosa, os alunos da catequese da Igreja da Conceição também marcaram presença nesta edição: “este ano, houve uma iniciativa do secretariado da catequese de pedir aos romeiros que apoiassem uma pequena romaria, no primeiro domingo da quaresma, a 3 de Março, em que saíram cerca de 80 pessoas, a maior parte dela crianças e jovens e catequese, alguns deles acompanhados pelas mãe e pais”. Uma fase da romaria, explicou, “mais leve, com um programa mais suave”. Porém, este ano, a caminhada, acrescentou, foi “mais difícil devido às condições climáticas: “foi uma romaria difícil porque praticamente os romeiros apanharam tempo muito variável”. Apesar da primeira etapa ter sido “foi razoável, embora debaixo de algum chuvisco e nevoeiro”, a quinta-feira foi particularmente complicada para os caminhantes: “apanharam com toda aquela chuva torrencial”. A este respeito, o padre Dolores contou que as pessoas das Agualva (dia das chuvas torrenciais) “foram compreensivas”, e que enquanto os romeiros descansavam e jantavam “as populações secaram as suas roupas para quando se levantassem às três da manha tivessem o pequeno-almoço e roupa seca para continuarem na caminhada”. Ao todo, disse, foram feitos mais de 170 pedidos de oração. Caminhada de cinco dias A romaria do rancho do Santuário de N.ª Sr.ª da Conceição teve início na passada quarta-feira, dia 30 de Março e prolongou-se até anteontem, domingo, dia 3 de Abril. Tudo começou com a concentração dos irmãos às 3H30 no Santuário de Nossa Senhora da Conceição que, após missa celebrada meia hora depois, rumou, no primeiro dia, até às Doze Ribeiras. No segundo dia percorreu-se toda a ilha rumo à Agualva, no terceiro dia alcançou-se o Porto Martins, na Praia da Vitória, e no quarto São Sebastião. O último de romaria foi feito em direcção ao ponto de partida, à Igreja de Nossa Senhora da Conceição onde os romeiros de despediram da 5ª edição da romaria à noite."