sábado, 13 de março de 2021

25. Sábado depois do III domingo da Quaresma: Pela Paixão fomos reconciliados com Deus


 Sábado da terceira semana da Quaresma


«Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho.» (Rm 5, 10)

Pela Paixão de Cristo fomos liberados do reato da pena de dois modos:


I. — A Paixão de Cristo é a causa de nossa reconciliação com Deus, de dois

modos.

Primeiro porque remove o pecado pelo qual os homens são constituídos

inimigos de Deus, segundo aquilo da Escritura (Sb 14, 9): Deus igualmente

aborreceu ao ímpio e a sua impiedade. E noutro lugar (Sl 5, 7): Aborreces a

todos os que obram a iniqüidade.

De outro modo, como sacrifício muito aceito de Deus; assim como

perdoamos uma ofensa cometida contra nós quando recebemos um serviço

que nos é prestado. Donde o dizer a Escritura (1 Rs 26, 19): Se o Senhor te

incita contra mim, receba ele o cheiro do sacrifício. Semelhantemente, o ter

Cristo sofrido voluntariamente foi um bem tão grande, que em razão desse

bem descoberto em a natureza humana, Deus se aplacou no tocante a

qualquer ofensa do gênero humano, contanto que o homem se una com a

Paixão de Cristo, segundo a fé e a caridade.

Não se diz que a Paixão de Cristo nos reconciliou com Deus porque de novo

nos começasse a amar, pois está na Escritura (Jr 31, 3): Com amor eterno te

amei. Mas porque a Paixão de Cristo eliminou a causa do ódio, quer por ter

delido o pecado, quer pela compensação de um bem mais aceitável.

IIIa q. XLIX a. 4

II. — Se pensarmos naqueles que O lançaram à morte, a Paixão de Cristo

foi verdadeiramente uma causa de indignação. Mas, a caridade de Cristo

padecendo foi maior que a iniqüidade dos homens. Por isso a Paixão de

Cristo é mais eficaz para reconciliar com Deus todo o gênero humano

que para provocar sua cólera.

O amor de Deus por nós se revela nos seus efeitos. Dizemos que Deus faz

participar de sua bondade aqueles que ama. Ora, a maior e mais completa

participação na sua bondade consiste na visão da sua essência, pela qual

privamos com Ele como amigos, pois a beatitude consiste nesta serenidade.

Assim, pode-se dizer simplesmente que Deus ama a quem admite a esta

visão, quer pelo dom real, quer pelo dom da causa — como ocorre com

aqueles a quem Deus deu o Espírito Santo como penhor desta visão. Pelo

pecado, porém, ao homem foi retirada esta participação na bondade divina,

ou seja, a visão de sua essência; e sob este aspecto, diz-se que o homem

estava privado do amor de Deus. Ora, após Cristo ter satisfeito por nós pela

sua Paixão, e conseguido que fossemos readmitidos à visão de Deus, diz-se

que nos reconciliou com Deus.


2 Dist. 19, q. I, a. 5

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)

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