Sexta-feira
Santa.
Dia em que desde há alguns anos, o rancho é convidado pela Sé de Angra a
transportar o andor de Nossa Senhora da Soledade/ Nossa Senhora das
Dores. Também já a levamos há algum tempo, no dia marcado para a Procissão de
Passos, nas ruas da cidade de Angra do Heroísmo e no final do dia, quando a
noite chega, prenúncio do Sábado do Grande Silêncio. Já faz parte do nosso
calendário, levarmos a Sua e Nossa Mãe ao encontro com o seu filho com
meditações sempre oportunas e de profundidade abismal, seja quem for o orador.
Como movimento mariano que nos leva a Ele sempre, é uma honra e uma graça
carregarmos nos nossos ombros esta imagem, enquanto existirmos e assim
quiserem. Dizemos isto, não porque não queiramos, mas sim porque existem mais
movimentos na igreja que talvez gostassem de ter essa graça, essa dádiva de
levarem a imagem que representa aquela que é a Mãe de todos nós, mas enquanto
formos agraciados com esse convite, será sempre uma honra, coberta com a
humildade própria de um romeiro.
Neste dia e em
termos da Sagrada Escritura, muitas coisas aconteceram e não seria oportuno
transcrever as passagens bíblicas que o narram, já que as iremos ouvir (ou já
as ouvimos) nos meios de comunicação social, sejam através da radio, televisão
ou através das redes sociais, já que a sua celebração, como as demais destes
dias, será realizada à porta fechada. No entanto, e como leigos que somos,
partilhamos uma passagem que poderá ajudar nas nossas vidas. Referimo-nos à
passagem do bom ladrão, a saber:
“Então um dos malfeitores que estavam
pendurados, blasfemava dele, dizendo: Não és tu o Cristo? salva-te a ti mesmo e
a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Nem ao menos temes a
Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça; porque
recebemos o que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal fez. Então disse:
Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. Respondeu-lhe Jesus: Em
verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.»
Lendo
calmamente esta passagem, o que nos ressalta à vista é a palavra paraíso.
O paraíso como meta da nossa esperança em Cristo.
No
Gólgota e na cruz, Jesus não está sozinho. Está no centro e ao seu lado
(direito e esquerdo) estão dois malfeitores, dois réus por assim dizer. Um
confesso, que reconhece ter merecido aquele castigo, a quem damos o nome de bom
ladrão, opondo-se ao outro que diz terem recebido o que mereciam pelos seus
atos.
Nesta
sexta-feira trágica, mas também santa, ali no Calvário realiza-se o que o
profeta Isaías tinha dito “E foi contado entre os malfeitores.” É
precisamente ali, no Calvário que Jesus tem o último encontro com um pecador e
abre-lhe as portas do Seu reino de par em par.
“Lembra-te
de mim, quando entrares no teu Reino!” foi o mais humilde dos pedidos que
Lhe foi feito, por um pobre diabo, que não tinha boas obras para Lhe
apresentar, mas que se entrega a Deus e reconhece-O como tal, mas também como
inocente e bom, ao contrário de si. Aquelas palavras de arrependimento saídas
das entranhas da sua existência, foram o bastante para sensibilizar o coração
de Jesus.
O bom
ladrão leva-nos a pensar na nossa verdadeira condição diante de Deus, isto
é, somos todos seus filhos e que Ele sente compaixão por todos nós e que fica desarmado
todas as vezes que lhe manifestamos a nostalgia do Seu amor.
Todas
as vezes que um homem ao fazer o seu derradeiro exame de consciência da vida e
descobrir que as suas faltas superam demasiadamente as boas obras, não deverá
desanimar, mas entregar-se à misericórdia de Deus e Ele nos salvará, se
abrirmos o nosso coração, como o fez o bom ladrão. Se acreditarmos
nisto, poderemos ter a esperança que um dia partiremos deste mundo de maneira
serena, porque quem conheceu Jesus, nada teme, e talvez possamos
dizer como o Velho Simeão “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz,
segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação.”
Deus
é Pai, e tal como o fez com o bom ladrão, também espera por nós até ao
último instante, o nosso retorno.
Neste dia
especial, rezemos por todos aqueles que foram infetados com este vírus e não tendo
conseguido recuperar, já partiram para o Pai. Que Ele os receba na sua infinita
glória.
Pai Nosso; Avé
Maria.
(Um irmão romeiro, como os
demais)
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