quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Justo e os dois pecadores caminham lado a lado na romaria


Artigo publicado no Jornal "A União" de hoje.
Cristo foi crucificado entre dois pecadores. Lemos em Lucas 23:32-43 que os outros dois homens, ambos criminosos, também foram crucificados, um a direita, e o outro a esquerda da cruz de Jesus. Um dos criminosos blasfemou contra Jesus, dizendo-lhe "Se tu é o Cristo, salva-se a si mesmo e a nós". Mas o outro criminoso repreendeu-o dizendo: "Nem tu temes a Deus, estando no mesmo suplício? Nós, estamos na verdade justamente, porque recebemos o que merecem as nossas acções, mas este não fez mal nenhum.” Então disse: "Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino", Ao qual Jesus lhe respondeu: "Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso".
Na minha modesta opinião de leigo, por vezes ponho-me a pensar sobre essa passagem da Bíblia (entre muitas outras) e na sua transposição para as romarias quaresmais. Não que com isto queira dizer que os Romeiros são super-homens e que nas romarias transportam a Cruz do Senhor (O Justo), nada disso. No entanto, cada um de nós para além tomar a sua cruz (Mt 10,38; Mc 8,34; Lc 9-23, - 14,27), também nas orações pedidas toma um pouco da cruz de quem nos pede (pecadores), e estes, ao orarem também por nós (pecadores), tomam um pouco da cruz de cada um de nós. Sem querer fugir ao raciocínio inicial, deparo-me com o facto de nestes dias, as romarias conseguirem por muitas pessoas a orarem uns pelos outros, como irmãos que somos perante Deus, como irmãos que devíamos ser todo o ano.
Voltando ao inicio do parágrafo anterior e partindo do que está preconizado nos Estatutos “O rancho deverá ser formado com os Romeiros em duas alas (…)”, assim os romeiros agem e seguem a Cruz de Cristo que vai à frente dessa forma, como se (por alguns dias) personificassem um pouco esses dois pecadores, ou seja, uns à direita e outros à esquerda da cruz. Dois pecadores que a meu ver, e sem querer parecer mais do que aquilo que sou (apenas um entre os demais), representam mais do que apenas dois pecadores, representam sim, o estado da humanidade perante Deus Nosso Senhor, isto é, um dos pecadores rejeitou-O e o outro aceitou-O.
Nessa transposição (simbolicamente falando), também nós todos estamos representados nesses dois pecadores e como tal, devemos fazer uma escolha, melhor dizendo, temos a obrigação de fazer uma escolha definitiva e não deambular entre a rejeição e a aceitação, conforme dê jeito. A escolha está entre aceitar Jesus e um dia estarmos junto a Ele no paraíso para sempre ou não aceitarmos Jesus e ficarmos condenados a uma separação dele para sempre.
Como Cristãos que somos, antes de tudo o mais, já fizemos a escolha definitiva no baptismo e na sua confirmação. Como Romeiros que tentamos ser na quaresma e nos restantes dias do ano pretendemos, não só reconfirmar essa escolha definitiva, como também ajudar a que outros cristãos reconfirmem, seja através da oração, da participação da Eucaristia Dominical ou outro meio cristão que lhes avive a chama que está lá, dentro de cada um, ainda que possam pensar que não, já que, e como disse um dia o poeta “Amor, é fogo que arde sem se ver (…)”, e que melhor amor que o do Pai Eterno, que arde dentro de nós (seus filhos) sem que por vezes o vejamos ou sintamos.
Afinal Jesus Cristo quando morreu na Cruz tomou como seus os nossos pecados. Morreu para que eles fossem eliminados para todo o sempre e abriu caminho para a graça divina da salvação para que todos aqueles que se arrependem e aceitam o sacrifício de Jesus Cristo, “ressuscitem no 3º dia”.
Apesar da Cruz na maioria das vezes simbolizar o sofrimento de Jesus Cristo (a Via Sacra), também simboliza a salvação universal trazida por Ele a todos nós (a Via Lucis). Deste modo, essa cruz de condenação de Cristo tornou-se também o símbolo da salvação universal. Deste modo a Cruz que seguimos, tem essa duplicidade impregnada, ou seja, a morte (do corpo) mas também a ressurreição (da alma) de todos nós que O seguimos.
Desta forma, agimos e seguimos a Cruz de Cristo em duas alas, para onde quer que Ela nos encaminhe (e encaminha-nos sempre para o Pai), não como adorno ou amuleto, mas sim como sinal de serviço de dar a vida pelos outros, como Cristo deu (Mc 10-42-45, Jo 13,1-17), de orar por todos os pecadores, como Cristo orou (Lc 22-32) e de fazer a vontade de Deus, com Cristo fez (Mt 26,42, Lc 22,42).

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