quarta-feira, 3 de março de 2021

1º DIA DE ROMARIA – VISÃO DO IRMÃO MESTRE – SEGUNDO TERÇO

 


Toco a cabrinha, para que os irmãos se juntem para a meditação. Cada um tira o seu guião das meditações, para irem seguindo o raciocínio do irmão Padre e tirarem duvidas quando as tiverem. A esta partilha da meditação também estão presentes as senhoras que se dignaram a abrir as portas, assim como a trazer a imagem. Deus Nosso Senhor as recompense!

 

Após a meditação, descemos os 72 degraus, mais fáceis agora e formamos o rancho na entrada.

Depois desta partilha, balsamo para a alma, vamos em direção à Casa de São Francisco da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, para o almoço.

Desde a I romaria que elas, com muito gosto e devoção a Cristo, que nos abrem as suas portas, não só para orarmos na sua capela como também para o almoço. São poucos os homens que ali entram e nós temos a graça de Deus de nos receberem. Na capela algumas irmãs acompanham-nos nas orações e cânticos.

Findado essa parte saímos, e fora da capela, pousamos a cevadeira e o xaile, ficando apenas com o lenço e os terços. Alguns irmãos, poe ao pescoço das irmãs que ali estão um dos terços que trazem. Elas agradecem.

O irmão Padre profere a oração da partilha da refeição e um a um, vão entrando no refeitório e servindo-se da sopa, pão e segundo. Nas mesas já têm jarros de água e fruta em abundância.

Depois de me servir (sou o último) uma das irmãs diz que quem quiser pode repetir.

Lembro-me do primeiro ano que fui falar com a irmã responsável e lhe ter pedido que para nós bastava uma sopa, pão e água, ao que ela me respondeu:

“– Se fosse Jesus a vir aqui, acha que só lhe íamos dar isso?”

Depois desta resposta, e dai por diante, nunca mais me atrevi a fazer esse pedido, apenas lhe digo o número de irmãos atempadamente.

Findada a refeição, aparelhamo-nos e formamos o rancho na saída da casa. Um ou outro irmão já não se lembra que ofereceu o seu terço e uma ou outra irmã, traz e pergunta de quem é. Entre irmãos que já se conhecem há pelos menos um ano, vêm ao de cima as piadas sem maledicência sobre o esquecimento. Também faz parte da romaria isso.

Fazemos os agradecimentos devidos, pedimos pela sua congregação e pelo aumento de vocações, entre outros pedidos, terminando com o cântico do piedoso irmão Luís Castro.

As irmãs agradecem e acenam em sinal de alegria e nós respondemos “– Até para o ano se Deus quiser!”

Dali seguimos em direção à igreja de São Carlos. Como o caminho não tem muitas casas, opto por pedir para rezarem dois terços por intenções.

Já perto da igreja, lanço a salva para que o rancho recomece a cantar o Avé Maria.

Sabendo que um dos irmãos reside ali, na hora de almoço pedi-lhe que fosse o orador, ao que ele agradeceu e disse que sim, que o faria com muito gosto.

Não sei como serão os outros ranchos, mas se algum dos irmãos reside na paroquia onde vamos passar e entrar na sua igreja, atempadamente pergunto se não quer ser o orador nela. Mesmo que a voz, cântico ou oração não saia como ele esperava, não me preocupo. Nem eu nem o meu contra-mestre, porque sabemos que ele fez o melhor que podia na sua paroquia e isso, temos a certeza que agrada a Deus.

Naquela igreja, ao contrário das demais da ilha, se não me engano, o Cristo ali existente é Ressuscitado e não Crucificado, se bem que com a iluminação ali existente, vemos os dois em simultâneo. O Cristo Ressuscitado “fisicamente” e o Crucificado como uma sombra.

Dali seguimos para a igreja de Nossa Senhora de Belém, na freguesia de Terra-Chã, passando pela ermida de Jesus Maria e José, particular por sinal.

Mais uma vez revejo os tempos e mais uma chamada telefónica necessária.

Chegados à igreja de Nossa Senhora de Belém, entramos, rezamos e cantamos o que o orador previsto escolheu. Vejo lá ao fundo o pároco daquela freguesia e connosco estão algumas pessoas. As que nos abriram as portas e mais algumas que no percurso final nos viram e também quiseram orar connosco. O orador, também ciente disso, também pede por eles e suas famílias.

Saímos cantando até pararmos numa zona descampada entre esta freguesia e a freguesia de São Mateus da Calheta. Ali fazemos mais uma paragem prevista para o que for preciso. Alguns irmãos aproveitam para se esticarem um pouco em cima da calçada. Outros fumam um cigarro. Apesar de ainda ser o primeiro dia, aproveito para falar com os novos sobre a romaria e como estão fisicamente. Aproveito novamente para trocar algumas palavras com o irmão contra-mestre, já que como vai na parte do Avé Maria, nem sempre dá para falar fazendo caminho.

Depois desta pausa merecida a cabrinha toca, para formar rancho. Por vezes acontece neste momento, um ou outro irmão lembrar-se de ir fazer uma necessidade, quando teve algum tempo para isso, mas, faz parte.

Formado o rancho e indo em silêncio rezando os terços que possam estar em atraso, partimos em direção à Ermida de São Francisco das Almas, no lugar do Cantinho, na freguesia de São Mateus da Calheta. Também ali, o orador é um residente no local e como tal é ele que fará as orações, cânticos e pedidos.

A ermida está aberta, como os demais locais até este momento, graças a Deus. Lá dentro duas ou três pessoas acompanham-nos. Estando atrás, faço um gesto de agradecimento a essas pessoas e elas sorriem.

Saindo, continuamos em direção à igreja paroquial da freguesia. Um caminho ainda longo e alguns km nos separam.

Tendo já falado com o irmão Procurador das Almas, sobre os pedidos que fomos recebendo até então, aproveito este caminho para pedir aos irmãos que, naquele trajeto iremos rezar alguns dos pedidos que o rancho recebeu. Muitos pedidos por doenças, outros pelos filhos andarem por caminhos errantes, outros ainda para obterem trabalho. Mas também há pedidos de agradecimentos. Pela cura de alguém, pelos estudos terem corrido bem, por terem arranjado emprego, entre outros.

Dali até há referida igreja, vou rezando e os restantes irmãos acompanhando. Contas atrás de contas, vamos pagando os pedidos que nos foram feitos, alias, para nós não é sacrifício, mas sim o nosso dever e a nossa salvação….rezar!

Na igreja paroquial, mais um irmão que ali reside é o orador. Também ali estão algumas pessoas aguardando por nós, assim como o pároco.

Calmamente e pausadamente o irmão executa os cânticos, as orações e os pedidos.

Olho para o relógio. Sem nos darmos conta já passaram cerca de 10 minutos, 10 belos minutos com Ele.

Depois de o dever ali cumprido, seguimos em direção há igreja velha, para mais uma paragem e a segunda meditação.

Uma igreja antiga, sem culto e virada para o mar. Já não tem teto, mas as suas paredes estão carregadas de histórias dos Cristãos que ali iam rezar, ali iam pagar as suas promessas e ali ocorriam as mesmas cerimónias litúrgicas que ocorrem nas demais igrejas.

Paramos e sentamo-nos nos degraus ainda existentes e gastos.

Os irmãos sem bordão que, entretanto, já foram levar os colchões e sacos cama onde iremos pernoitar, aparecem ali, trazendo água para os irmãos que queiram. Todos nós trazemos duas ou três pequenas garrafas de água deste a primeira hora. Já aqui ou ali foi-nos dito que quem precisasse podia levar água. Há sempre um ou outro que, entretanto, nas paragens bebeu tudo e não se apercebeu desse facto. Se estes irmãos não tivessem aparecido, seguramente que algum irmão tinha para partilhar, como é hábito.

Aproveito para me encostar à parede, tirar as botas e as meias, para arejar um pouco os pés. Vejo que outros irmãos já fizeram o mesmo. O tempo está bom e vem um cheiro agradável a maresia às nossas narinas. Fechando os olhos até parece que estamos noutro sítio que não aquele. Com os pés já mais secos e frescos, viro as meias pelo avesso e volto a calça-las assim como as botas.

Levanto-me e, também eu, vou fazer uma necessidade tal como os demais. Aproveito para falar com alguns irmãos aleatoriamente, ou seja, sem escolher por isto ou aquilo, apenas para falar e saber como está a correr a romaria, se tem dores, entre outras coisas. Falo também novamente com o irmão contra-mestre. Desta feita até foi ele que veio ter comigo.

Olho para o livrinho dos tempos e para o relógio. Está na hora da meditação. Vou ter com o irmão Padre, que, entretanto, estava a confraternizar com alguns dos irmãos que vieram de fora e mais alguns e peço-lhe para fazer a meditação.

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