O
vento e o frio fustigam as mãos descobertas e os rostos destapados de cada
irmão romeiro, mas mesmo assim não deixam de O seguir continuamente. O irmão que
vai á frente no meio das alas representando-O com a Cruz junto ao peito, marca
a cadência do passo do rancho juntamente com os irmãos-ala que o ladeiam, e
mesmo que a chuva caia teimosamente e abundantemente, não deixam de ir até à próxima casinha de nossa senhora.
O
rancho sai ainda a noite está bem presente. Algumas estrelas piscam no céu,
quando as nuvens não as tapam, e as luzes dos candeeiros aqui e ali
apontam-lhes o caminho até à próxima casinha.
Este
caminhar durante a noite e madrugada, é semelhante ao trajeto na fé, isto é,
começam na escuridão e ao longo do caminho vai aclarando, como a madrugada vai
despontando. O nascer do sol, mais do que amornar o dia, naqueles minutos
primeiros, aquece as almas e abrasa os corações destes homens que durante
alguns dias prescindem de tudo por Ele.
Como
é fascinante esta vivência simples mas ao mesmo tempo peculiar, despojados de
quase tudo, “vivem apenas do amor
incondicional de Deus e a Deus e a presença dos restantes irmãos.”[1]
Nos
caminhos da ilha, em silêncio, oração e penitência, usando um trajar pobre, “pedimos a graça do Espírito Santo que nos
permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e,
no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6,
10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e
solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e
agentes de misericórdia”[2]
enquanto se mantiverem fieis a Cristo, Seu Filho.
Como
são enriquecedoras as madrugadas em romaria, porque mesmo no silêncio do
caminhar constante, os seus olhos brilham de alegria e “não perdem a confiança, não se dão jamais por vencidos, porque não há
situações que Deus não possa mudar, nem pecado que não possa perdoar”[3].
Termino
estas belas e enriquecedoras madrugadas em romaria, transcrevendo a seguinte
frase do Padre Júlio Rocha:
-
“Enquanto não percebermos esta simples
dimensão vamos sempre dar mais atenção às velas do altar, à riqueza das casulas
ou à pomposidade das cerimónias rituais”[4]
Paulo Roldão
(um irmão romeiro,
como os demais)
[1] http://www.diocesedeangra.pt/noticia_1595
[2] http://www.vatican.va/holy_father/francesco/messages/lent/documents/papa-francesco_20131226_messaggio-quaresima2014_po.html
[3] http://romeirosterceira.blogspot.pt/2013/08/carta-do-santo-padre-ao-rancho.html
[4] http://www.diocesedeangra.pt/noticia_1595
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